Sou um homem casado, que é o mesmo que dizer que vejo novelas. Não necessariamente no plural, mas tornou-se já norma lá em casa que no período pós-telejornal a televisão fica entregue a uma qualquer produção ficcional portuguesa ou brasileira, ou ambas. É uma daquelas batalhas que um gajo ainda trava nos primeiros tempos, mas que rapidamente percebe que há batalhas muito mais importantes no horizonte cuja vitória muitas vezes só precisa de um simples "fosga-se [inserir nome da esposa]! Eu deixo-te ver a novela todo o santo dia! Deixa-me lá ver agora este Peru-Uruguai do campeonato de mundo de futebol...feminino!" para ser ganha. São escolhas. De qualquer forma - e é com um pingo de indisfarçada vergonha que o digo - por vezes vejo-me investido no enredo, sempre inverosímil claro, da novela da época (também acontece dar por mim investido nas mamas da Lencastre mas adiante). E sempre que dou por mim a pousar o iPad para dedicar toda a atenção a um qualquer Lourenço Ortigão a fazer de quarentão penso para mim: "Foda-se! Será que isto afinal é bom? Será que afinal este gajo é bom ator? Naaaa... Não pode." Mas não poucas vezes ali fico, com o iPad a chamar por mim desesperado, traído. A esposa olha de esguelha, com um sorriso estampado na cara, como quem diz: "Consegui!", e eu esfrego as mãos de contente com a conquista de mais um crédito para o Áustria-Panamá que começa daí a minutos. Felizmente, por vezes somos brindados com verdadeiras demonstrações do que é representar e, graças a elas, conseguimos voltar a trepar do fosso imundo que é a ficção nacional. Os padrões voltam a subir um bocadinho e a ver a luz do dia e nós ficamos outra vez mais felizes connosco mesmos. "Realmente... aquele Ortigão é mesmo terrível. Nunca te esqueças disso Morales!!!". Vem tudo isto a propósito desta espetacular música que me fez voltar a ver e rever o discurso do Chaplin no The Great Dictator. Estamos a falar de uma cena gravada há mais de 75 anos e que hoje me dá arrepios. Hoje lá em casa vai-se ver cinema do bom. Tá beeeemm.
quinta-feira, 18 de junho de 2015
segunda-feira, 8 de junho de 2015
Apenas para memória futura.
Deixo aqui o texto que, até agora, tinha apenas no meu facebook. Transcrevo-o, para que fique arquivado.
Um queijo a todos.
Um queijo a todos.
"Caro Ladrão (que não tens outro nome),
Fica sabendo que hoje apresentei queixa pelo iPad Mini e pela pulseira que roubaste de minha casa em Agosto, na festa que lá dei para amigos. Podes estar descansado que a queixa apenas é feita porque me convém em termos burocráticos, já que tenho perfeita noção de que cá em baixo não te apanho, pois não sei quem és (a queixa vai contra incertos). Mas torno isto público porque se cá em baixo não te apanho, sei que ao menos na tua consciência, a qual é auditada por Ele mesmo, serás julgado. E condenado. Devo-te lembrar que, para agravar, a festa era no jardim e eu avisei que a casa estava fechada. Ainda assim entraste. Pela cozinha entreaberta. Como os ratos fazem. E as tuas mãos farejaram para além do que a vista via, manipulando manetas de portas fechadas e entrando no quarto dos meus pais, para aí sim, furtares o iPad e a pulseira. Porque há diferença entre levares uma coisa que está à vista e procurares deliberadamente por alguma coisa que possas levar. Tu não tens a sede dos oportunistas, mas a fome dos reles. A tua alma não é corrompível, está corrompida. Como ousas, filho de puta, entrar no quarto dos meus pais? Esse templo onde os Machadinhos são concebidos e onde não és digno do ar que respiras, sequer. És lixo. Mas não julgues ser daqueles sacos pretos bonitinhos com a fitinha amarela para dar o nó e que a empregada deixa na escada para o porteiro recolher. És o lixo que fica quando os rafeiros se fartam de o escavacar. És o que os cães despojam. És fraco, és merdoso, és rasca, frouxo, chocho e coxo. Como diria o Almada, nem cigano és, és meio cigano. És o último a ser escolhido no recreio, és o bairro castanho do monopólio, és vodka rasca com cheiro a amêndoa, és a fava do bolo rei, és feio e esse cheiro não sai. Desejo-te todos os pequenos males e azares que a vida possa reservar para uma pessoa. Quero-te com cieiro, aftas e pé de atleta até ao fim da vida. Quero que te caia um piano em cima e que o coiote te apanhe e leve o seu tempo a escalpar-te. Quero que o empregado se demore a trazer-te a manteiga, que sejas o último na fila das Finanças e o primeiro na fila para a câmara de gás. Quero que todos os sinais fiquem encarnados para ti, que caia chuva quando pões um fato novo, que o elevador se avarie, que não saibas duma meia, que te engasgues quando “ela” te vier falar e que a tua mãe torre a herança no tratamento dos joanetes ao ponto de te deixar não mais do que uma dívida de 10€ no café do Sr. Antunes. Desejo-te não o inferno, mas o purgatório para sempre. Mereces uma eternidade na angústia dos que esperam e não a certeza infeliz dos que reprovaram. Esses, ao menos, podem pensar em redimir-se. Tu nunca vais saber a diferença, meu merdoso. Faz bom proveito disso. E não te esqueças que eu bem sei que entre roubar um iPad (que podes usar) e roubar uma pulseira de senhora (que vais vender), vai um grande salto. És mesmo um ladrão nojento, do mais baixo que existe. Pobre o teu espírito que se deixa levar por uma coisa destas. Porque não é o iPad e a pulseira que me chateiam. Mas o facto de ter tido um réptil em minha casa e, pior, no quarto da minha mãe. O que me custou não foi ficar sem dois objectos, mas antes saber pelo meu pai que a minha mãe mal dormiu nesse dia, angustiada pelo facto de ter tido um servente do mal no sítio que é o mais seu. Isso foi o que me roubaste merdoso. Por isso se quiseres levar mais alguma coisa cá de casa, não entres. Pede, que eu levo-te lá fora ao portão.
Nota: sei que já passou algum tempo, mas se alguém souber quem o fez, cuspam-lhe com os olhos e digam-lhe que, a meu ver claro, este gajo é um merdoso."
Fica sabendo que hoje apresentei queixa pelo iPad Mini e pela pulseira que roubaste de minha casa em Agosto, na festa que lá dei para amigos. Podes estar descansado que a queixa apenas é feita porque me convém em termos burocráticos, já que tenho perfeita noção de que cá em baixo não te apanho, pois não sei quem és (a queixa vai contra incertos). Mas torno isto público porque se cá em baixo não te apanho, sei que ao menos na tua consciência, a qual é auditada por Ele mesmo, serás julgado. E condenado. Devo-te lembrar que, para agravar, a festa era no jardim e eu avisei que a casa estava fechada. Ainda assim entraste. Pela cozinha entreaberta. Como os ratos fazem. E as tuas mãos farejaram para além do que a vista via, manipulando manetas de portas fechadas e entrando no quarto dos meus pais, para aí sim, furtares o iPad e a pulseira. Porque há diferença entre levares uma coisa que está à vista e procurares deliberadamente por alguma coisa que possas levar. Tu não tens a sede dos oportunistas, mas a fome dos reles. A tua alma não é corrompível, está corrompida. Como ousas, filho de puta, entrar no quarto dos meus pais? Esse templo onde os Machadinhos são concebidos e onde não és digno do ar que respiras, sequer. És lixo. Mas não julgues ser daqueles sacos pretos bonitinhos com a fitinha amarela para dar o nó e que a empregada deixa na escada para o porteiro recolher. És o lixo que fica quando os rafeiros se fartam de o escavacar. És o que os cães despojam. És fraco, és merdoso, és rasca, frouxo, chocho e coxo. Como diria o Almada, nem cigano és, és meio cigano. És o último a ser escolhido no recreio, és o bairro castanho do monopólio, és vodka rasca com cheiro a amêndoa, és a fava do bolo rei, és feio e esse cheiro não sai. Desejo-te todos os pequenos males e azares que a vida possa reservar para uma pessoa. Quero-te com cieiro, aftas e pé de atleta até ao fim da vida. Quero que te caia um piano em cima e que o coiote te apanhe e leve o seu tempo a escalpar-te. Quero que o empregado se demore a trazer-te a manteiga, que sejas o último na fila das Finanças e o primeiro na fila para a câmara de gás. Quero que todos os sinais fiquem encarnados para ti, que caia chuva quando pões um fato novo, que o elevador se avarie, que não saibas duma meia, que te engasgues quando “ela” te vier falar e que a tua mãe torre a herança no tratamento dos joanetes ao ponto de te deixar não mais do que uma dívida de 10€ no café do Sr. Antunes. Desejo-te não o inferno, mas o purgatório para sempre. Mereces uma eternidade na angústia dos que esperam e não a certeza infeliz dos que reprovaram. Esses, ao menos, podem pensar em redimir-se. Tu nunca vais saber a diferença, meu merdoso. Faz bom proveito disso. E não te esqueças que eu bem sei que entre roubar um iPad (que podes usar) e roubar uma pulseira de senhora (que vais vender), vai um grande salto. És mesmo um ladrão nojento, do mais baixo que existe. Pobre o teu espírito que se deixa levar por uma coisa destas. Porque não é o iPad e a pulseira que me chateiam. Mas o facto de ter tido um réptil em minha casa e, pior, no quarto da minha mãe. O que me custou não foi ficar sem dois objectos, mas antes saber pelo meu pai que a minha mãe mal dormiu nesse dia, angustiada pelo facto de ter tido um servente do mal no sítio que é o mais seu. Isso foi o que me roubaste merdoso. Por isso se quiseres levar mais alguma coisa cá de casa, não entres. Pede, que eu levo-te lá fora ao portão.
Nota: sei que já passou algum tempo, mas se alguém souber quem o fez, cuspam-lhe com os olhos e digam-lhe que, a meu ver claro, este gajo é um merdoso."
terça-feira, 19 de maio de 2015
Coitadinha
Diz o Correio da Manhã que Cláudia Vieira "deslumbra em Cannes".
E depois vemos as fotografias.
Esta dá-me vontade de rir.
E depois vemos as fotografias.
Esta dá-me vontade de rir.
segunda-feira, 18 de maio de 2015
Keep it simple
Percorrendo o meu facebook, começo a ver
aparecerem algumas fotografias de amigas de biquíni. Peço desculpa, de fato de
banho. Quer dizer, de triquíni. Sinceramente, não faço ideia o que aquilo é. As
miúdas perderam a cabeça. Há tangas gigantes que vão até aos ombros, partes de
cima do biquíni com trinta e sete mil fios para se entrelaçarem uns nos outros
quando o resultado final, não nos esqueçamos, é simplesmente dar um nó naquilo.
Adoro as Cantês, as Fio-Rosa, as Papua e
mais não sei quantas da vida, pelos catálogos que nos dão, mas odeio-as pelo
festival a que nos sujeitam cada vez que vamos à praia.
Onde é que estão os típicos três
triângulos de que tanto gostamos? Uma miúda com um biquíni Cantê é como uma
miúda com demasiada maquilhagem. Às vezes fica bem, mas não se esqueçam, minha
gente, que, no final do dia, nós gostamos é de vocês simples.
segunda-feira, 27 de abril de 2015
No estrangeiro, rebenta a bolha.
Não me admirava se isto fosse entre certas pessoas que conheço.
É bom e nostálgico. Faz-me lembrar as estupidezes que já fizemos nas despedidas de solteiro.
E a atitude da vítima não é mais do que uma reacção normal entre os homens que são amigos: "(...) após ser libertado, o homem recusou apresentar qualquer queixa. Vestiu-se e juntou-se novamente aos amigos para continuar a festejar a despedida de solteiro."
A amizade masculina é estúpida, é filha da puta, é má, é escárnio, é bota-abaixo. Mas é assim. E tem tanta graça.
quarta-feira, 22 de abril de 2015
Sim, snooker.
Está neste momento a decorrer o Campeonato do Mundo de Snooker... Esperem!! Não mudem já de canal que a ideia não é explicar porque é que o Snooker mundial atravessa um período de relativa crise/abundância de talento. Não! A ideia não é essa. Nunca vi um jogo de snooker do princípio ao fim, nem sei bem as regras da coisa para além daquela dança de ir metendo as encarnadas, alternadas com as de cor. A ideia é chamar a atenção, não para a mesa com pano de feltro verde, mas para um dos homens que por estes dias nela se vai roçar. Porque, o fascínio por desporto (se o snooker é um desporto é toda uma nova discussão pela qual não quero entrar) não existe em abstrato. Pelo menos no meu caso. Pessoas haverá que gostam de futebol apenas porque apreciam a beleza estética e geométrica de ver 22 pessoas a correr num rectângulo relvado. Ou que apreciam a beleza de ver uma pedra a deslizar em gelo enquanto diligentes fadas do lar varrem o seu caminho. Há dessas pessoas. Não são no entanto essas as pessoas que são os verdadeiros amantes de desporto. Não são elas que enchem os estádios nem que berram para televisões. Os verdadeiros amantes de desporto são os que encontram na competitividade o motivo para verem esse mesmo desporto. São tanto os que procuram a perfeição e consequente resignação adversária como os que apenas buscam a superação depois da desilusão. Esses, os que vêem o desporto de forma objetiva, fazem-no porque em algum momento da sua vida se apaixonaram por alguém. Há muitos anos atrás o pai de um amigo meu levou-me à velhinha Luz ver um miserável Benfica-Sporting que acabou 0-0. Foi um jogo verdadeiramente merdoso que em condições normais deveria ter-me feito meter o futebol numa gaveta e nunca mais voltar a pôr os pés num estádio. Mas não. Nesse dia, na Luz, eu apaixonei-me por um baixinho que lá andava a lutar contras os outros e contra os seus, chamado João Vieira Pinto. O meu tio vinha na viagem para casa a queixar-se da perda de tempo e dinheiro que aquilo tinha sido e eu vinha no banco de trás a relembrar cada gesto do João Pinto naquele jogo. Algum tempo depois esse mesmo João Pinto desfazia o Sporting no famoso 6-3 e por essa altura já eu estava irremediavelmente agarrado. Agora que penso nisso não sei se foi ele que fez nascer em mim a minha paixão pelo Benfica mas não tenho dúvidas que foi a faísca que acendeu o rastilho. Isto vale para o Benfica, como vale para Jordan no basket, ou, mais recentemente, Mcilroy no golfe ou Brady no futebol americano. Isto tem o seu quê de "la paliciano" mas aquilo que torna os desportos interessantes e, mais que isso, apaixonantes são aqueles que os praticam. Normalmente porque são muito melhores que o resto das pessoas (onde infelizmente nos incluimos) a praticar determinado desporto, mas por vezes nem isso é preciso. Basta a dose certa de carisma e um bom timing e a coisa está feita. Tudo isto para dizer que... o Campeonato do Mundo de Snooker está neste momento a decorrer. Nele está um homem chamado Ronnie O'Sullivan que para os que, como eu, apenas procuram um pretexto para mergulhar num qualquer novo mundo desportivo, tem a combinação perfeita de talento/carisma/loucura para nos deixar agarrados ao que se vai passando em Sheffield por estes dias - um Campeonato do Mundo em Sheffield!!! Já adoro snooker foda-se!! Ronnie O'Sullivan vem daquele molde que produziu talvez o maior número de atletas de eleição. O molde que junta o talento natural aperfeiçoado com incontáveis horas de prática àquela maneira de encarar o mundo "eu contra vocês todos meus filhos da puta" que só uma infância difícil (normalmente marcada por uns porradões valentes de um pai bem regado a álcool) consegue dar. É uma combinação explosiva não só porque produz uma parte importante daqueles que entram na História do Desporto mas porque também produz os maiores trainwrecks da História. O génio vem muitas vezes acompanhado do desequilíbrio emocional (muitas vezes provocado por esse mesmo génio e pela forma como se consegue ou não gerir os seus efeitos) e essa luta interna que os génios vivem sempre que estão sob as luzes da ribalta é talvez das coisas mais viciantes para um amante de desporto. O'Sullivan já provou o seu génio incontáveis vezes e está agora a lutar para ficar na História como o melhor de sempre. É o último estádio de desenvolvimento de um atleta e aquele a que apenas uma ínfima percentagem consegue atingir. Fiquei a conhecer a sua história (E AGORA VEM O VERDADEIRO MOTIVO PORQUE ESCREVI ESTA MERDA TODA) neste fabuloso trabalho da New Yorker e, desde então, que marquei este campeonato do mundo na minha já preenchida agenda de cenas-desportivas-que-quero-ver-se-a-minha-mulher-não-estrebuchar. Provavelmente não verei nenhum jogo, mas o que é facto é que já tenho aberto no computador um separador com o live score da partida do O'Sullivan. Ontem, por exemplo, O'Sullivan jogou descalço. A razão porque jogou descalço interessa pouco para além de que ajuda a provar de que estamos perante alguém diferente. E o desporto, se formos a ver bem, acaba por ser isso mesmo. A busca por aqueles que são diferentes dos outros. Não só os que são melhores mas os que fazem diferente.
terça-feira, 7 de abril de 2015
Petição chumbada
Já passou algum tempo desde que Simba, o leão da Rodésia, emigrado para Idanha-a-Nova, comeu chumbo em quantidade suficiente para não ficar para contar. Gosto de animais, gosto de leões da Rodésia. Tenho um cão e adoro o meu cão. Mas não assinei a petição. E mais, condeno ligeiramente quem o fez. E tenho vários amigos que não se fizeram rogados na hora de emprestar o nome a esta “causa”.
Primeiro, não percebo a utilidade de uma petição neste caso. Relembro que a petição, que está muito mal feita e explicada, refere o seguinte: "Pressionar para: que se faça Justiça; Sensibilizar as entidades competentes; Mobilização Nacional; Apelar à indignação”. Por um lado querem que se faça justiça, mas ou há responsabilidade (seja civil ou criminal) ou não há. Se houver, que se aja, se não houver, não será uma petição que fará o que a lei não pune. Por outro lado não há, verdadeiramente, um caminho definido para atingir os vagos fins a que se propõem. Não há um princípio, um meio e um fim. Mas as pessoas assinam. E fazem-no em barda. Dá-me genuína vontade de rir quando leio “Apelar à indignação”. Basta apelarmos a que as pessoas se indignem, para termos mais de 70 mil macacos a subscrever um papel. Genial.
Ainda assim, o que mais me causa impressão, na facilidade com que milhares de pessoas assinam uma petição, prende-se com o facto de ninguém ter procurado saber o que realmente se passou. Um cão morto à chumbada é razão suficiente para assinar uma petição, mas um cão morto à chumbada não é razão suficiente para as pessoas se perguntarem simplesmente: Porque é que foi um cão morto à chumbada?. As pessoas confundem o resultado com o fundamento. Esta petição não visa acabar com a mania instalada em Portugal de matar cães à chumbada. E não visa porque essa mania não existe. Felizmente, não há cães a provar desnecessariamente chumbo letal todos os dias. Matar cães à chumbada não é um hobby generalizado cujo fundamento, e consequente resultado, se repugnam. Isto não é como as touradas que podem e devem (para quem as quer erradicar – eu, pessoalmente, sou a favor das touradas) ser combatidas, entre outras armas, com petições.
Se este cão foi atingido mortalmente, por alguma razão o foi. É essa razão que cumpre apurar, pois só aí poderemos condenar ou desculpar a acção de quem matou. Essa razão ninguém a quis procurar. A ninguém interessou. É curioso ver que em notícia alguma, incluindo vídeo, se vê o dono a dizer que o cão não fez nada que merecesse a chumbada. Ouve-se o dono dizer que o cão era meigo e bem treinado, mas já não que aquela chumbada em concreto não foi precedida de nenhuma acção do seu cão que pudesse merecer uma chumbada.
Não esquecer que falamos de um leão da Rodésia, raça capaz de comer uma ovelha antes do jantar.
Eu não sei o que se passou. Mas algo se passou.
quinta-feira, 2 de abril de 2015
Michael Sam(ba)
Apenas uma nota para dar um update sobre este post. Quando o escrevi achei mesmo que poderíamos estar perante um momento importante. Afinal não. Michael Sam ocupa hoje os seus domingos a fazer de estrela (repare-se que o estatuto de "estrela" ele não perdeu, mesmo sendo um fracassado naquilo a que se propunha fazer) dançante e não de jogador de futebol americano. E, ao que parece, leva jeito.
segunda-feira, 9 de março de 2015
Drop Dead
Depois das peças icónicas da Sancha ou do tricot vaginal, hoje trago mais um exemplar da série "cenas verdadeiramente inúteis que espantam pela sua espantosa inutilidade". Ao que parece há por aí um movimento iniciado por um "media artist" (não sei o que é), chamado Aram Bartholl, que consiste em assentar pens em tijolo. Sim, este homem de ascendência irrelevante, depois de ler 790 livros de espionagem da década de 80 e ver outras tantas vezes a série The Americans (que recomendo, desde que vista apenas uma vez), lembrou-se de transportar para o século XXI o conceito da Dead Drop - termo utilizado por espiões para apelidar a partilha entre si de material sensível, através de um qualquer esconderijo na rua. A diferença é que, em vez de microfilmes com imagens do programa aeroespacial norte americano, ou gravações clandestinas do telefone de um qualquer governante, aqui partilham-se cenas. Apenas cenas. Aleatórias. Arbitrárias. Estúpidas ou inteligentes, que é que interessa. O que interessa é que se partilha (voltamos à "Ditadura da Partilha" mas não entremos por aí). "E como?", perguntam vosselências, enquanto se coçam de súbita curiosidade. Através de pens que inúteis deste mundo andam a colar nas paredes das suas cidades. Ora vejam este exemplar:
Ao que parece já foram assentes em tijolo 1.500 pens por esse mundo fora e é com incontido orgulho que informo que Portugal ainda só tem uma Dead Drop. Segundo o site, está espetada ali nas redondezas do Palácio de Queluz e aguarda que algum computador lhe abra as pernas, nesta estranha mistura de kinder surpresa com glory hole. O que está na pen do Palácio de Queluz não sei, assim como não sei o que está em qualquer uma das outras. Desconfio que os virus encontram nas Dead Drops locais muito acolhedores para se estar e, por isso (e só por isso) não vos desafio a irem lá espetar o vosso portátil na parede. Mas já agora, se alguém lá for, mijem-lhe para cima fds!
segunda-feira, 2 de março de 2015
Gone 4,5€
Este Domingo dormi. Dormi dez horas na
cama e algumas dez sestas no sofá. Chegada a noite, não dormi. Eram 01:45h e
alugo um filme: “Gone Girl”.
Tinha ouvido falar bem e tem 8.2 no IMDB - o
que é uma nota muito alta, tendo em conta a escala de 1 a 10 e a quantidade de
votos (mais de 330.000).
É um filme que tem tudo para ser bom, pois o argumento é bastante original, mas, no final de contas, não é bom.
Em primeiro lugar, não posso deixar de referir a sublime entrega de Ben Affleck para interpretar este papel, onde teve de retirar toda a rede nervosa do seu corpo, bem como de se submeter a um tratamento cerebral, à base de choques eléctricos, os quais interrompem todas as ligações do cérebro encarregues da manifestação de sensações, de maneira a que nem uma só emoção nos pudesse ser transmitida ao longo das mais de duas horas de filme. Vejamos:
Ben Affleck aparece na primeira cena, no
bar da irmã, desanimado, porque o seu casamento está em crise.
Ben Affleck chega a casa e depara-se com
um cenário de rapto da mulher, o que não lhe muda o semblante.
Dá-se um flashback para o momento em que Ben
Affleck conhece a mulher pela primeira vez. Pela expressão de Ben Affleck, só
podemos concluir que ele viaja no tempo, pois é o mesmo impávido Ben Affleck que
aparece nos idos tempos do ardente início de uma paixão.
Volta-se ao presente, confirma-se o rapto
e Ben Affleck continua a beber chá e a comer biscoitos.
Mais, Ben Affleck apercebe-se que a mulher
o pode estar a tentar incriminar ao simular o seu próprio rapto/homicídio e a
ataraxia mantém-se.
Ben Affleck aside, o que mais me intriga nem é o mesmo
ser viciado em Ritalina, mas sim um punhado de pormenores inverosímeis que tornam
a história, numa fraca história. Para além de uma estranha falta de pânico entre
Ben Affleck, a irmã e os pais da raptada, há uma série de perguntas para as
quais não tenho resposta.
Se o plano de Amy seria suicidar-se para
que, com o surgimento de um cadáver, não houvesse dúvidas de que o marido a
matou, porque não o fez logo? Porque ficou transtornada quando lhe roubaram todo o
dinheiro naquele motel? Porque teve de ligar ao ex-namorado? Se o plano era
matar-se, a falta de dinheiro não me parece um problema. E relativamente ao
namorado, acho frágil a razão pela qual ele alinhou na história de não contar
nada à polícia. Mas enfim, deixo passar essa.
Ela lá volta a casa, e Ben Affleck, a quem a
anestesia geral ainda não passou, sabendo que estava casado com uma psicopata,
aceita enfiar-se no banho com ela. Diz que vai sair de casa, ao que ela
responde que não deixa porque se ele o fizer o destrói em praça pública. E é aqui que tudo desaba irremediavelmente.
Pois claro, é mesmo o que me preocupa quando estou casado com o Chucky, que me tentou incriminar da própria morte, pelo caminho matou uma pessoa e, vim a saber, já tinha destruído a vida a um outro namorado. Claro que, neste caso, a minha maior preocupação é o que a opinião pública vai pensar de mim. Antes dormir na mesma casa que uma tarada maníaca homicida, do que ter o Cláudio Ramos a dar-me nota negativa nos “Assuntos da Semana” da revista Caras.
Pois claro, é mesmo o que me preocupa quando estou casado com o Chucky, que me tentou incriminar da própria morte, pelo caminho matou uma pessoa e, vim a saber, já tinha destruído a vida a um outro namorado. Claro que, neste caso, a minha maior preocupação é o que a opinião pública vai pensar de mim. Antes dormir na mesma casa que uma tarada maníaca homicida, do que ter o Cláudio Ramos a dar-me nota negativa nos “Assuntos da Semana” da revista Caras.
Passadas cinco semanas, ela fica grávida. O
que seria a tal razão verosímil para Ben Affleck não se ir embora, acontece cinco semanas
depois. Nessas cinco semanas, as quais fazem tanto sentido no filme como respeitar o
zigue-zague duma fila de check-in do aeroporto quando somos os únicos no
guichet, a interacção entre o casal é absurda.
Ela acorda de manhã a fazer-lhe panquecas,
ao que ele, simplesmente, aceita. Ela apanha-o, noutra vez, acordado a meio da noite, a olhar
pela porta da rua. Pede para ele ir para a sua cama e oferece-se para lhe
aconchegar os lençóis. Ele acede. Já deitadinho na cama, o pequeno Ben diz que
ainda não se sente à vontade para dormir com a mulher e esboça um esforçado
sorriso. "I need more time!". I need more time? Para quê? Para restabelecer a confiança na mulher que o tentou incriminar, que matou outra pessoa e que destruíu uma terceira? 'O tempo cura tudo' não é uma expressão absoluta, Ben. Há merdas que o tempo não cura. Como por exemplo o Holocausto, a bomba atómica, o engano do Humberto Bernardo e a nossa própria mulher simular o seu rapto/homícido para nos incriminar. Ou disseste aquilo para despachar a patroa porque te deu o sono? Qualquer uma delas não faz sentido.
Vale-nos uma Emily Ratajkowski, que entra
no filme não como actriz, mas como modelo. Serve, também, este filme, para
confirmarmos que Emily Ratajkowski é podre de boa, mas não é bonita.
Nisto, gastei 4,5€. Acho caro. Especialmente
para umas mamas que vejo todos os dias na internet.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
All rise!
Confrontado com algumas queixas de que os homens salpicam o
chão quando fazem o n.º 1, viu-se um tribunal alemão obrigado a pronunciar-se
sobre esta complexa questão. A sentença escreveu que mijar em pé (desculpem mas
não tem outro nome) é um direito que assiste aos homens.
Agora reparem que a notícia diz que há casas de banho na Alemanha onde já é proibido despejar em pé. Mas o que é isto?! Onde é que esta malta quer chegar? Para onde caminhamos?
É isto obra dos movimentos feministas com inveja dos homens que passam pelas inevitavelmente intermináveis filas das mulheres para os WC nas discotecas e noutros eventos? É isso?
Falando sério, eu percebo que se queira, e se deva, pugnar por um paralelismo entre homens e mulheres, mas isto é caminhar para a convergência.
E desculpem-me, mas eu não quero estar cá quando os pontos convergirem.
E desculpem-me, mas eu não quero estar cá quando os pontos convergirem.
A decisão do tribunal alemão é uma má decisão. Errada. 180 graus ao lado. Mijar em pé não é um direito dos homens, é um dever.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
Tiger
Não deve haver uma pessoa no mundo desenvolvido que não conheça o nome Tiger Woods. Mesmo não acompanhando a sua carreira, todos sabemos que é um dos melhores de sempre e que, por onde anda a jogar, arrasta multidões. Além de ser um golfista excepcional tem o indiscutível mérito de ter transformado (nos EUA) um desporto considerado elitista num desporto de massas. É até curioso ver como um certo declínio que o golfe está a viver (são vários os relatórios que apontam para uma descida sustentada do número de participantes a nível global) coincide com o declínio de Tiger, despoletado há meia dúzia de anos com o escândalo de infidelidade (em massa) em que se viu envolvido. Quem, como eu, não acompanhava golfe, nem tão pouco se interessava pelo desporto (no meu caso é sempre uma questão de tempo) sabe quem é Tiger mas não viveu quem é Tiger. É por isso que o vídeo abaixo é impressionante. Porque mostra de forma escandalosamente clara o que foi o fenómeno Tiger. Um pouco de contexto apenas: este vídeo passa-se em 1997. Nele vemos um Tiger de 21 anos, no seu ano de estreia no PGA, em que contava com 3 vitórias em 10 torneios disputados. Não tinha ganho ainda nenhum major (hoje tem 14, menos 4 que o recordista Jack Nicklaus) e já gerava este ambiente por onde passava. No vídeo "só" vemos uma tacada, mas o que se passa à volta dele é assustador. Isto não era golfe. Isto era outra coisa qualquer.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Mlhódómundo
Tu já falaste disto, Xando. Não te quero repetir, sobretudo porque tu disseste praticamente tudo quando escreveste: "Nós, os tugas, não queremos saber. Somos simples. Tanto formamos o maior império do mundo, como nos regozijamos com o recorde mundial de maior feijoada colectiva. Somos assim, sonhadores e ambiciosos, claro, mas sempre terra-a-terra, olhos nos olhos, sinceros de alma." É de facto isto e pouco mais que isto. Mas ontem, a propósito das horas e horas de cobertura da gala da Fifa, vi este vídeo abaixo em que o mlhódómundo confessa ao Messi que o cabrão do Cristianinho tropeçou num vídeo do argentino no computador lá de casa, e agora não pára de falar do anão manhoso. Isto além de ser delicioso, atesta bem o que disseste sobre ele. Terra-a-terra. Olhos nos olhos. Sinceros de alma. É de facto o que somos, e ver que o mlhódómundo, no meio de todo o folclore e de todo "cheio-de-si-mesmismo" que - sejamos sinceros - o caracterizam, consegue mostrar essas características tão tugas, é reconfortante. Bolas de ouro e urros à parte, diria que é isto que nos devia orgulhar verdadeiramente.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
Quitério
José Quitério já era uma instituição. Nos últimos anos habitava as últimas páginas da revista do Expresso, mas há cerca de 40 anos que escrevia para o jornal sobre comida - tenho alguma dificuldade em distinguir "gastronomia" de "culinária", por isso prefiro usar "comida". A tática do anonimato que sempre fez questão de aplicar e os textos excessivamente adjetivados, muitas vezes de adjetivos raros e exóticos, conferiram a Quitério uma aura quase mitológica. Onde o comum dos mortais via um bar com uma varanda para o Tejo, Quitério via um "bar convidativamente ajaezado, prolongado para a comprida varanda sustentada pelos arcos da frontaria, com serventia visual para o Tejo". Já fazia parte da sua escrita. Os seus textos já respiravam por si, e quase deixavam para segundo plano os víveres e respectivas confecções a que diziam respeito. Quitério fazia-nos lê-lo, a ele, mais do que nos suscitava a curiosidade de saber se determinada casa de pasto em Évora estava a respeitar o cabrito no forno. Tratando-se de um crítico de comida, talvez esse não seja o maior elogio que se lhe possa fazer, mas atesta da grandeza de Quitério.
Esta semana, por motivos de saúde que se espera sejam de fácil resolução, Quitério já não escreveu para o Expresso. Fortunato da Câmara ocupa agora o seu - de Quitério - espaço. Em vez da crítica, dá esta semana uma entrevista à revista do Expresso, e nela dá gosto ver como a pessoa José Quitério pouco tem a ver com o crítico Quitério. O seu tipo de escrita faria supor que se trata de alguém sensível, não só a gostos e cheiros, mas a palavras e descrições. Faria supor que se trata de alguém distante, diferente, arrogante, altivo. Não sei porquê, mas era assim que eu via Quitério. É natural esperar que alguém que passa boa parte de 40 nos a criticar (por vezes sem misericórdia) o trabalho de outros desenvolva uma distância e uma arrogância que acabam por ser necessárias ao seu trabalho. É refrescante perceber nesta entrevista que Quitério não é nada disso. Quitério parece ser um gajo impecável e deu-me um gosto especial conhecê-lo. Finalmente.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
Humor (de) negro
Filhos da puta. Por um desenho. Uma merda
de um desenho. Um cartoon. De crítica, de humor, tanto faz. Isto é gravíssimo.
Fiquei profundamente triste. Esquecem-se eles que o humor também existe na
tristeza. Ou existe sobretudo nela. Façamo-lo, ainda que tristes.
Mas é triste. Muito triste. Por um dia, a
borracha da tinta foram balas.
ps: Ainda para mais quando há tanto
humorista, vulgo Nilton, que devia estar à frente da lista para levar um balázio.
pss: Ou o Batatinha.
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