Está neste momento a decorrer o Campeonato do Mundo de Snooker... Esperem!! Não mudem já de canal que a ideia não é explicar porque é que o Snooker mundial atravessa um período de relativa crise/abundância de talento. Não! A ideia não é essa. Nunca vi um jogo de snooker do princípio ao fim, nem sei bem as regras da coisa para além daquela dança de ir metendo as encarnadas, alternadas com as de cor. A ideia é chamar a atenção, não para a mesa com pano de feltro verde, mas para um dos homens que por estes dias nela se vai roçar. Porque, o fascínio por desporto (se o snooker é um desporto é toda uma nova discussão pela qual não quero entrar) não existe em abstrato. Pelo menos no meu caso. Pessoas haverá que gostam de futebol apenas porque apreciam a beleza estética e geométrica de ver 22 pessoas a correr num rectângulo relvado. Ou que apreciam a beleza de ver uma pedra a deslizar em gelo enquanto diligentes fadas do lar varrem o seu caminho. Há dessas pessoas. Não são no entanto essas as pessoas que são os verdadeiros amantes de desporto. Não são elas que enchem os estádios nem que berram para televisões. Os verdadeiros amantes de desporto são os que encontram na competitividade o motivo para verem esse mesmo desporto. São tanto os que procuram a perfeição e consequente resignação adversária como os que apenas buscam a superação depois da desilusão. Esses, os que vêem o desporto de forma objetiva, fazem-no porque em algum momento da sua vida se apaixonaram por alguém. Há muitos anos atrás o pai de um amigo meu levou-me à velhinha Luz ver um miserável Benfica-Sporting que acabou 0-0. Foi um jogo verdadeiramente merdoso que em condições normais deveria ter-me feito meter o futebol numa gaveta e nunca mais voltar a pôr os pés num estádio. Mas não. Nesse dia, na Luz, eu apaixonei-me por um baixinho que lá andava a lutar contras os outros e contra os seus, chamado João Vieira Pinto. O meu tio vinha na viagem para casa a queixar-se da perda de tempo e dinheiro que aquilo tinha sido e eu vinha no banco de trás a relembrar cada gesto do João Pinto naquele jogo. Algum tempo depois esse mesmo João Pinto desfazia o Sporting no famoso 6-3 e por essa altura já eu estava irremediavelmente agarrado. Agora que penso nisso não sei se foi ele que fez nascer em mim a minha paixão pelo Benfica mas não tenho dúvidas que foi a faísca que acendeu o rastilho. Isto vale para o Benfica, como vale para Jordan no basket, ou, mais recentemente, Mcilroy no golfe ou Brady no futebol americano. Isto tem o seu quê de "la paliciano" mas aquilo que torna os desportos interessantes e, mais que isso, apaixonantes são aqueles que os praticam. Normalmente porque são muito melhores que o resto das pessoas (onde infelizmente nos incluimos) a praticar determinado desporto, mas por vezes nem isso é preciso. Basta a dose certa de carisma e um bom timing e a coisa está feita. Tudo isto para dizer que... o Campeonato do Mundo de Snooker está neste momento a decorrer. Nele está um homem chamado Ronnie O'Sullivan que para os que, como eu, apenas procuram um pretexto para mergulhar num qualquer novo mundo desportivo, tem a combinação perfeita de talento/carisma/loucura para nos deixar agarrados ao que se vai passando em Sheffield por estes dias - um Campeonato do Mundo em Sheffield!!! Já adoro snooker foda-se!! Ronnie O'Sullivan vem daquele molde que produziu talvez o maior número de atletas de eleição. O molde que junta o talento natural aperfeiçoado com incontáveis horas de prática àquela maneira de encarar o mundo "eu contra vocês todos meus filhos da puta" que só uma infância difícil (normalmente marcada por uns porradões valentes de um pai bem regado a álcool) consegue dar. É uma combinação explosiva não só porque produz uma parte importante daqueles que entram na História do Desporto mas porque também produz os maiores trainwrecks da História. O génio vem muitas vezes acompanhado do desequilíbrio emocional (muitas vezes provocado por esse mesmo génio e pela forma como se consegue ou não gerir os seus efeitos) e essa luta interna que os génios vivem sempre que estão sob as luzes da ribalta é talvez das coisas mais viciantes para um amante de desporto. O'Sullivan já provou o seu génio incontáveis vezes e está agora a lutar para ficar na História como o melhor de sempre. É o último estádio de desenvolvimento de um atleta e aquele a que apenas uma ínfima percentagem consegue atingir. Fiquei a conhecer a sua história (E AGORA VEM O VERDADEIRO MOTIVO PORQUE ESCREVI ESTA MERDA TODA) neste fabuloso trabalho da New Yorker e, desde então, que marquei este campeonato do mundo na minha já preenchida agenda de cenas-desportivas-que-quero-ver-se-a-minha-mulher-não-estrebuchar. Provavelmente não verei nenhum jogo, mas o que é facto é que já tenho aberto no computador um separador com o live score da partida do O'Sullivan. Ontem, por exemplo, O'Sullivan jogou descalço. A razão porque jogou descalço interessa pouco para além de que ajuda a provar de que estamos perante alguém diferente. E o desporto, se formos a ver bem, acaba por ser isso mesmo. A busca por aqueles que são diferentes dos outros. Não só os que são melhores mas os que fazem diferente.
3 comentários:
"Porque, o fascínio por desporto (se o snooker é um desporto é toda uma nova discussão pela qual não quero entrar) não existe em abstrato. Pelo menos no meu caso. Pessoas haverá que gostam de futebol apenas porque apreciam a beleza estética e geométrica de ver 22 pessoas a correr num rectângulo relvado. Ou que apreciam a beleza de ver uma pedra a deslizar em gelo enquanto diligentes fadas do lar varrem o seu caminho. Há dessas pessoas. Não são no entanto essas as pessoas que são os verdadeiros amantes de desporto. Não são elas que enchem os estádios nem que berram para televisões. Os verdadeiros amantes de desporto são os que encontram na competitividade o motivo para verem esse mesmo desporto."
Então e isto Morales?
http://ovelogue.blogspot.pt/2014/02/freestyle-canoeing.html
lol
Isso segue sendo das melhores coisas que o youtube já me deu. Mas tem pouco a ver com desporto.
Porque é que tem pouco a ver com desporto?
Não é competitivo?
O velhote gondoleiro, que trabalhou uma vida inteira para ficar em primeiro e ganhar aquele vale Odisseias, que te ouça dizer isso.
Besides, qualquer manobra, desportiva ou não, feita ao som de Chris de Burgh é digna de registo. E de aplauso.
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