quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Treehouse



Foram meses a fio. Meses. Feitos de dias e dias em que, em cada um, o pedido se repetia. E repetia.
Durante dias e dias, a frase, cada vez mais choramingada e arrastada, surgia assim que António punha um pé dentro de casa.
- Paizinho, quando é que nos constróis a casa na árvore?
Chegou a um ponto em que António já punha a chave à porta a cantar para si mesmo em voz de falsete. “Paizinho, quando é que nos constróis a casa na árvore?”. Impressionava-o a persistência. Aborrecia-o a insistência. Não gostava de dizer que não à menina dos seus olhos. A sua querida Beatriz.
Sentada no soalho de madeira do hall de entrada, de pernas cruzadas e a “Bi” debaixo do braço, a única filha de António esperava-o pacientemente. Diariamente. Com uma pergunta – sempre a mesma – na ponta da língua:
 - Paizinho, quando é que nos constróis a casa na árvore?
António não lhe dizia que não. Não gostava de dizer que não à sua querida Beatriz. Em vez disso, adiava a empreitada (para “quando estiver mais calor”), na esperança de que a ideia da casa na árvore - que em nada o agradava - lhe fugisse do pensamento, como o fizeram as ideias do pónei ou da casa de bonecas de três andares. Não fugiu.

- Pai, hoje está calor. É hoje que nos constróis a casa na árvore? Eu e a Bi já estamos à espera há muito tempo. E tu prometeste-nos!!
António não gostava de dizer que não à sua querida Beatriz...

O leve encolher de ombros da pequena Beatriz sempre que o pai dava uma martelada lá no alto do velho carvalho, não apagava o brilho nos seus olhos. Ora sentada no relvado, ora a andar em círculos à volta da árvore, Beatriz só tinha olhos para o seu pai e para a casa que, lentamente, ganhava forma. Até a "Bi", oferecida pelos pais no Natal e, desde então encaixada, noite e dia, entre o braço e as costelas de Beatriz, tinha sido temporariamente abandonada no relvado enquanto a dona inspeccionava as obras.
- Falta muito? E a escada? Quando é que montas a escada?

António não gostava da ideia. Desde que trepou pelo carvalho acima que sentia um vazio no peito para o qual não encontrava explicação. Afinal, estava a fazer aquilo que lhe dava mais prazer: uma vontade da sua querida Beatriz. Mas aquela sensação não o abandonou.
Estranhou. Mas prosseguiu.

...

Poucos meses passaram e, da escada, restam apenas bocados de madeira pregados ao tronco da árvore. Os degraus de madeira que antes formavam a escada para a casa de sonho da Beatriz, estão agora partidos em mil pedaços, espalhados pelo relvado. A casa, essa, continua lá em cima. Nela, apenas uma boneca. Abandonada.

Desde ontem que o vazio que António sentiu no peito tinha desaparecido. Desde ontem que no seu peito ardia uma fogueira de raiva, alimentada pelo pior dos combustíveis. A culpa. Apenas por breves segundos, essa dor que parece queimar por dentro, dá lugar à mais ténue das esperanças. Enquanto pousa uma margarida no pequeno retângulo de terra fresca à sua frente, António fecha os olhos e anseia pela chegada a casa. Quer acreditar que, quando chegar, a sua querida Beatriz estará, sentada, de pernas cruzadas, a olhar para a porta, pronta a perguntar:
- Paizinho, quando é que nos constróis a casa na árvores?
Mas a maldita casa estava construída.
Afinal, não gostava de dizer que não à sua querida Beatriz.

Talvez

“Inha” era uma dúvida em conflito consigo mesma. Fugir rumo ao esclarecimento era algo que muitas outras dúvidas já tinham tentado anteriormente sem qualquer sucesso. Sozinha, naquela solitária, naquela prisão, naquela ilha, Inha só pensava em atravessar aquele rio e chegar ao outro lado da margem onde poderia ser livre pela primeira vez.

Chamavam-lhe Inha devido à sua pequena dimensão. Inha era filha de uma dúvida que nunca se tinha esclarecido e, tal como todas as descendentes de dúvidas por esclarecer, Inha nascera na prisão onde todas as dúvidas do mundo foram condenadas a permanecer para todo o sempre. O mundo era governado por certezas. Umas eram filhas de outras certezas e outras eram dúvidas que acabaram por se esclarecer. O mundo estava, portanto, divido entre as certezas e as dúvidas. Dentro de cada classe havia vários tipos de certezas e de dúvidas. Nas certezas, muitas variações havia, como as constatações ou os factos e nas dúvidas era comum encontrarem-se questões ou enigmas. Todas eram diferentes, mas todas eram certezas ou dúvidas. Como as raças de cães, são muitas e com aspectos muitos diferentes, mas resultam todas no mesmo animal.

Inha fora encarcerada na prisão conhecida ao mundo como o “Cânone”. O Cânone fora construída numa pequena ilha fluvial, nos subúrbios da cidade grande, idealizada pelas certezas para acabarem com as dúvidas no mundo. O objectivo era isolar todas as dúvidas. O mundo tem medo das dúvidas e se não as pode esclarecer, prefere tentar esquecê-las, renegando-as e ostracizando-as nas paredes do esquecimento.

Apesar do seu aspecto frágil, Inha era um osso duro de roer. Pequena e esguia, Inha era também seca e tesa. Os seus pulsos finos escondiam duros punhos prontos a acertar quem lhe aparecesse no caminho. Determinada a procurar o seu esclarecimento, Inha sabia que teria de fazer tudo para sair daquela prisão. Abstraída do que seria o mundo lá fora, fora-lhe dito que o esclarecimento era um processo libertador onde cada dúvida poderia encontrar a sua resposta e, como que por metamorfose, se transformaria em certeza, podendo, finalmente, viver em paz com a sua consciência. Paz na consciência era o bem mais precioso do mundo. Inha só teria de encontrar a sua resposta.

Fora-lhe dito que a melhor maneira de fugir daquela prisão era através da ala das solitárias. Há duas semanas que Inha se encontrava na solitária. Propositadamente, Inha provocara uma violenta discussão na cantina e, como se pode imaginar, uma discussão onde não há respostas só acaba de uma maneira, com força física. Os guardas, ou “Dogmas” como as dúvidas lhes chamavam, interromperam a confusão, encontraram os culpados e remeteram-nos à solitária. Para todas as dúvidas condenadas ao isolamento, isso era um castigo duro, muito duro. Para Inha, tal poderia significar o caminho para a liberdade.

Após duas semanas a escavar, Inha decidira partir nessa noite, quando as luzes se fechassem e fosse feita a última contagem. Teria que entrar pelo buraco que escavara, mas deixar para trás a sua própria silhueta na cama. Enrolou vários lençóis e esforçou-se o máximo que pôde para disfarçar a ausência do seu corpo. Entrou no buraco e rastejou mais de cem metros pelo tubo de ventilação. Quando finalmente vislumbrou a luz da noite sorriu. Podia cheirar a liberdade. Mas sabia que o mais difícil ainda estava para vir. Não era o descampado que teria de percorrer sob o olhar atento dos focos dos guardas, a vedação que teria de saltar ou o arame farpado que teria de evitar que a preocupavam. O rio, aquele grosso fio de água, o derradeiro obstáculo, é que lhe ocupava as preocupações. Quando chegou à beira da água e viu a outra margem não pôde deixar de ponderar, ainda que por um segundo, se não seria melhor voltar para trás e confinar-se àquela que, afinal, sempre fora a sua realidade. Decidiu que não. Embora nunca uma outra dúvida tivesse conseguido atravessar o rio, Inha estava determinada a procurar a sua resposta ou a morrer na tentativa. O rio tinha correntes fortes, troncos, pedras e pontos de interrogação que facilmente poderiam arrastá-la até ao fundo. E Inha não sabia nadar. Nunca tinha precisado. Na verdade, nunca tivera hipótese de o experimentar sequer. O seu plano consistia em agarrar-se à corda que conseguira trazer consigo, atando-a à cintura e a um poste do lado da margem da prisão e dando folga à medida que avançasse. Não sabia nadar mas sabia esbracejar e com um pouco de sorte e muitos goles de água à mistura, podia ser que conseguisse. Atirou-se. Lutou o mais que pôde. Agarrou-se a um tronco, evitou as garras de um ponto de interrogação, avançou mais um pouco e mesmo quando estava quase a chegar à outra margem a corda rompe-se. O percurso torna-se mais difícil, não porque a corda lhe desse alguma vantagem física, mas porque lhe dava o descanso de uma nova tentativa. Inha era neste momento um trapezista sem rede. Ansiosa, dá um passo em falso e a corrente leva-a para não mais a trazer. Inha morre na busca de uma resposta. Como tantas outras dúvidas.

Moral da história:

Não há margem para dúvidas.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Num mundo ideal

Perdi o cartão Multibanco, o que é incómodo, uma vez que vou ter de pagar uns quantos euros por um novo.

Cogito.

Arroto, inadvertidamente e sem qualquer tipo de influência na presente lide.

Volto ao Multibanco.

(lobismos à parte) Se precisamos do pin para usar o cartão, não bastava termos só um pin e nenhum cartão?

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

"Só porque uma pessoa faz madeixas não pode ser guerreira?"


A pergunta é simples. Senão filosofica, pelo menos sintaticamente. A resposta também é, aparentemente, simples. Tentando olhar para a questão de forma tão objetiva quanto a própria nos permite e sem preconceitos (contra as madeixas, senão me engano) diria que a diferença de tons em partes delimitadas de cabelo e a coragem e convicção são condições de uma pessoa que não se excluem mutuamente. Tratando-se a pessoa de um homem, diria que aí o caso já fia mais fino. As madeixas num homem (assim como o hábito de comer scones ao pequeno-almoço btw) podem ter o condão de nos levar a crer que ali não estará um guerreiro. Aliás, o cadastro capilar de um homem deve estar inversamente indexado à sua capacidade de ser um guerreiro. Quanto mais histórias o cabelo de um homem tiver para contar, menos propensão esse homem terá para o confronto físico. Necessariamente. E nem precisamos de recorrer à mitologia de Sansão para o comprovar.

Aqui está apenas um exemplo de como Margarida Rebelo Pinto tem razões de queixa da sociedade portuguesa, por esta não lhe dar o crédito que, "Sei Lá!", ela merece. Aí está a prova de como Rebelo Pinto consegue pensar fora da caixa e levantar questões que nunca foram respondidas. E desenganem-se aqueles que acham que isso se deve ao facto de essas perguntas nunca terem sido perguntadas. A culpa é de quem nunca as perguntou. Não é, concerteza, da Margarida.

Só o pedantismo do povo português pode explicar que numa entrevista em que a Margarida levanta tantas questões novas - na verdadeira acepção da palavra - e se dá a conhecer como nunca antes, a única mensagem que tenha tido verdadeiro eco mediático tenha sido o já famoso "downsizing do lifestyle". É tacanho. É pequeno. E é, "Sei Lá!", injusto!
 
Conselho de amigo: Se um dia estiverem atrasados, muito atrasados, para chegar a algum sítio, mas ainda assim precisarem de tomar o pequeno almoço no café em baixo de casa porque não podem ir a guiar de estômago vazio, nunca peçam um scone.

Ainda que a senhora diga que o aquece ligeiramente, que lhe põe queijo e fiambre e que o barra com manteiga e que vocês peçam um Ucal para acompanhar, ainda assim, nunca peçam um scone.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Hospitalidades

Outro dia fui vítima de um pequeno infortúnio, fiz um corte no sobrolho e precisei de levar uns pontos. Até aqui, tudo bem. Acreditem ou não, o pior de abrir a cabeça não é abrir a cabeça, é ter de fechá-la. Dirigi-me ao hospital mais próximo. Próximo e público. Público e, necessariamente, burocrático e lento. Entro e viro à direita para o guichet. Identifico-me e uma senhora, de voz bovina, manda-me para a Sala de Tratamentos (nome conclusivo num estabelecimento hospitalar, por acaso). Chego à sala e aqui sou tratado como animal por inspeccionar. Limpam-me, vacinam-me - pelo sim, pelo não - e ferram-me a verde de acordo com a Triagem de Manchester. Mandam-me para o Gabinete 7. “É desta!”, penso eu. “Ainda não meu caro!”, pensam eles. Antes, chego à Sala dos Triados. Aqui, meus amigos, se já pensava ter visto o suficiente nos corredores que perfazem o caminho até à vala comum onde agora me encontro, rapidamente me desengano. Um ar pesado, perfumado a suor e a sala carregada de pessoas. Ciganos enfermos, atrasados mentais – não me refiro aos ciganos -, senhoras balanceando sentadas uma ritmada lamúria em tom baixo e grave. Aqui, neste cenário de guerra perdida, é impossível não pensarmos nas coisas insignificantes com que por vezes nos queixamos e deixarmos de nos sentir pequeninos. Enfim, espero quarenta minutos pelo meu nome. Ouvido o doce epíteto, dirijo-me ao Gabinete 7. Penso quem será o médico que me vai coser. Entro e deparo-me com um gajo - não era um homem, atenção, era um gajo - de bata azul aberta, por dentro uma t-shirt médica branca e gasta de gola descaída, deixando à mostra a deslavada penugem da peitaça. Em frente a um computador este indivíduo mascava uma displicente pastilha. Incapaz de accionar o elevador ocular para me receber, o gajo balbucia duas perguntas, no que entendi serem-me dirigidas, visto não haver mais ninguém no Gabinete. Uma delas consistiu num quase inaudível “Tão..?”, coadjuvado por um ligeiro e desprezado levantar de pescoço, naquilo que penso ser uma analogia ao célebre “what’s up” americano. Digo-lhe em poucas palavras o que se passou. Interrompendo-me, pergunta-me também se desmaiei e, sem esperar pela resposta, continua o seu automático pulsar de teclas para depois me enviar para a Pequena Cirurgia. Chegado à quarta etapa deparo-me com uma outra Sala de Triados, diferente da primeira, mas igualmente deprimente. Pessoas, várias, acamadas e arrumadas a um grande canto esperam pela sua vez. Velhos queimados, miúdas espancadas e um GNR, com a cabeça aberta, em sangue, despojado da dignidade que a farda lhe deveria trazer, sozinho e à espera como os outros. Depois de uma longa espera sou atendido. Uma médica engraçada, nova e novata atende-me. Costura-me o sobrolho seguindo as indicações verbais do chefe e acaba o serviço, tal e qual qualquer pessoa chega ao destino orientada pelo GPS. Vou-me finalmente embora. Apesar do que acabara de assistir nas últimas duas horas, não saio deprimido, mas antes estranhamente tranquilo. Ali tive um pedaço de vida vivida. Aquele é o mundo real, um mundo onde a desgraça e a miséria existem e são reais. Quase palpáveis, como o ar daquelas salas de espera. Por vezes, nada como uma chapada de realidade para agradecermos aquilo que temos. Que é muito.

Migas!!!

Porque será que as miúdas, em grupo, têm um desejo incontrolável de tirar fotografias a saltar?

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O lado errado da História

Confissão: dediquei a este brinquedo da Marca mais tempo do que o brio profissional que vou fazendo por ostentar aconselharia. Mais do que de basketball sou, desde que me conheço, um fã de NBA e como qualquer puto que tenha crescido durante o final da década de 80 e década de 90, um fã incondicional de Jordan. São poucos os desportistas que eu me recorde de sentir verdadeiro e sincero privilégio por viver na mesma época que eles e poder ter tido essa felicidade de os ver enquanto eles estavam no activo. À cabeça surgem-me nomes como Lomu, Tyson, Federer, Messi, mas nenhum deles chega perto de me provocar o sentimento de nostalgia que Jordan provoca. Jordan foi provavelmente o maior deles todos pela superioridade que demonstrava, a graciosidade com que se movia, a altura a que voava - claro! - e, acima de tudo, a naturalidade e aparente simplicidade com que fazia aquilo que, por simples impossibilidade física (ou cósmica, como quiserem), estava restrito a qualquer outra pessoa presente no campo.

Mas, voltando ao brinquedo da Marca, a infografia que o jornal espanhol se lembrou - em boa hora! - de fazer foi pegar num fotografia do famoso lançamento com que Jordan ganhou o seu sexto e último anel de campeão, cuspir para um pano do pó e esfregar bem o negativo para puxar pela resolução da imagem (standard procedure para fabricar fotografias de alta resolução). Depois acrescentaram-lhe uma lupa virtual e identificaram alguns dos adeptos dos Bulls e alguns dos Jazz para que se observem as diferentes reacções àquele momento histórico. O resultado é um exercício de voyeurismo tão inútil como recompensador (diz que estes dois se contradizem mas não faz mal) e, no meu caso, de regozijo com algumas das caras que descobri no meio da multidão. E foi quando vi a cara desta antipática velhinha...


...que me surgiu uma inquietação que me tem acompanhado. Será que é fodido uma pessoa perceber que esteve do lado errado da História (desportiva, claro está!) ou, no final do dia, isso não interessa nada? É que a expressão facial desta velha no momento em que Michael Jordan se preparava para pousar a caneta no exacto local onde iria ficar o ponto final da última frase do último capitulo da mais bem sucedida história da NBA é genial. A cabeça inclinada, o sobrolho franzido e os braços violentamente cruzados parecem gritar a Jordan "not in a million years!", no momento em que este lança a bola. O desprezo, o desdém, a convicção com que esta idosa senhora (que nunca mais verá sua equipa ganhar um título, como eloquentemente a Marca faz questão de assinalar, pintando-a de verde) trata este momento é que me deixa a pensar: será que esta senhora foi uma velha peluda e rezingona o resto da vida? Eu quase que apostava que sim.

É que não se trata de ser apoiante da equipa que perde. Não é isso que está em causa. Todos temos as nossas preferências e, por vezes, as nossas preferências são comidas por trás sem aviso prévio pelas preferências de outros. Veja-se o desespero deste outro adepto para se perceber que o que está mal aqui não é ser-se adepto dos Jazz.


O que está mal não são as mãos nas orelhas em sinal de negação autista. Isso é normal e até louvável porque revela, antes de mais, uma capacidade premonitória importante e, depois, respeito e admiração pelo adversário. Além de, obviamente, revelar amor pelo seu clube. O que não é normal é a desconfiança e o desdém com que a velha assiste a este momento que se veio a revelar um dos mais importantes da história do desporto. Neste caso, a diferença entre o azul e o verde é a diferença entre ficar do lado errado desta história e ficar do lado errado da História.

What if...?

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Grandes questões da Humanidade


Uma palavra que a malta que conheço gosta de usar e que não tem o significado que toda a gente pensa é:

REFUNDIDO

"Puto, fui para uma praia bué refundida.". Aqui, o adjectivo 'refundida' é utilizado no sentido de escondida, guardada, desconhecida.

Ora bem, a menos que o significado da palavra 'refundido' tenha sido refundido no dicionário português no último minuto, o termo em causa não comporta nenhum desses sentidos. 

Vejamos.

refundir -
v. tr.
1. Fundir novamente, derreter de novo.
2. Transmudar de um vaso para outro.
3. Refazer; mudar a forma de.

Bom, os menos preocupados com estas grandes questões da humanidade provavelmente verão a sua levada avante, uma vez que existem casos de vocábulos que grassaram o seu caminho até à positivação no léxico português, como o 'bué', que se ostenta hoje, descarada e orgulhosamente, em qualquer dicionário, lado a lado com verdadeiros monstros da língua portuguesa como 'solilóquio', 'ósculo', ou mesmo um bom 'foda-se'.

Um termo como 'bué',  curto, fraco, de sonoridade pacóvia, deveria ter vergonha de aparecer no dicionário,  tal como o miúdo magricelas que tem vergonha de mostrar o tronco nu no balneário em frente aos outros rapazes.

A culpa é nossa, que assistimos impavidamente à marcha dos descarados.


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

By the way

Não consigo deixar de achar estúpida a frase 'Bom apetite', sempre que ma dizem. 

Por essa ordem de ideias, em vez de dizermos 'Bom jogo' ou 'Boa corrida' a quem vai jogar ou correr, deveríamos dizer antes 'Boa vontade de jogar' ou 'Boa vontade de correr'. Ou, para ir mais longe, podíamos mesmo proferir um 'Bom desejo de viver' em vez do tradicional 'Bom dia'.

É estúpido!


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

"Conoce a Paulo Ferreira?"

Um pouco de bola só para desenjoar das agruras da vida sabe sempre bem. Então quando à bola juntamos uma coisa tão rara como um jogador a encadear duas ou três frases com tino e substância, melhor ainda. Dei de caras com esta entrevista de Fernando Torres ao El País e fiquei a gostar dele, apesar de gostar cada vez menos do jogador Fernando Torres. A entrevista tem o mérito adicional de ajudar a compreender o porquê de o jogador Fernando Torres de agora ser diferente do jogador Fernando Torres de há uns anos. Fica um excerto e o respectivo link para quem o excerto tenha cumprido o propósito de aguçar a curiosidade.

"Cuando vas creciendo como jugador y siendo más importante, hay muchas cosas que se te olvidan, las dejas atrás, y él te las recordaba toda la vida. A mí ese es el vestuario que me gusta, el mantener el respeto y el grupo por encima de todo, pero trabajando. ¿Conoce a Paulo Ferreira?
P. Sí, ¿su compañero en el Chelsea?
R. Ha ganado Champions, Ligas en Portugal, en Inglaterra, ha ganado todos los títulos que se pueden ganar, y lleva allí dos años que no juega ni un minuto, y es un diez. Puedes estar acomodado, o puedes estar asumiendo tu papel, y él me enseñó eso, a decir ‘es lo que me toca ahora’. Se entrena como el que más, va a los partidos siempre con una sonrisa, siempre cerca de los jóvenes… me enseñó mucho."

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Um mamão de coisas que não gosto

Tentando não parecer muito “girly”, ou simplesmente ignorando o facto de não o conseguir deixar de  parecer ao apresentar uma rubrica destas, venho deixar-vos 5 coisas que me arreliam - sem estarem, necessariamente, por ordem de importância:

1. Malta a quem dou boleia no carro e que se põe a falar ao telefone.

Uma coisa é atender uma chamada curta. Outra coisa é atender, fazer conversa, pedir para pôr a música mais baixo porque não consegue ouvir o outro lado do telefone (esta mata-me), rir e impedir os outros ocupantes de falarem entre si ou de simplesmente aproveitarem o silêncio reinante no ambiente do carro. Apesar de não ser uma regra básica de educação, como comer de boca fechada, ou agradecer um favor, e de a minha mãe nunca me ter dito expressamente que não devia atender chamadas quando estou no carro dos outros, penso que resulta do bom senso ter cuidado com este pormenor. E isso agradeço à senhora minha mãe. Uma boa educação não deve pretender alertar os petizes para uma lista taxativa de coisas a fazer e a não fazer, mais do que isso deve tentar incutir-se no educando um sentido de bom senso, de maneira a que se adapte a cada situação. Ora, infelizmente, neste caso que falo, muitos são os meus amigos que não se apercebem do desagradável que é fazer uma viagem em que os mesmos vão a falar ao telefone, monopolizando o ambiente. Cheguei ao cúmulo, certa vez, de dar boleia a um puto, no fim do meu treino - com prejuízo do meu tempo de chegada a casa -, e qual não é o meu espanto quando o indivíduo vai ao telefone o tempo inteiro. O tempo inteiro! Já ia contrariado por levar o puto e ainda tive de ir calado e sem som o caminho inteiro. Não percebo. A história é ainda pior, tendo em conta que tomava as rédeas de um Smart.

2. Os pequenos poderes.

Falo dos poderes atribuídos a certos empregos da sociedade, nomeada e mormente, de cariz público-administrativo - mas não só - que são exercidos de forma arrogante e provocadores de alguma revolta. É a mulherzinha das Finanças, o funcionário do Consulado, o porteiro da discoteca, o segurança da cancela, o polícia, etc.

A arrogância que daí provém apenas prova a frequência com que os mesmos são sodomizados. Prevê-se, ou espera-se, que a frequência seja diária.

3. Taxistas

Na verdade é uma relação de amor/ódio. Não posso com eles, mas não passo sem eles. Estes seres altamente desprezíveis alimentam o seu ego com as pequenas vitórias do trânsito. Estes gajos farejam um pisca! Se pressentem que vamos mudar para a faixa deles, põem uma abaixo como se a vida dependesse disso e não nos deixam passar. Tomei-lhes o gosto por lhes fazer o desgosto. Mudo rapidamente, não ponho pisca, entro no jogo deles. Se perco não fico chateado. Se ganho, eles ficam. Dá-me um certo gozo, confesso. Por outro lado, não me custa deixar passar ninguém para a minha faixa.

Do outro lado da moeda, algum taxista blogger, que faça uma rubrica semelhante, há de escrever que uma das coisas que odeia são “Xadões”. O Xadão, quando vai do lado de dentro do táxi, espreme o condutor até que o mesmo não possa mais com ele.

Às vezes o espremer é apenas psicológico.

4. ABBA

Ódio visceral e ligeiramente inexplicável (e exagerado).

Prefiro comer feno o resto da vida a ver uma vez o Mamma Mia.

5. Esperar.

No trânsito. Na bilheteira do cinema. Nas Finanças. No médico, cá em baixo pela namorada, no metro, por uma nota, por receber um presente, por dar um presente, pela comida num restaurante, por uma resposta, por uma pergunta, pela hora, pelo microondas, pelo programa que vai começar, pelo site que não abre, pelo zapping que é lento, para ir à casa de banho, para sair de casa, pela minha cadela que chamo e não vem, pelos números do euro milhões, pelo começo e pelo fim do jogo, por uma oportunidade, por uma mensagem, pelo sono, pelo tempo que não chega nem se anuncia e de repente já lá vai.

Não gosto de esperar.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Bate-boca

Parlamento:

Passos Coelho ataca a bancada do PS. O Secretário-Geral do PS responde dizendo que o PM falhou as metas propostas e mais umas quantas inutilidades. Passos Coelho ri-se. António José Seguro, de forma demagógica, diz-lhe para ele não se rir dos portugueses. Passos Coelho levanta-se para intervir novamente e profere, simplesmente, o seguinte:

Sr. Deputado, eu não me rio da situação a que o país está exposto. Rio-me, evidentemente, da sua intervenção.

E senta-se.

Matem-me, mas eu gosto deste gajo.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

"é apenas uma questão de tempo"

Ponto prévio: não sou daqueles maluquinhos da publicidade que julgam que mudam o curso da história da humanidade com spots publicitários de meia dúzia de segundos e duas dúzias de caracteres, ou vice-versa. Aprecio um bom anúncio de televisão como qualquer um de vocês mas irritam-me solenemente os anúncios que, sob o manto fornecido por uma boa música e algumas imagens icónicas, dizem barbaridades inimagináveis como se de revelações inspiradoras se tratassem.

Vem isto a propósito de um escarro publicitário da Renault que o zapping lá de casa me tem cuspido na tromba diariamente a um ritmo de 3 a 4 vezes por hora. A receita é a tal que todos conhecemos e que - sejamos sinceros - aprendemos a apreciar: uma boa malha - de preferência já com alguns anos, para dar aquele sentimento nostálgico do tipo "eu já ouvi isto! Isto é um grande som!! Quem é que cantará?"; as tais imagens que carregam consigo aquela carga icónica, seja por retratarem momentos marcantes da história, seja por retratarem personagens também elas marcantes. Neste caso eles até foram mais longe - crédito para eles! - e foram bsuscar imagens dessas mesmas personagens antes de elas se tornarem naquilo que agora justifica que apareçam no anúncio. "Bem jogado foda-se!", pensei eu quando vi pela pimeira vez. E é então que chegamos à mesagem. Esse "algodão que nunca engana" em qualquer anúncio de televisão. E nesse momento decisivo deparamo-nos com um insultuoso:

Quando se nasce com certas qualidades
Ser o melhor é apenas uma questão de tempo

Cum caralho! A sério? Era isto??! Se nasceste com capacidades inatas para o que quer que seja, senta-te no sofá e espera?! É uma questão de tempo até seres o melhor?! Digam isso ao Agassi por exemplo que é casado com uma das caras desta idiotice. Ou ao Lance Armstrong, ou ao Mohamed Ali, ou ao Senna, ou ao Einstein, ou ao Cláudio Ramos, ou ao Saramago, ou ao Siza, ou a quem quer que seja.

E pronto. Era isto. Foi a minha versão do "what grinds my gears" do filósofo Griffin.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

"a vida vai melhorá"

Este fim de semana apanhei uma molha de humildade (secalhar não foi tanto humildade como foi de bom-senso, mas vocês decidirão no fim), de tal maneira que, de meia em meia hora, ainda tenho de dar uns saltos com a cabeça de lado para ver se me sai a água dos ouvidos. Passo a explicar: compromissos profissionais obrigaram-me a marcar presença no Terreiro do Paço, num total de 7 horas durante dois dias, para acompanhar uma coisa que por certo já ouviram falar (not!) e que se chama o "Ano do Brasil em Portugal". Básica e erroneamente trata-se de um ano de intercâmbio cultural em que artistas brasileiros vêm a Portugal apresentar o seu "craft". Neste fim de semana assinalava-se o início do dito ano com uma série de concertos de artistas brasileiros e portugueses. Nada de especialmente enfadonho (afinal, são concertos à pala) a não ser o facto de calharem precisamente - e vá-se lá entender porquê! - nos únicos dois dias, de um total de sete, em que eu não trabalho. Puta de azar! No primeiro dia em que não trabalhava até fui com satisfação moderada e aquilo até se passou bem, não obstante o cartaz e o facto de o meu local de trabalho ser localizado a cerca de 30 centímetros daquelas colunas que estão ao lado do palco e que fazem com que, passados 10 minutos estejemos 5 metros mais à frente do que estávamos sem termos dado um único passo. Se por um lado ganhei admiração por um gajo de 71 anos ainda andar ali tão roto como sempre foi, confesso que ainda estou a ouvir o batuque deste gajos que, supostamente, são os maiores lá na terra deles. Fui para casa a sambar e eu gosto tanto de samba como aprecio um pontapé nos tomates. Mas foi no dia seguinte que levei a tal molha de humildade. É que no dia seguinte aquilo desenrolava-se durante a tarde, altura em que a Premier League nos brindava com dois clássicos pejados de polémicas racistas, homenagens a adeptos malogrados, quantidades obscenas de milhões gastos em jogadores e, numa palavra: futebolespectáculo!! Foi, por isso, de braços caídos e cornos no passeio -qual puto amuado a quem tiraram o triciclo - que me dirigi para a Praça do Comércio para ver no mesmo sítio da véspera um concerto onde artistas como Carminho, Zé Ricardo, Paulo Gonzo, Boss AC e Martinho da Vila se iriam revezando na tarefa de promover o tal intercâmbio cultural que se pretendia. Sem entrar em grandes considerações sobre "artistas" como Gonzo (que, ainda assim, se fez acompanhar pela sempre bela Lúcia) ou Boss AC posso dizer que aquelas balelas dos intercâmbios e do "povo-irmão" e afins que sempre nos tentam impingir quando se fala deste tipo de eventos naquele dia não foram balelas. Pela primeira vez senti, de facto essa ligação àqueles zucas todos que compunham aí uns 70% da assistência. E houve um homem reponsável por isso. Chama-se Martinho da Vila e é um homem que eu ouvia durante longas horas quando há uns anos atravessei uma fase em que só ouvia Bossa Nova, nas vozes de senhores como Vinicius de Moraes, Toquinho e, claro Martinho da Vila. Disse este grande senhor do alto dos seus 45 anos de carreira que se há uma coisa que o povo brasilêro pode trazer para Portugal essa coisa é a alegria! E isto pode parecer um clichê mas nesta altura em que ao pequeno almoço comemos crise, ao almoço embochamos troika e ao jantar comemos a Merkel enquanto ouvimos o Gaspar, ouvir aquelas palavras foi inspirador. E digo mesmo mais. Ouvir o Terreiro do Paço todo a acompanhar aquele senhor a cantar "canta canta minha gentxi... que a vida vai melhorá" foi tão apropriado ao momento que chegou a ser comovente. Houve ali uma união perfeita e espontânea de brasileiros e portugueses e, se nas caras dos brasileiros se viam - literalmente - lágrimas de alegria por terem aqui em Portugal um pedaço do seu país, nas caras dos portugueses via-se uma alegria tão genuína como incomum hoje em dia. Naquele momento portugueses e brasileiros eram um só e, escusado será dizer que, entre a melancolia que nos caracteriza e a alegria que os define, foi esta que imperou. Não houve queixas. Não houve choro. Não houve troika. Não houve crise. Nem sequer houve bola. Só alegria. Em português.


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

"You fucking black cunt!"


É a discussão do momento em Inglaterra. O aperto de mão que não aconteceu entre John Terry e Anton Ferdinand (e, já agora, entre este e Ashley Cole que disfarçou de forma brilhante escarrando para o lado um bocado do seu amor próprio). O não-acontecimento - em que JT, de resto, é especialista -, ainda assim, não parece ter despoletado a discussão que se exigia, mas antes uma discussão paralela e completamente aberrante. Repare-se que o que se dicute agora não é se Anton fez bem, ou se Terry é um urso (aqui percebo que já não haja grande coisa a discutir) ou se as manifestações de racismo dentro de campo deveriam ou não ser banidas e como (sobre isto teria muito a dizer mas fica para uma outra altura). Aquilo que se dicute é - pasme-se! - se se devia acabar com este momento de cortesia e desportivismo pré-jogo que é o aperto de mão entre as três equipas que estão envolvidas. "Why are we shaking hands with people we are about to go to battle with?", pergunta Alan Shearer do alto da sua imbecilidade ao mesmo tempo que apresenta provas assustadoramente convincentes de que o excesso de cabeceamentos numa bola pode ter efeitos nefastos a longo prazo no que diz respeito à capacidade de raciocínio. Sem entrar sequer no facto de se chamar a um jogo de futebol uma "batalha" acho que a resposta não é dificil de alcançar. Porque não somos bichos Alan! Pela mesma razão por que tu não podes chegar à redacção do Sun e mijar na secretária do gajo do lado - já chega o que mijas para as páginas do jornal! Porque um jogo de futebol é isso mesmo: um jogo! A não ser quando durante o jogo alguém perde as estribeiras e trata aquilo como se fosse uma batalha. Nesses casos, se o jogador que for visado por uma atitude que ele considere ofensiva optar por daí em diante não dirigir mais a palvra ao agressor é com ele! Não é com a federação inglesa de futebol com certeza! Se Anton Ferdinand levou a peito o "you fucking black cunt!" que JT inocentemente disparou é com ele. Chega-se ao cúmulo de um insulto racista ser a causa para se abolir um gesto de desportivismo como é o aperto de mão antes dos jogos. Sou só eu que vejo a inversão de valores que está presente nesta discussão? Isto é como eliminar o primeiro ciclo de escolaridade porque um dia uma criança no caminho de escola para casa foi violada por um velho. Mas faz algum sentido as crianças irem à escola quando este mundo anda cheio de velhos depravados?

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Uma conversa com António José (in)Seguro


António José Seguro levanta-se, arranja-se, toma o pequeno almoço enquanto lê o jornal e sai de casa. Chegado ao Rato, alguém lhe dá o bom dia e pergunta desinteressadamente o que AJS tomara ao pequeno almoço, ao que este responde: 

AJS - "Comi o que as pessoas costumam comer ao pequeno almoço."
Tipo - "O que as pessoas costumam comer ao pequeno almoço? Como assim?"
AJS - "Sim, um pequeno almoço saudável e que me dará forças para aguentar o resto do dia."
Tipo - "Epah, tá bem, mas o que é que comeste mesmo?"
AJS - "Comida."
Tipo - "Foda-se, mas o quê em concreto?"
AJS - "Sólidos."
Tipo - "Tu queres ver...." 
AJS - "...e líquidos também. Sólidos e líquidos."
Tipo - "Epah, mas que tipo de sólidos Tó Zé? Pão? Comeste pão foi?"
AJS - "Sabes que o pão deveria fazer parte do pequeno almoço de todos os portugueses."
Tipo - "Isso é um sim?"
AJS - "O que eu quero é que toda a gente tenha pão na mesa."
Tipo - "Epah, desisto. Queres ir almoçar ali abaixo?"
AJS - "Talvez."
Tipo - "Não comeces. Não tens fome?"
AJS - "Toda a gente tem fome."
Tipo - "Mas tens fome agora?"
AJS - "É possível, uma vez que sou gente."
Tipo - "E apetece-te comer o quê?"
AJS -  "Comida. Isto é, sólidos e liqui...."
Tipo - "...juro por tudo que 'tás por isto de começar a enfardar!"
AJS - "Calma, o que eu quero é paz no Mundo."
Tipo - "Ai sim? E que mais queres?"
AJS - "Quero uma política de crescimento que desenvolva o país através da criação de emprego e consequente aumento do rendimento disponível das famílias, de maneira a que toda a gente tenha uma vida melhor."
Tipo - "Então o que tu propões é uma vida melhor para os portugueses, é isso?"
AJS - "Sim."
Tipo - "Ok, mas também não me parece que haja alguém que não queira isso, oh Tó Zé... Espera aí! Disseste um sim?! Deste de facto uma resposta objectiva? És mesmo tu?"
AJS - "Sabes que quando a pergunta é vaga, a resposta pode ser objectiva. No fundo estás a objectivar uma vaguidade, o que torna essa vaguidade ainda mais vaga, uma vez que a objectivaste."
Tipo - "Pois, tu és bom nisto. E olha, como é que te propões a criar mais emprego?" 
AJS - "Com uma política de crescimento.
Tipo - "Sim, mas e que política seria essa?"
AJS - "Uma que criasse emprego."
Tipo - "Ok, já percebi. Mas dá-me uma medida concreta!"
AJS - "Criar emprego."
Tipo - "Tó Zé, alguma vez te comprometeste com alguma coisa na vida?"
AJS - "Sim, houve uma vez que estava a jogar à bola e meti um auto-golo."
Tipo - "Tó Zé, ... Tó Zé, não é esse tipo de comprometer que eu estou a falar."
AJS - "Ah, do outro? Já podias ter dito. Hmm.. creio que não. Mas é possível!"


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Regresso de férias

Balanço das férias de Agosto:

- Cinco dias de festival seguidos é de doidos. Mas para o ano há mais e se fosse fácil estavam lá outros.
- Uma semana a entreter putos desfavorecidos, também é de doidos, mas é tão gratificante que para o ano também há mais de certeza.
- Casar ao sábado, no Ribatejo, à hora do almoço, à chapa do sol, pode não parecer uma boa ideia, mas acaba por ser quando os convidados, mais do que procurarem refúgio do calor numa sombra, o fazem nas bebidas.
- O Drive com o Ryan Gosling é um bom filme, embora fosse escusada a americanada da cena do beijo no elevador, lá mais para o final. Ujamaricanos não percebem que basta uma cena para me estragar duas horas de película. Mania que os americanos têm das americanadas.
- O Contrabando com o Mark Wahlberg é um filme que dentro do género é bom e o Mark Wahlberg, cujo género é difícil de concretizar, também é bom.
- O Ted, com o Mark Wahlberg, é um filme que antes é absolutamente espectacular, durante é porreiro, no fim é porreiro mas dá para encolher os ombros e passado uns dias é um óptimo filme para relembrar e mandar umas gargalhadas com a malta. Se juntarmos álcool, ou outro aditivo (a qualquer uma das fases do processo), o filme é genial.
- O cabrão do Encantador de Cães (SIC Mulher) ou droga os bichos, ou é Copperfield da parte da mãe.
- Ver filmes semi-manhosos (há partes que dão para rir) como o She's Out of My League pode valer a pena, porque corremos o risco de descobrir tesourinhos destes:


 

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

JO 2012


Muito se questiona sobre a qualidade da prestação olímpica de Portugal em Londres. Mais do que emitir uma opinião formada, escrevo este post em jeito de pergunta. Será que a nossa prestação é má, como tantos dizem? Ou será boa? Ou normal até... Sinceramente não sei e talvez a resposta esteja nos cálculos matemáticos da proporcionalidade entre população/medalhas. Mas sinceramente, a meu ver, a resposta não se pode basear apenas nesse cálculo. O mesmo diz muito, mas não diz tudo. Não conta com as diferentes condições de preparação dos atletas de cada país, não conta com os centésimos de segundo que tiraram o ouro aos remadores Portugueses - os mesmos que o deram aos Húngaros - e também não conta com o sono do Marco Fortes que tem azar em lhe marcarem as competições de manhã, por exemplo. Enfim, muitas mais lacunas terá este cálculo. Certo, certo, é que já ouvi dizer que Portugal tem mais medalhas per capita que a China (não confirmei, nem o vou fazer).

Como alguém disse: A estatística é a arte de mentir com precisão.

Olhando para o Medalheiro dos JO 2012 - http://desporto.publico.pt/Londres2012/medalheiro - vários factos curiosos me suscitam a atenção:

- Portugal aparece num espectacular 73.º lugar em 75 países medalhados. Refira-se, desde já, que há 204 participantes (191 países e 13 territórios - http://www.suapesquisa.com/olimpiadas2012/paises_participantes.htm) e que passar de 73º em 75, para 73.º em 204, ainda é uma diferença grande.

Mais factos:

- A Argentina, país com cerca de 41.000.000 de habitantes, ganhou apenas 4 medalhas!

- Espanha, aquele que, a meu ver, é o melhor país do mundo em desporto, tem 17 medalhas., muito atrás de Itália (28), França (34), Alemanha (44) e o Reino da Grã Bretanha e Irlanda do Norte (65), países similares em prestígio desportivo à Espanha.

- Brasil tem quase as mesmas medalhas que Espanha, mas para cada espanhol, há 4 brasileiros.

- A Escócia, que não participa isoladamente, mas sim no Team GB, tinha, ainda há uns dias, 11 medalhas e 5.000.000 de habitantes.

- O Cazaquistão, cujo cidadão mais famoso é o Borat, tem as mesmas medalhas de ouro que o Japão (!!), no ranking do Medalheiro, e aparece em 12.º lugar.

- A Bielorrúsia, com os mesmos habitantes que o nosso pequeno rectângulo, leva 13 medalhas no bolso, mais 7 que uma África do Sul (50.000.000).

- A Jamaica, sabe Deus porquê (tema sobre o qual penso escrever mais tarde), tem uma estranha predisposição para a corrida de velocidade, fazendo deste país, insignificante no desporto em geral, um dos mais cotados nas medalhas.

Muitos mais factos se poderão tirar do Medalheiro. De facto, a prestação Portuguesa não me parece espectacular. Mas a culpa é dos atletas ou da falta de estrutura interna que crie as condições necessárias para os mesmos conseguirem mais e melhor? Será que com o que temos já é bom uma medalha e algumas presenças em finais? Não é também motivo de orgulho a nossa atleta que trabalha na Câmara de Ovar, teve apenas dispensa para treinar cerca de um mês ou dois, caiu ao chão na meia final (corrida com barreiras), levantou-se e ainda se foi apurar para a final, não ficando em último? E o 7.º lugar da Jessica Augusto na maratona?

Fica o post em jeito de questão. Não me agrada só uma medalha, mas também não me agrada o bota abaixo constante.


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

"Parece coisa do Diabo"

Numa coisa, Marcolina Pereira tem razão. Parece, de facto, coisa do Diabo. Mesmo sendo o Correio da Manhã especialista neste tipo de "notícias", acho que esta aparição de Marcolina Pereira, montada no seu quadriciclo descontrolado, a varrer todos quantos se lhe punham ao caminho, carece de material noticioso que justifique tão chocante e enigmática (just "nove"?) parangona. O CM ainda procurou enquadrar a história com uma bela reportagem, onde Marcolina mostra os danos (visíveis!) no quadriciclo e encena ao "estilo Matrix" o movimento dos atropelados. Mas acho que nem este belo trabalho em vídeo dá ao acontecimento outro estatuto que não o de "coisa do Diabo".

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Oi






Olhar para esta imagem traz-me reminiscências de uma boa infância. Onde mais me lembro de comer gelados é na Praia de S. João aos Domingos quando lá ia com os meus pais. Nesse dia a minha mãe deixava-me comer um gelado. Mas nunca o Magnum. O Magnum era muito grande para uma criança de cinco anos, dizia-me a minha mãe. Por isso, sempre olhei para o Magnum como o gelados dos adultos. No topo da tabela, grande, caro, idóneo e proibido. Os Magnuns eram pais de família, empresários trabalhadores, com uma boa casa, um bom carro e um bom fato. O Magnum Cone, esse, creio que nunca o comi. Nunca lhe liguei muito, nunca o quis. É um estrangeiro, um gajo que nunca viveu em Portugal. O Rol, por seu lado, era um gelado - não me lixem - que nenhum puto gostava. A Olá decidiu-se então pelo velho truque de o retirar da carta por uns aninhos. "Aía o Rol, meu puto! O Rol era óptimo. Lembras-te?". Ok, Rol outra vez na carta e, suddenly, todos gostam de Rol. Não digo que seja mau, mas é um gelado banal e não dá jeito nenhum para comer, não me venham com merdas. Depois vêm os Cornetos, aquele gelado que não falha. Um trinco trabalhador, que sem ser mágico, nunca joga mal. E joga todos os jogos, isto é, nunca nos fartamos, podemos pedi-lo sempre. Do Corneto passamos para o Calippo. Bom gelado para putos e em dia de muito calor. Admirava as pessoas que conseguiam trincar os Calippos. Porém, deixei de o comer quando me apercebi as figuras que uma pessoa faz a comer aquilo. Hoje, deixo os Calippos para as senhoras. Quanto ao Sky e o Kick, não me vou pronunciar mais sobre eles do que a própria menção do nome no início desta mesma sentença, dado que são gelados que não conheço e cuja aparência Menorquiniana me faz duvidar da inclusão dos mesmos na prestigiada carta da Olá. São dois dinamarqueses que fizeram interrail e saíram na estação errada, com certeza. Mesmo assim já conseguiram que me pronunciasse mais do que queria sobre eles. Filhos daí! Os Fresh merecem-me pouco comentário também. Lembro-me de comer alguns e de facto parecem-me frescos (bom marketing, realmente nenhum gelado se chama "flame", ou "hot spice" ou "soup", o que, vendo bem, faz algum sentido). O Super Maxi é um gelado que me merece pouca consideração. É um gelado chato, pouco criativo, choné, mole, sem sal, chocho, frouxo, paneleiro, merdoso. É aquele gajo que leva caldos na escola, vítima de bullying, que passa a vida a encher a maleta mas não faz nada. Resultado: no outro dia saiu uma notícia de um Super Maxi na Finlândia que entrou por uma convenção de gelados e, munido de um lança-chamas, chacinou tudo o que viu à sua volta, sorvetes incluídos. Uma tragédia. Infelizmente o Super Mário chegou a tempo e salvou o dia. Enfim, o Super Mário é, até, um gelado agradável. Mas pueril, pouco consistente. Ao contrário da personagem que lhe dá nome, o gelado é pouco ambicioso, contenta-se com a aprovação de uma infantil papila gustativa, sabendo que nunca chegará à glote de um adulto que se preze. O Feast é um gelado do qual gosto muito. São três camadas de chocolate, repito, três! É uma coisa como deve ser. O Feast não anda aqui a brincar. A brincar anda o Epá, que, enfim, nem é mau de todo e até tem uma pastilha. O Palhaço nem vou comentar, pois o nome diz tudo. O Fizz... (para considerações sobre o Fizz, ver parte da descrição do Rol em que a Olá o tira e repõe). O laranja e o ananás, são tão amadores que a Olá nem se dignou a dar-lhes um nome. Sumo de laranja, sumo de ananás, copo, pau, congelador e ‘tá feita a coisa. O Mini Milk é uma instituição, (é possível lembrar-me dele a dez escudos?). Era o gelado mais barato, o bebé, coisa simpática e em conta, sendo até bastante agradável.

E eis que chegamos ao Perna de Pau. Esse senhor da indústria geladeira. Dono do melhor morango alguma vez produzido. Nem o chocolate que o circunda se atreve a ser muito denso, para que não percamos tempo a atingir o morango. Simbiose perfeita, portanto, entre chocolate, morango e nata. Infelizmente a Olá teve mais olhos que barriga e fez o Mega Perna de Pau. Esqueceram-se que mega já ele era. Estragaram tudo com a versão maior. Não tem nada a ver e, infelizmente, muitos estabelecimentos, agora, têm apenas o Mega, o que me causa desagrado.

Uma breve nota para finalizar. Tenho pena que o Maxibom (Camy) não esteja nesta carta. É, de longe, o meu gelado preferido. Infelizmente joga sozinho numa equipa de merda, como um Weah na Libéria, um Giggs em Gales, ou um Rui Pedro no Massarelos. Por isso não ganha nada.

Enfim, é isto que eu tenho a dizer sobre gelados por hoje. Por hoje!, apanascado leitor. Por hoje...

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Fiat 500 da Claudinha


O Aníbal tinha tido um dia difícil. Não que o trabalho no banco fosse mais exigente ou em maior quantidade nesse dia, mas, simplesmente, tinha menos tempo para o fazer. A sua única filha Cláudia fazia nesse dia 19 anos e ele queria fazer-lhe uma surpresa com o Fiat 500 que tinha comprado, e que ia buscar ao stand antes de ir para casa. Já sabia que o carro novo para a Claudinha - como ele gostava de a chamar, mesmo já tendo a Claudinha um par de bujardas mais rodado que uma mota da Telepizza - ia dar discussão da grossa com a mulher, Zefa. O carro que Aníbal e Zefa partilhavam já tinha mais de 10 anos e já estava apalavrado que o próximo investimento familiar seria num carro novo para a família. Mas o Aníbal, pela sua Claudinha, fazia tudo e não havia berraria da sua mulher que apagasse a felicidade que Aníbal sentia ao ver o brilho nos olhos do amor da sua vida, a sua Claudinha.

Assim, terminado o trabalho para esse dia, o Aníbal meteu-se num táxi e deu as indicações para o stand, sem conseguir esconder o entusiasmo que o invadia. O Fiat 500 era tal qual ele tinha idealizado. Igualzinho à sua Claudinha: barato e rasco pequenino e cor-de-rosa. Enfiou-se no carro de brinquedo e meteu prego a fundo em direcção a casa. O lote 5B da Rua dos Ciprestes, em Almada, tinha um lugar livre exactamente em frente da porta. "Nem de propósito", pensou Aníbal. Carro estacionado e depois do lenço que trazia sempre no bolso de dentro do casaco ter percorrido o carro todo uma última vez, Aníbal correu para o elevador. Entre o rés-do-chão e o 5º andar olhou pelo menos três vezes para a chave do carro que tinha na mão enquanto sorria, como que a tentar antecipar na sua cabeça a reacção da sua Claudinha. Estava em pulgas o pobre do Aníbal.

Ainda assim, no momento em que Aníbal se preparava para meter a chave à porta, a sua excitação nem rivalizava com a excitação que a Claudinha estava sentir enquanto era escavacada por trás pelo Dikembe no balcão da cozinha. O Dikembe - rapaz com saúde de ferro, natural do ex-Zaire - nem acreditava no que lhe estava a acontecer. Como um simples "tem lume?" se tinha tornado nesta cavalgada na cozinha desta gaja, era algo que ele nunca iria compreender.

A primeira coisa que Aníbal - hoje conhecido no bairro como Aníbal "O Louco", por passar os seus dias a limpar um Fiat 500 cor de rosa com 17 quilómetros no contador e em que mais ninguém pode tocar a não ser ele - viu naquele momento foi um individuo de raça africana, nu, de costas, em cima duma cadeira ao fundo do corredor. A segunda coisa de que ele se lembra daquele fatídico momento é a pulseira, que baloiçava num dos pés que estavam, juntinhos, entre as pernas do tal indivíduo. Aquela pulseira de ouro, tinha sido oferecida por si à sua querida filha no dia da sua primeira comunhão e, entretanto já tinha passado do pulso para o tornozelo (um "skank alert" clarinho como água). A partir daí Aníbal já não tem imagens gravadas na cabeça. Apenas dois sons, avulsos: o primeiro, o da chave do carro novo a bater no soalho de madeira do hall de entrada. O segundo, já Aníbal ia a meio das escadas, a descer aos três degraus de cada vez, era a voz da sua Claudinha que, entretanto, deixou de reconhecer:

"Pai!! Eu já tenho 19 anos!!! DURMO COM QUEM EU QUERO E FAÇO O QUE ME APETECE!!!"


Nós sabemos Claudinha. Nós sabemos... Até fizeste uma música com esse mantra.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Outro dia...


...estava à entrada do meu prédio e vi uma pessoa. Sexo masculino, óculo preto de massa, cabelo curto e propositadamente mal cortado, alargador na orelha, uma ou outra tatoo e t-shirt às riscas horizontais, estreitas, pretas e encarnadas. Típico gajo bloquista - (assunção que fiz não apenas quando o vi assim vestido, mas também quando este ser abriu a boca - discurso e indumentária apontavam ambos para uma, e só uma, solução ideológica).


Fulano tal estava acompanhado do seu cão, um pit-bull. Eu estava acompanhado da minha cadela, uma não-pitbull. Perguntei a esta mente iluminada se o bicho mordia pois tencionava fazer uma festa ao mais recente amigo da minha Pipa. Ouço a seguinte resposta: "É um cão. Isto é só um cão. Como os outros.". E depois começou a enveredar pelo caminho de que quem faz o cão não é a raça, mas o dono, etc. Penso que o apanascado leitor perceberá onde quero chegar. Enfim, o tom não era zangado ou de reprimenda. Denotei intenções pacíficas e democráticas no discurso, ao mesmo tempo que senti aquela arrogância destes bloquistas pseudo-paladinos da "liberdade de cada um desde que a mesma não interfira com a liberdade dos outros", que pensam que quem não pensa da mesma maneira que eles deve ouvir o que eles têm para dizer porque eles, que sabem a verdade das coisas, não se importam de nos ensinar como devemos pensar. Confesso que não fiquei para o cruzar de espadas argumentativas que se seguiria se eu me dignasse a responder a esta personagem. Para mim parece-me óbvio que quem veja um pit-bull tome mais precauções do que quem vê um labrador. Um é conhecido por ter uma mordidela forte, ter visto a sua raça desenvolvida e apurada para a luta e pelos estragos que consegue fazer. O outro é conhecido por ter feito um anúncio de papel higiénico com o slogan "a Vida é boa!" (este, por seu lado é tema para falarmos mais tarde: A razão porque os artigos de limpeza do lar insistem em fazer anúncios com famílias no campo a saltitar e a sorrir muito felizes. Pessoalmente, uma líxivia não me aquece nem me arrefece.).

Enfim, gostaria de cronometrar o tempo que este gajo demorava a percorrer a distância que intermediasse entre si e o seu hipotético filho pequeno que, solto, se dirigisse a um rotweiller desconhecido para lhe fazer uma festa. Não seria certamente o mesmo se o bicho fosse um labrador.

Irritam-me estes pseudo-intelectuais que acham que sabem mais do que os outros. Anos e anos de percentagens de votação rídiculas nas legislativas significam alguma coisa e deviam dar direito "aos outros" de aplicar uns calduços nesta malta.


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Este post é interessante

Não é nada. Estava a gozar.

Este post assinala o meu "momento Luis Campos" na blogosfera e serve para vos informar, seus panascas, aquilo que me traz aqui. Ora, o que me traz aqui, para além do Xadão - the biggest panasca of them all! -, é a busca pelo interessante. Mas como aquilo que é interessante para uns pode ser enjoativo para uns ou letal para outros, não tenho qualquer pretensão de que vocês, panascas deste mundo, se interessem por aquilo que eu acho interessante. O interesse não é esse. "Qual é então?", perguntam vocês enquanto baixam o volume da música. Sei lá!!! O que é que isso interessa também foda-se?! Por exemplo: acho interessante o tamanho do nabo que o Milton Friedman enfia no cu de um imberbe e ainda desconhecedor de Donuts de chocolate Michael Moore neste vídeo. Além disso dá-me um ar erudito que gosto de cultivar sempre que o Benfica não está a jogar. Win win portanto.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Estava-se a ver


O Manel pediu aos pais para aprender ballet. Os pais não deixaram porque isso era coisa de maricas. Então o Manel pediu aos pais para aprender a costurar porque queria ser estilista. Mais uma vez os pais disseram-lhe que não porque isso era coisa de maricas. O Manel ainda pediu para o deixarem ser cabeleireiro, mas os pais proibiram porque isso era coisa de maricas. 

Hoje, o Manel cresceu, é paneleiro e não sabe fazer nada.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Turuluu!!

Decidi voltar. Não sei se vos interessa, mas decidi-o. Quando fechei o velogue, fechei-o porque tenho noção que o apanascado leitor (figura abstracta e aplicada aos leitores de qualquer blogue) quando lê um blogue procura, entre outras coisas, assiduidade na escrita. Essa não a tinha. E nem tenho, nem vou ter. Só que deixei de me preocupar com esse factor. Simplesmente apetece-me escrever. E como me apetece escrever, o blogger é público e gratuito e não obrigo ninguém a lê-lo (embora goste que o façam, pois se não houver leitores, mais vale escrever um diário), decidi voltar. Assim, vejam isto antes como um espaço para vir de vez em quando e não como um espaço de visita diária para entreter os meus amigos que ocupam o seu tempo de expediente na internet. São os chamados funcionários públicos do sector privado. Tenho vários. Eles sabem quem são.

Assim, deixo-vos com um bombom que descobri ontem a meio do meu estudo (ver post anterior).

http://img.poptower.com/pic-61254/janet-montgomery.jpg?d=600

(Janet Montgomery. Adoro.)

Estudo em Ordem

Em noite de estudos, quando a vontade não vem, é difícil esquecer que não a temos. Tudo se torna razão para me levantar da mesa. Vou à casa de banho, vou buscar água, vou só fechar a porta, o afia, mais papel, o telemóvel que ficou ao lado do frigorífico quando fui buscar a água, etc. E uma vez levantado, passo pela televisão e não posso deixar de ouvir o que a mesma está a dar. Sento-me. Primeiro nem penso no tempo que vou ficar ali, sei que estou a meio do estudo por isso não vou ver televisão. Faço um zapping automático, quase mecânico. Não estou verdadeiramente interessado em ver televisão, o que não consigo é resistir à tentação de não estudar. Cedo à tentação. Mas só por um bocado. Encosto-me e penso em ficar apenas cinco, dez minutos, vá. Já que faltam dezassete para a hora certa, talvez fique os dezassete e, já agora, começo a estudar a uma hora certa. Faz sentido, estudar a uma hora certa. Entretanto começa um documentário sobre formigas. Não vou perder isto. O documentário só demora uma hora. Posso bem estudar daqui a bocado e fico a estudar até mais tarde à noite. Acaba o documentário e tenho fome. Necessidade básica do homem e sem ela nem consigo estudar. Vou lanchar. Aí sinto legitimidade no tempo que gasto. Estico esse tempo, obviamente, afinal o mesmo é legítimo. Sento-me finalmente a estudar um bocado. Combino comigo mesmo ficar pelo menos uma hora ininterrupta. Nunca chega a essa hora. É sempre menos. No dia do exame penso porque não estudei e digo, invariavelmente, para mim mesmo: "Que estúpido, precisava de mais um dia só e tinha tempo para estudar tudo como queria. Para a próxima começo a estudar mais cedo.". Esta foi a próxima.