Sou um homem casado, que é o mesmo que dizer que vejo novelas. Não necessariamente no plural, mas tornou-se já norma lá em casa que no período pós-telejornal a televisão fica entregue a uma qualquer produção ficcional portuguesa ou brasileira, ou ambas. É uma daquelas batalhas que um gajo ainda trava nos primeiros tempos, mas que rapidamente percebe que há batalhas muito mais importantes no horizonte cuja vitória muitas vezes só precisa de um simples "fosga-se [inserir nome da esposa]! Eu deixo-te ver a novela todo o santo dia! Deixa-me lá ver agora este Peru-Uruguai do campeonato de mundo de futebol...feminino!" para ser ganha. São escolhas. De qualquer forma - e é com um pingo de indisfarçada vergonha que o digo - por vezes vejo-me investido no enredo, sempre inverosímil claro, da novela da época (também acontece dar por mim investido nas mamas da Lencastre mas adiante). E sempre que dou por mim a pousar o iPad para dedicar toda a atenção a um qualquer Lourenço Ortigão a fazer de quarentão penso para mim: "Foda-se! Será que isto afinal é bom? Será que afinal este gajo é bom ator? Naaaa... Não pode." Mas não poucas vezes ali fico, com o iPad a chamar por mim desesperado, traído. A esposa olha de esguelha, com um sorriso estampado na cara, como quem diz: "Consegui!", e eu esfrego as mãos de contente com a conquista de mais um crédito para o Áustria-Panamá que começa daí a minutos. Felizmente, por vezes somos brindados com verdadeiras demonstrações do que é representar e, graças a elas, conseguimos voltar a trepar do fosso imundo que é a ficção nacional. Os padrões voltam a subir um bocadinho e a ver a luz do dia e nós ficamos outra vez mais felizes connosco mesmos. "Realmente... aquele Ortigão é mesmo terrível. Nunca te esqueças disso Morales!!!". Vem tudo isto a propósito desta espetacular música que me fez voltar a ver e rever o discurso do Chaplin no The Great Dictator. Estamos a falar de uma cena gravada há mais de 75 anos e que hoje me dá arrepios. Hoje lá em casa vai-se ver cinema do bom. Tá beeeemm.
1 comentário:
Ah ah ah muito bom!
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