sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O mais _____ de 2014

Visto estarmos em época de balanços, e eu estar neste momento a "trabalhar" num open space ocupado apenas por mim, fica o vídeo que mais vezes foi tocado no meu computador este ano (na verdade deve ter sido este mas tem apenas uma música, ainda que brilhantemente interpretada) e que neste momento toca com volume no máximo aqui deste lado. É natal foda-se!! (not)

 

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

9 meses

Fez este fim de semana 9 meses que deixaste de me responder quando falo contigo e cumprem-se hoje 16 anos da morte da senhora que me trouxe para este mundo. Provavelmente não fazias ideia mas este ano cumpri uma data simbólica. Algures no início deste ano, houve um momento a partir do qual o tempo que vivi sem a senhora minha mãe passou a ser superior ao tempo que vivi com ela. Durante um breve milésimo de segundo, a minha vida podia ser dividida em duas partes exatamente iguais em tamanho: uma com e outra sem. Não é que tenha algum significado especial - não tem - mas deixa aquele amargo de boca de pensar que vivi mais tempo sem ela do que com ela. Parece que ela a partir de agora vai tendo cada vez menos importância no quadro geral que é a vida. O tempo tem desta coisas, é dum pragmatismo que muitas vezes se confunde com insensibilidade. Nesta maldita época do ano, confesso que são raros os momentos em que encontro alguma luz que me ilumine os dias (como, de resto, se pode perceber por estas linhas), mas hoje encontrei uma. Hoje apercebi-me que ainda tenho mais de 29 anos até tu pertenceres a essa tal parte "menor" da minha vida. Tudo bem...não são 29 porque eu até aos meus 17/18 anos não fazia ideia quem era Jubatty King of the Party. Mas são pelo menos uns 12 anos. Ainda temos 12 anos pela frente foda-se!!! Até lá prometo habituar-me ao teu silêncio nas nossas conversas.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Obrigadinho!


Há uma coisa que não percebo.

Todos os animais têm alguma coisa que os ajude naquilo que precisam. Os leões precisam de caçar, o Senhor deu-lhes dentes, garras e camuflagem. Deu menos tamanho às chitas, porém mais velocidade. Deu visão às águias, veneno às cobras. Sem mais veneno na hora de fazer as jibóias, encheu-as de músculo. E por aí em diante.

Mais abaixo na cadeia alimentar, os caçados também têm com que se defender.  O elefante tem tamanho, tal como a girafa. E ao elefante ainda lhe deram dentes, não vá um leão mais tarado querer atacá-lo. O gnu tem cornos, o rinoceronte, chifres. Até a merda das springboks têm uns corninhos amorosos que sempre podem ajudar para qualquer coisa.

Parece tudo fazer sentido num equilíbrio que é necessário.

Sucede que chegamos a um animal em que apenas podemos concluir que Ele fuma charros. Que bicho é esse? A zebra.

Sim. É suposto a Zebra fazer exactamente o quê com aquilo que lhe deram?

Não é especialmente rápida, não é especialmente grande, nem forte, nem ágil. Cornos não tem, veneno não tem, dentes só mesmo para mastigar a relva. Um pobre cavalo coitado no meio de uma selva infestada de leões, crocodilos, hienas, chitas, leopardos.

Mas o que me faz mais impressão nem é isso tudo. O que me faz mais impressão é como a vestiram. Só dá para rir cada vez que imagino a zebra vestida às riscas pretas e brancas (às riscas!!) a tentar confundir-se no meio da bicharada. É o mesmo que a Paula Bobone tentar passar despercebida numa loja da Coronel Tapioca.  

Imagino a reacção da zebra quando fizeram a distribuição dos outfits. Incrédula, dois minutos de boca aberta, a olhar para o que lhe deram. E mais ainda quando vê o resto do pessoal a equipar-se para a guerra. Olha para o lado, e um elefante a entrar numa pele grossíssima, a tartaruga com um escudo nos costados, o gnu a pôr os cornos e ela com um vestido da Mango.

Leio a Wikipedia na busca de um sentido para aquelas riscas disruptivas duma paisagem seca. Ninguém sabe bem. Várias teorias se perfilam. Pois bem, não me atirem areia para os olhos. Para mim, não passa de um momento de relaxe do Senhor - em milhões de anos, coitado, também tem direito. E provavelmente só não mandou a zebra vestida de Carmen Miranda cá para baixo, porque Nossa Senhora Lhe entrou pelo quarto adentro e pôs travões na brincadeira. Apeteceu-Lhe debochar na zebra. Só pode ser isso. É gozo, é brincadeira, é reinação do Criador.

Sim, a mim não me enganam. A zebra é puro escárnio divino.



                                         





 * a sério, não brinquem comigo!





terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Preso 44


Este texto de Vasco Pulido Valente não pretende concluir, mas apenas ofender. É um direito que lhe cabe e que nos cabe.

Nem sempre me apraz especialmente sugerir a leitura de outros textos, uma vez que gosto de escrever os meus. Mas quando há que tirar o chapéu, tira-se o dito. A verdade é que VPV consegue explicar, e ofender, de forma sublime, o preso, algemado pela própria bimbalhice.

Fica link e texto.


"Opinião 

Um fingidor
 
28/11/2014 - 05:52

Como o resto do país, não sei nem me cabe saber se o prenderam justa e justificadamente. Sei – e, para mim, chega – que o homem é um fingidor.

Nunca gostei da personagem política “José Sócrates”, desde a campanha para secretário-geral do PS (em que ele prometeu não aumentar impostos que, de facto, aumentou) até à sua ascensão a primeiro-ministro, muito ajudado por Pedro Santana Lopes e pela reputação de autoritário que entretanto adquirira.

Não tranquiliza particularmente ser governado por um indivíduo que se descreve a si mesmo como um “animal feroz”, nem por um indivíduo que prefere a força política e legal à persuasão e ao compromisso. Se o tratam mal a ele agora, seria bom pensar na gente que ele tratou mal quando podia: adversários, serventes, jornalistas, toda a gente que tinha de o aturar por necessidade ou convicção. Sócrates florescia no meio do que foi a sufocação do seu mandato.

O dr. António Costa quer hoje separar os sarilhos de um alegado caso criminal do seu antigo mentor da política do Partido Socialista e do seu plano para salvar a Pátria. O que seria razoável, se José Sócrates não encarnasse em toda a sua pessoa o pior do PS: o ressentimento social, o narcisismo, a mediocridade, o prazer de mandar. Claro que, como qualquer arrivista, Sócrates se enganou sempre. Começou pelos brilhantíssimos fatos que ostentava em público, sem jamais lhe ocorrer se as pessoas que se vestiam “bem” se vestiam assim. Veio a seguir a “licenciatura” da Universidade Independente, como se aquele papel valesse alguma coisa para alguém. E a casa da Rua Braamcamp, que é o exacto contrário da discrição e do conforto e último sítio em que um político transitoriamente reformado se iria meter.

Depois de sair do Governo e do partido, Sócrates mostrava a cada passo a sua falsidade, não a dos negócios, que não interessam aqui, mas da notabilidade pública, por que desejava que o tomassem. Resolveu estudar em Paris, para se vingar da humilhação do Instituto de Engenharia e da Universidade Independente, e resolveu fazer um mestrado em “Sciences Po”, sem perceber que o mestrado é uma prova escolar de um estatuto irrisório. Em Paris, viveu no “seizième”, o bairro “fino”, como ele achava que lhe competia, e, de volta a Lisboa, correu para a RTP, onde perorava semanalmente para não o esquecerem: duas decisões ridículas que só serviram para o prejudicar, embora estivessem no seu carácter. Como o resto do país, não sei nem me cabe saber se o prenderam justa e justificadamente. Sei – e, para mim, chega – que o homem é um fingidor."

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

8 meses

Foi preciso arrancares deste mundo para eu deixar de gostar da tua companhia. Meu cabrão. Faz hoje 8 meses que foste e, no entanto, insistes em vir ter comigo de vez em quando e por aqui ficas até que eu me deite e o sono trate de te mandar embora outra vez. Não gosto da tua companhia. Sinto que só o fazes porque sabes que ainda estou irritado. Dá a ideia de quereres justificar-te, mas eu ainda não ouvi a tua justificação. Não tenho ilusões, sei que nunca a vou ouvir, mas gostava de voltar a apreciar os momentos em que apareces. Como hoje, em que uma música que me apresentaste há sei lá quantos anos veio parar aos meus ouvidos. Apresentaste-me isto. E pronto. Ficou por aí. Sem seguimento, sem continuação, sem que a esta seguissem as outras que me irias apresentar convencido que tinhas um gosto musical muito eclético. Não tinhas. Era só mau - já te disse que ainda estou irritado?

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Fora de tempo

Há figuras/lendas/ícones do desporto - claro! - que me fazem ter pena de ter nascido quando nasci. Não ando a chorar pelos cantos porque nasci quando nasci, mas quando estou naquele processo de devorar tudo o que encontro sobre a pessoa em causa, não deixo de sentir alguma nostalgia com tempos que não vivi. Não deixa de ser estranho. Michael Jordan é um exemplo disso, porque não apanhei o seu auge, mas o maior deles todos chama-se Muhammad Ali. Não deve haver vídeo do youtube em que o nome dele apareça que eu não tenha visto. Desde a visão clássica e histórica do percurso do melhor desportista do século XX, passando pela relação fascinante que desenvolveu com Howard Cosell, até coisas mais deprimentes, mas igualmente fascinantes, como este doc em que um Ali já tomado pelo Parkinson insistia em combater (contra ele próprio). Cada pedaço de história consumido faz crescer a lenda de Ali. Hoje o Guardian faz um trabalho sobre os fotógrafos que o seguiram e eternizaram os momentos que todos conhecemos de Ali. Nele aparece uma foto que nunca tinha visto e que dispensa grandes adjetivos. À semelhança de outras fotos tiradas de Ali, fala por si.


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Os animais NÃO têm direitos caralho!!!!

Muito menos quando está a em causa a propagação de um vírus mortal para a espécie humana. Ando a fugir desta história do casal espanhol inftado que está a criar um movimento para salvar o seu cãozinho de ser abatido. Ando a fugir para não me irritar. Mas hoje o Público deu-me uma boa notícia e eu não tenho de fugir mais. Uma notícia que mostra que, apesar de tudo, ainda vivemos num mundo minimamente decente. Um mundo que consegue perceber que os taradinhos da "defesa dos direitos dos animais" estão a argumentar em causa própria o que obviamente lhes afeta o bom-senso. O cão vai ser abatido. Podem lançar os foguetes.


quinta-feira, 31 de julho de 2014

Movimento popular anti-sócrates

Eu sei que são o BES e o Ricardo Salgado que estão na moda, mas nunca nos esqueçamos que o filho da puta do Sócrates é o filho da puta do Sócrates. Como tal, nunca é má altura para falar dele e dele nunca nos devemos esquecer não só de falar, mas de apontar, xingar, denunciar e acusar.

Dizem-me vocês: “Ah, mas ele nunca foi condenado.”, querendo, com isso, defender que eu não posso, em rigor, falar mal dele.

Não me interessa nem um bocado. Culpados não são aqueles que o aparelho judicial consegue apanhar. Esses são os condenados. Um culpado é sempre um culpado, com ou sem condenação. E que o Sócrates é culpado, não tenho a menor dúvida. É tão claro como o Paulo Pedroso ser pedófilo ou o Mantorras preto: Está na cara!

Mas o que me chateia é que este homem segue impune, pago pela televisão pública para gozar connosco. Pior!, pago pela televisão pública, para se defender! Agora é o caso “Monte Branco”. E o gajo (é mesmo assim!) continua no seu discurso de vítima ofendida, alegando estarem a montar uma cabala contra si e que se trata de pura difamação e de uma “canalhice”. Ainda estou a vê-lo proferir estas palavras, com as sobrancelhas franzidas pela fingida indignação. Revoltante!

Ando a dizer isto há algum tempo, não sendo possível apanhá-lo nas teias da justiça terrena, seja por falta de provas, seja por lóbis, criemos nós, simples cidadãos, alheios ao corrupto mikado político-empresarial deste país, o nosso próprio lóbi contra o Sócrates. Possivelmente poderemos estender este movimento a muitas outras personalidades, mas, por agora, foquemo-nos num filho da puta de cada vez. Nada melhor que começar pelo filho da puta dos filhos da puta, o filho da puta mor. O maior sem vergonha que passou em Portugal (Vale e Azevedo é um rapaz tímido ao pé de Sócrates).

O que proponho: Um movimento popular de criação de mau estar.

Não estou a falar em contratar capangas para lhe dar uma tareia, nem em processá-lo nos tribunais. Falo de coisas pequenas. Falo de lhe fazer a vida num pequeno inferno. Este gajo tem que se sentir mal em viver em Portugal. Se quis, e conseguiu, roubar, que ao menos se veja obrigado a pagar o preço da extradição forçadamente voluntária. Que viva, mas noutro país que não o seu. Que viva, mas sem ser descansado. O tormento na alma é a maior das penas. Intranquilizemos este filho da puta!

Como funciona: Há apenas regras gerais. Podemos fazer tudo para o chatear, até ao limite de ele nos poder pôr um processo e, com isso, ter a sua satisfação pessoal. Chateá-lo até ao limite do processo é o que proponho.

Por exemplo, alguém o vê num restaurante, no autocarro, na rua, numa festa, numa loja, na praia, onde for!, sugiro:

-    Atirar-lhe um copo de água para cima. Quem diz água, diz uma tarte, um café, cinco litros de mel, molho inglês, etc.
-    Parar à sua frente e, fitando-o e abanando a cabeça em tom de indignação, proferir, sem parar, apenas estas palavras: “Isto é uma vergonha! Isto é uma vergonha!”. Se quiserem usar da ironia, também é bem visto. Nesse caso sorrirão amarelamente e, batendo palmas, podem proferir: “Honestíssimo! Está aqui um homem honestíssimo pessoal. Venham ver!”.
-    Parar à sua frente e rir, como quem disfarça, apontando para ele e cochichando qualquer coisa para a pessoa ao lado, ao ponto de ele perceber que está a ser gozado, mas não entender o conteúdo do gozo. Isto deixa uma pessoa muito nervosa e muito desconfortável, o que é, afinal, tão-só o nosso propósito.
-    Passar ao lado dele e acusá-lo de cheirar mal. Tapar o nariz e abanar as mãos em frente a toda a gente e dizer “Eishh, que cheiro! O homem ‘tá podre!”. Esta é boa no elevador, pois não permite grandes dúvidas quanto à acusação.
-    Desrespeitar a distância socialmente aceitável, quando na sua presença.
-    Fazer sons de animais (bem alto!), quando na sua presença.
-    Arrotar.
-    Assobiar-lhe ao ouvido, de surpresa.
-    Pôr-lhe a mão à frente e dizer que o ar é de todos.

Enfim, são apenas algumas ideias. O regime é livre. O que interessa é que este palhaço não saia à rua descansado. Conto com a vossa imaginação para dizerem mais algumas maldades. Vamos encanitar o Sócrates!


quinta-feira, 24 de julho de 2014

Pensamento do dia

Uma coisa que me intriga há muito tempo: os balneários.

O balneário da minha equipa não me preocupa. Preocupa-me um balneário em particular, bem como, em geral para todos os balneários, me preocupa a teoria que subjaz à divisão dos balneários em mulheres/homens.

A divisão que a sociedade impôs, onde se conduzem mulheres para a direita e homens para a esquerda quando toca a hora de vestir, foi feita com base no género (critério) e fundamentada pelo facto de estes géneros opostos se atraírem (fundamento), pelo que se entendeu que, quando se abrem braguilhas, fecham-se portas.

Porque a atracção existe, o pudor, os bons costumes, a prevenção e a segurança terão sido as razões para levar a que esta decisão se efectivasse e se separassem os sexos opostos.

- O fundamento que conduz a esta separação é, portanto, a atracção entre homens e mulheres, logo, pode-se dizer que o fundamento é a orientação sexual das pessoas.

- Por seu lado, o critério, o qual resulta da aplicação do fundamento, é tão simplesmente, fazer a triagem entre quem é homem e quem é mulher.

No entanto, hoje em dia não se pode ignorar que também existe atracção dentro do mesmo sexo. Cada vez mais!

Então, fará ainda sentido continuar a separar as pessoas cegamente pelo órgão genital, quando o que sempre as separou era, na verdade, a sua orientação sexual?
Se o fundamento (orientação sexual) para a separação dos balneários se mantém, mas esse próprio fundamento aplicado de pessoa para pessoa é hoje diferente, não será necessário actualizar o critério?

Há, neste momento, muitos gays (de ambos os sexos) a vestirem-se e a tomarem banho nos balneários do sexo pelo qual estão atraídos. Acho isso injusto. Primeiro, porque as cautelas com o pudor e os bons costumes estão ameaçadas e depois porque eu nunca tive a oportunidade de tomar banho num balneário feminino.

Quem devia pedir igualdade são os heterossexuais. Nós é que estamos em desvantagem.

Basicamente o que quero dizer é: se não me querem meter no balneário das mulheres,  porque acham isso incorrecto, tenho pena, mas ao menos tirem-me os gays do meu balneário e tragam para cá as lésbicas que se despem nos balneários femininos por esse país fora.

Pensem nisso!

Quanto ao único balneário em particular que me preocupa, falo, evidentemente, do balneário do Ginásio Clube Português. Em mais nenhum lado vi tanta concentração de homem velho descaradamente nu. É custoso ver estas carcaças atacadas em força pela gravidade, passearem-se orgulhosa e desprendidamente despidas. Nunca percebi porque razão os velhotes fazem questão de fazer a barba completamente nus. 

...é que há aquela ligeira inclinação final para o espelho a ver se o barbear está completo. Totalmente desnecessário.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

A ditadura da Partilha

Nada tenho contra o André Sousa Bessa. Muito pelo contrário. Foi meu colega de curso durante um par de anos e, apesar de ter perdido o contacto com ele após a faculdade, tenho do André a melhor das impressões. Tinha defeitos - um tripeiro dos sete costados... -, como todos, mas sempre vi nele uma pessoa com uma inteligência muito acima da média que coleccionava amigos por onde passava. Um atestado de qualidade se tal se pode dizer de uma pessoa. Não é por isso o André, cuja morte muito me impressionou, que me traz aqui, mas sim a reacção à sua morte. 

Nesta versão do mundo em que vivemos começa a reinar a ideia de que quanto mais privados são os momentos maior é a necessidade de os expor. A "Partilha", o acto de partilhar, virou uma obsessão nacional (mundial?) e nem mesmo o luto mais profundo, aquele que vai contra todas as leis da natureza, a luto pela morte de um filho foge a essa regra. Logo no dia seguinte à morte do André fomos brindados com uma reportagem na TVI da missa de corpo presente do André. Não se tratava das clássicas entrevistas à porta da igreja e pedir um testemunho (sempre elogioso, como as circunstâncias exigem) sobre o falecido. Não. Desta vez a reportagem foi sobre a missa em si. As câmaras estavam dentro da igreja a filmar a pobre da Judite de Sousa num estado de completo desnorte e desespero (só mesmo esse desnorte pode explicar que se autorize uma televisão a filmar uma cerimónia tão privada quanto esta). Dei por mim a mudar de canal por não querer violar a privacidade daquela gente. Senti-me ridículo mas fez-me pensar. Ao que isto chegou. São os supostos violadores da privacidade alheia que se vêem obrigados a defender essa mesma privacidade.

Depois vem o facebook e os incontáveis e intermináveis testemunhos de família, amigos, conhecidos, etc. É nestas alturas que eu me vejo a concordar com quem ainda não se rendeu às redes sociais. Sou um pró-facebook (o que quer que isso queira dizer) convicto e, embora seja mais um utilizador passivo do que propriamente um furioso dos "status updates" vejo nas redes sociais grandes vantagens, sendo a principal manter-nos em contacto, ainda que virtual, com as pessoas de quem gostamos mas que, por impossibilidade física e temporal, não vemos com a frequência que gostaríamos. Acaba por ser um sucedâneo do contacto físico por ridículo que isto possa soar (e soa).

Mas nestes momentos, o facebook mostra-nos a verdadeira bestialidade do ser humano. A quantidade de posts de gente que se quer associar ao luto de uma mãe é obscena. Dou por mim a questionar o propósito de cada poema ou montagem que os enlutados amigos publicam e não consigo encontrar nenhum que não seja egoísta/narcisista. Porque a Partilha (assim, com "P" maiúsculo porque se trata já de uma instituição) deveria ser isso mesmo. Deveria ser altruísta e generosa, por ambicionar que outra pessoa usufrua de algo que nós achamos que merece ser usufruído. Não é o caso neste tipo de posts. Aqui partilha-se o luto por surreal que isso possa parecer. Aqui partilha-se a morte. Aqui diz-se: "eu também o conhecia e estou muito triste". Aqui ambiciona-se a pena. Não se homenageia nem se conforta quem sofre (qualquer mensagem privada à mãe do André ou um ramos de flores cumpririam bastante melhor esse propósito). 

Há cerca de um ano, aquando da morte de alguém próximo de amigos meus e da subsequente avalanche de "Rest In Peaces" virtuais, um querido e saudoso amigo, no seu jeito de estar sempre contra a corrente, comentava comigo que esta "martirização social" o fascinava. Suponho que "fascínio" seja uma palavra com um significado suficientemente abrangente para incluir o que sinto nestes dias ao passear pelo facebook. Mas não seria seguramente a palavra que eu escolheria.

terça-feira, 24 de junho de 2014

o horror! (parte 2)


Encontrar coisas destas nas redes sociais enche-me o dia. No fundo, acho que é apenas para estes pequenos momentos que deambulo pelo facebook. Qual mineiro do século passado, peneiro sem parar, até que, muito de vez em quando encontro no meio de todo o cascalho uma pepita do tamanho de um punho de um recém-nascido. O êxtase é total. Nem sei por onde começar com esta preciosidade. Talvez pelo principio (duh!) em que esta pessoa nos pergunta se no outro dia alguém lhe perguntou o que mais lhe perturbava no mundo. "Diz-me uma coisa: sabes se no outro dia alguém me perguntou o que mais me perturbava no mundo?" Brilhante! Depois, será que alguém lhe fez mesmo esta pergunta? Yeah right.... Mas a minha parte preferida talvez seja o "naturalmente". "NATURALMENTE que o que mais me perturba no mundo é a desonestidade intelectual... Duuhhh!! Que pergunta tão estúpida!" A pergunta é de facto estúpida, mas foda-se!, a resposta dá uma cabeçada à caixodré na pergunta se formos a comparar níveis de estupidez. Assim de repente lembro-me de tanta coisa que me perturba tão mais que do a desonestidade intelectual... Fome, guerra, gordas de leggings, miséria, Brunos Pratas, etc. Tanta coisa que é claramente perturbante mas que não dispõe do glamour da desonestidade intelectual. A desonestidade intelectual é algo que, sendo perturbante, obriga o leitor a pensar, a reflectir, sobre os seus malefícios. Uma pobre criança do Darfur não dispõe dessa capacidade. Haveria mais a dizer deste trecho de ouro mas tudo o que eu diga fica aquém das letras acima. Vou reler.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

dead men talking

O Blank On Blank é o site de uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo, em poucas e manifestamente insuficientes palavras, é manter vivas as palavras de ícones culturais que, por este ou por aquele motivo, nunca chegaram a ser conhecidas. (Há uns meses trouxe aqui um trabalho semelhante que a Atlantic está a fazer mas que, infelizmente, parece ter-se perdido na enormidade da tarefa que se propunha desempenhar. Já há uns meses que não vejo qualquer atualização do trabalho.) O Blank On Blank pretende ser a ponte entre jornalistas e público - o que não deixa de ser surpreendente, porque os jornalistas, eles mesmos, é que deveriam ser a ponte, mas adiante. O que é facto é que estes gajos se propõem a pegar em gravações de entrevistas antigas que jornalistas (sobretudo estes, mas não só, calculo) tenham em seu poder, tratá-las, divulgá-las e finalmente, fazendo-as acompanhar de umas animações castiças que acrescentam um certo cachet às palavras ditas. Alguns vídeos serão mais interessantes que outros com certeza, mas entre gente tão diferente como Heath Ledger, Grace Kelly, Johnny Cash, Tupac Shakur ou Fidel Castro haverá por certo algo digno de ser visto/ouvido. Chegou-me ao ecrã pela voz de Phillip Seymour Hoffman. O único que vi até agora.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Menos!

Gosto do Belanciano. Não adoro o Timberlake. É, mais do que uma questão de gosto, uma questão de estilo. De ambos. Vítor Belanciano é o jornalista de música do Público que, além de perceber da poda (ou seja, de música), escreve bem que se farta. Timberlake é aquele gajo que vocês sabem. Não aprecio o estilo musical - seja ele qual for - mas reconheço-lhe tremendo mérito por chegar onde chegou e, mais do que isso, sempre apreciei as suas prestações no grande ecrã (embora, agora que penso nisso, nenhuma delas de grande nível de dificuldade). Hoje, Belanciano, a propósito de Timberlake, escreve o seguinte:

"Assistir a um concerto seu é ver-nos passar, de uma só vez, pelos olhos e ouvidos, Michael Jackson, Prince, Marvin Gaye ou Frank Sinatra, num encadeamento do passado soul, funk ou swing, com o apelo contemporâneo de algum hip-hop e R&B pelo meio, embora nunca consiga deixar de ser ele, a ex-celebridade juvenil que se tornou num performer de apelo multigeracional. "

Foda-se Vítor. Não te terás excedido um pouco? Não esperava uma crónica em modo "pita histérica" vindo de ti.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

De Niro


Nunca consegui levar a sério uma personagem de De Niro que chorasse. Ver De Niro a chorar sempre me pareceu forçado. De Niro personifica o old school como nenhum outro (desculpa Clint, desculpa) e nesta entrevista é curioso ver como duas facetas de um dos maiores atores da sua geração convivem de forma tão clara. Por um lado temos o De Niro que todos conhecemos e admiramos: I like things that don’t change. I like consistency. Constancy. People look forward to tradition, they come back, it’s still there, nothing’s changed. Like when you go to a certain restaurant and you go back, and all of sudden it’s changed because they hired a new chef. If it’s not broke, don’t fix it. Passadas duas ou três frase deparamo-nos com um De Niro que se desmancha a chorar com uma pergunta: I get emotional. I don’t know why, justifica-se, como que se apercebendo que estava a mostrar algo que julgávamos impossível. É, em primeiro lugar, por isso que esta entrevista é interessante. Porque nos mostra um De Niro diferente. Vulnerável. Mais humano. Em segundo lugar porque nos dá a conhecer um projeto que virá a público em breve sobre a vida e obra do seu pai. 

terça-feira, 15 de abril de 2014

"Alpinista Honnold morre durante escalada após queda aparatosa"

Todos temos os nossos heróis desportivos (todos os que ligam a desporto obviamente). Esses heróis não são eternos nem sequer duram a nossa vida inteira - seja porque perdem capacidades, seja porque perdemos interesse no desporto. Ao longo da vida admiramos diferentes desportistas, de diferentes desportos, por diferentes razões. Vemos neles capacidades que gostaríamos de ter, nuns casos, ou simplesmente falhamos redondamente na tentativa de compreender essas mesmas capacidades. Seja a força física (Tyson ou Lomu) seja a força mental, por vezes temos a impressão de ver qualidades sobre-humanas em atletas especiais. Julgávamos impossível que um homem pudesse atropelar outro apenas com a sua velocidade e força ou que um miúdo de 20 anos conseguisse irromper por um mundo desportivo como o boxe, varrendo todos quantos se lhe atravessassem no caminho.

Alex Honnold é, desde há um par de anos, o meu mais recente herói desportivo. Alex Honnold é aquilo a que no meio se chama de um free solo climber. Um alpinista que escala as montanhas que todos os outros escalam, mas fá-lo sozinho. Quem nunca tenha ouvido falar nesta pessoa pode achar que Honnold é tímido ou é um bicho-do-mato, e não está a compreender bem porque é que o facto de escalar sozinho faz dele o herói de quem quer que seja. Ora, quando se diz "sozinho" o que se quer dizer não é "sem a companhia de colegas alpinistas" (embora isso também seja verdadeiro). O que se quer dizer é que Honnold trepa paredes apenas com as suas mãos, pés e aquele pó milgroso, feito na Gália de Astérix. Sem cordas. 

Quando ouvi falar pela primeira vez deste tarado - neste 60 Minutes - a jornalista a certa altura pergunta a um alpinista veterano a pergunta que assalta a mente de qualquer pessoa que vê Honnold a escalar: is this sustainable? A resposta é óbvia. Esta modalidade, esta forma de vida - como Honnold parece preferir -, não é sustentável a longo prazo. Honnold vai morrer a escalar uma montanha e o título deste post, um dia, será verdadeiro. Nesta modalidade do desporto não há margem de erro e não há, nem nunca houve na história da humanidade um ser humano isento de erros. É por isso que Alex Honnold precisa de ser conhecido por todos. Porque quando o inevitável acontecer, Alex Honnold será conhecido como o gajo que morreu a escalar uma montanha sem cordas. Por agora ele é conhecido por ser aquele tarado que faz o que toda a gente, sem excepções, julgava ser impossível.

Aqui fica o vídeo da sua última façanha, embora recomende que se veja o 60 Minutes acima para se conhecer o homem. Em baixo, nos comentários, alguém descreve com precisão o que Honnold faz (com igual precisão): "A successful free solo climb is a failed suicide attempt".

quarta-feira, 5 de março de 2014

Burger Hut


De uma coisa podemos ter a certeza depois de ver esta imagem que começa a preencher os outdoors dessa europa (suponho que nos EUA isto seja corriqueiro): a Pizza-Hut não vai olhar a meios para atingir o seu fim último de nos pôr a comer as bordas da pizza. Depois do queijo. Depois da salsicha que, por si só, já deixava antever que a Pizza-Hut não estava a encarar a coisa de ânimo leve. Agora temos mini-cheeseburgers. Sim. Temos mini-cheeseburgers nas bordas da pizza. Cheeseburgers, em tamanho mini, naquela zona que serve para segurar a pizza quando a comemos. No fundo deve ser isso que eles nos querem dizer mas de forma cada vez menos subtil: isto não serve para segurar só. É pa comer foda-se!! Se fosse só para segurar não vos deixava as mãos gordurosas!! Duh!! Quando a Pizza-Hut se alia ao seu arqui-rival no mundo da fast food para nos fazer comer a borda é quando percebemos que isto é um caso sério. Não vai ficar por aqui. Eles não vão baixar os braços. Mas eu também não. Isto já virou pessoal e eu não vou ceder foda-se. Da minha parte, até podem pôr lá Fizzes de limão que eu não toco naquela merda.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

sentir o que não se vive

Há momentos que por serem tão determinantes no curso da História nos fazem reter onde estávamos, o que estávamos a fazer, no que estávamos a pensar. Todos sabemos onde estávamos no 11 de Setembro de 2001 (para usar um acontecimento que marcou a minha geração) e partilhar essas vivências faz-nos, por um lado, reviver o momento e avaliar se a nossa reação em tempo real fez (aos nossos olhos) jus à magnitude do acontecimento e, por outro, reconhecer semelhanças ou diferenças na reação da pessoa com quem agora partilhamos o momento. É um exercício de partilha de sensações que acaba por ser recompensador porque encontramos nas sensações dos outros sensações nossas que porventura tínhamos esquecido ou, até, formas diferentes de olhar o momento em causa.

Isto vale, naturalmente, para acontecimentos que tenhamos vivido. Tendo eu nascido na década de 80, é-me impossível lembrar onde estava no 25 de Abril de 1974, simplesmente porque não estava em lado nenhum, a não ser talvez na cabeça dos meus pais. Não podemos sentir aquilo que não vivemos. O que podemos é viver aquilo que os outros sentem.

Vem isto a propósito de um esforço que a American Archive of Public Broadcasting está a fazer de digitalizar mais de 40 mil horas de registos de áudio e vídeo de emissões das estações de rádio e tv norte-americanas da segunda metade do século XX. A revista Atlantic chamou a atenção para o assunto e está a reproduzir excertos dessas emissões que vão sendo digitalizadas. O resultado, a avaliar pelas primeiras amostras, promete ser fascinante. Senão vejamos oiçamos:



Este quarto de hora, vindo diretamente do passado para os nossos ouvidos, consegue a extraordinária proeza de nos fazer sentir de luto com a morte de alguém que nunca vimos. O mundo em que as pessoas que estão a assistir ao concerto em Boston vivem corre à velocidade normal. Neste mundo não há tempo real nem há a ditadura da informação e da partilha que as redes sociais vieram trazer. Neste mundo a notícia dada apanhou todos de surpresa e a reação de choque é tão genuína como será com certeza o silêncio e o respeito pela marcha fúnebre que se seguiu ao anúncio. Neste mundo não havia gente a dedilhar os telemóveis furiosamente para informar os informados.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Spoiler alert: Naomi Watts NÃO mostra as mamas

Xando, é com pesar que escrevo estas linhas. Ontem comecei a ver um filme e lembrei-me disto. Durante todo o filme aguardei ansiosamente primeiro, desesperadamente depois. E é com a voz embargada, própria de quem vê o final abrupto de uma sequência histórica que tinha tudo para figurar no Guiness, que te digo que ontem vi um filme em que a Naomi Watts não mostra as mamas. Se eu soubesse não tinha visto. Juro. Mas isto foi uma decisão unilateral da minha patroa que, por ontem celebrar o seu aniversário, escolheu o filme que íamos ver. Ela escolheu, eu vomitei um pouco dentro da boca, e disse para mim: "bem, merda de filme, mas ao menos, tendo em conta a rameira que ela vai representar, vou poder dizer ao Xando que vi mais um filme com as mamas da Naomi". Mas não. Ameaçou algumas vezes mas, fosse um fato de banho que tinha de cumprir o protocolo, fosse uma camisa de homem de um paquistanês manhoso, tudo serviu para impedir que as meninas espreitassem cá para fora. Não se faz. Elas não merecem depois do que já fizeram pela Naomi.

Desculpa Xando. Mesmo.

O filme (o poster ilustra bem o colete de forças em que elas estiveram amarradas o tempo todo. Não se faz).

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

pós-Michael Sam

É um tema que está cada vez mais na ordem (desportiva) do dia: a homossexualidade e o desporto profissional. Até hoje a ideia que reina é a de que são dois mundos incompatíveis. Não porque haja incompatibilidades de facto mas porque, simplesmente, não havia até há pouco tempo registo de um atleta de um desporto profissional relevante que fosse assumidamente gay. Ninguém no seu perfeito juízo pode defender que não há gays a praticar desporto profissional ao mais alto nível, mas o facto de não haver casos que comprovem essa inevitabilidade ajuda a desconstruir a ideia de que vivemos já num mundo completamente tolerante com a homossexualidade. 

No mundo do desporto as coisas não são bem assim. O desporto caracteriza-se na maioria dos casos pela virilidade e pela agressividade e acaba por ser compreensível que os próprios gays encarem a homossexualidade como mais um obstáculo que teriam que ultrapassar caso se assumissem. É um entendimento que se baseia em pressupostos rudimentares, de acordo, mas não deixa de ser compreensível. Ninguém precisa de mais essa barreira para ultrapassar no caminho para se ser um atleta bem sucedido.

No último ano surgiram casos que pretendem ultrapassar esta barreira e fazer com que o desporto acompanhe o resto do mundo no caminho para a tolerância, primeiro, a aceitação, depois, e a indiferença, por fim. Quando for indiferente se determinado atleta é gay ou não, então aí estaremos na etapa final do caminho que os gays ainda têm de percorrer. 

Há cerca de um ano, Jason Collins saiu do armário. O assunto foi tratado com as honras que o facto de ser o primeiro atleta em atividade (há vários casos de ex-atletas que se assumem depois da carreira acabar) merecia e teve eco em todo o mundo. Mas o que o caso de Jason Collins não trouxe foi um efetivo teste à mentalidade dos agentes desportivos, sejam eles jogadores, treinadores, scouts, ou outros. Jason Collins nunca foi um jogador preponderante na NBA e, quando se assumiu, fê-lo já no ocaso da carreira impedindo que se pudesse aferir se houve ou não aceitação.

Esta semana foi Michael Sam a sair do armário e a rebentar com a porta atrás dele.  Michael Sam arrisca-se a ser "O" nilas que vai tirar tudo a limpo. Por várias razões: a) porque é bom; b) porque está a entrar no prime da sua carreira; c) porque joga o mais popular desporto dos EUA; d) porque dentro de umas semanas integrará o Draft de 2014 da NFL. Será o evento por excelência para saber se o desporto profissional (no caso, o futebol americano) está preparado para se assumir como "gay friendly". É aí que os clubes avaliam todas as características de um jogador e o escolhem ou não. Antes de se assumir Sam era apontado como um jogador muito promissor que iria com certeza figurar nas primeiras rondas do draft. Uma vez assumido, vai ser interessante ver se, quando e por quem é escolhido. 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

o inconseguimento de não me encanitar

Pensei muito sobre o que vou dizer a seguir. Não se trata de uma afirmação dita de forma precipitada ou sem uma medição exata das consequências que a mesma inevitavelmente trará. Não me lembrei disto hoje. Não me lembrei disto ontem. Durantes os últimos meses por mais de uma dezena de ocasiões dei por mim a tentar contestar o que vou dizer a seguir. "Não. Não pode ser possível... Tem de haver alguém...", suplicava eu sempre que dava por mim a pensar aquilo que vou dizer a seguir. Mas não. É mesmo verdade. O que vou dizer a seguir é, de facto e de direito, o que eu sinto.

A Assunção Esteves é a pessoa que mais me irrita encanita à face da terra.

Sim. É verdade. I said it. Na verdade nem se trata de irritação. A irritação pressupõe que a causa é algo com importância. Um gajo irrita-se quando está a trabalhar num documento de word durante umas horas e, sem querer, apaga-o. Aí há irritação. O documento era importante e agora vou ter que o fazer todo outra vez. No caso da Esteves trata-se de "encanitação". A Assunção Esteves encanita-me.
O encanitanço, parecendo que não, é mais irritante (ou encanitante) que a irritação. Primeiro porque o encanitanço é, desde logo, mais prolongado no tempo. A irritação é súbita e poderosa, mas sempre temporária. O encanitanço não. O encanitanço ataca-nos quando menos esperamos e os seus efeitos são duradouros, além de repetíveis ao longo do tempo. Depois, o encanitanço é causado por coisas aparantemente inofensivas, o que só encanita mais, porque um gajo dá por si sem ar com merdas ridículas. E nada é mais ridículo do que a imperiosa necessidade que Assunção sente sempre que abre a boca de recorrer a vocabulário elaborado/inexistente.
Estou em cima disto desde que a senhora foi eleita Presidente da Assembleia da República. No discurso inaugural debitou sílabas que nunca se tinham encontrado na vida. Nesse dia o sangue subiu-me à cabeça instantaneamente e desde então que sempre que me vejo obrigado a ouvi-la suo das mãos. É uma chatice que, por si só, já me encanita

Inconsigo deixar de me encanitar.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Long live the hooligans

Digam o que quiserem. Que são selvagens e facciosos. Que são selvaticamente facciosos. Que são racistas. Que só lá estão para armar confusão. Que bebem demais. Que comem demais. Que são malcriados, rudes e ruins. Chamem-lhes hooligans, chamem-lhes fanáticos, chamem-lhes o que quiserem. Mas experimentem tirá-los do futebol e gostava de ver o que sobra.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Casa comigo Alfonso e, de caminho, co-adoptamos o Ed Harris



Que obra de arte foda-se! Falta-me ver em 3D. Diz-se por aí que é melhor ainda. Bullshit, digo eu.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Eusébio da Silva Ferreira (1942 - 2014)

“Foda-se. O Eusébio morreu”. Foram as primeiras sílabas que saíram da minha boca no domingo de manhã. Que eu tenha dado por isso, durante umas horas foram as únicas sílabas que disse. O estado de semi-consciência que caracteriza o recém-acordado e a escuridão que ainda se abatia pelo quarto tornavam a guerra contra a claridade do ecrã do telemóvel mais difícil do que em outros dias. Aos poucos a consciência acabou por levar a melhor sobre a sonolência. A luz eventualmente entrou no quarto. A escuridão, essa, já não me largou. “O Eusébio morreu. Foda-se.”
É esquisita esta sensação. A sensação de tristeza pela perda de alguém que não conhecemos. Não conheço Eusébio. Infelizmente nunca privei com ele, nem tão pouco tive o privilégio de assistir aos seus feitos no relvado. A minha vida nunca registou qualquer episódio de maior ou menor felicidade causado por Eusébio da Silva Ferreira. Não me orgulho disso, mas também não tenho grande culpa. Invejei sinceramente o homem que a certa altura, de olhos molhados de orgulho e saudade, dizia para o microfone que foi “a todos os jogos que o Eusébio jogou pelo Benfica”.
O Eusébio que eu conheço – aquele que a coincidência das nossas vidas me permitiu conhecer – é um senhor simpático, símbolo maior do meu clube do coração, mas é pouco mais do que isso: um senhor simpático. Não sei o número exato de senhores simpáticos que já conheci ao longo da minha vida. Desconfio que tenham sido muitos. No entanto, não me vejo a ser invadido pela tristeza como ontem fui logo pela manhã, se o senhor Gonçalves do café em frente da minha antiga casa - que faz uns panados daqui! – bater a bota um dia destes. Ficarei triste com certeza porque tenho o senhor Gonçalves em muito boa conta, mas pronto. Ficará por aí.
É esquisito. É desconfortável. O luto deve ser isto.

Quem me conhece sabe que sou uma espécie de fanático soft do Benfica – o “soft” é porque mesmo sendo um tarado que organiza sempre os fins de semana em função do calendário do Glorioso, nunca alguém me avistou empoleirado nas redes de uma qualquer bancada de um qualquer estádio europeu em tronco nu a gritar profanidades. Não sou esse tipo de fanático. E sendo um fanático do Benfica, é natural que a morte de Eusébio suscite reações em mim. O respeito pela memória, pela história. A curiosidade em saber mais da pessoa, do jogador. A vontade de ir prestar homenagem. São tudo reações normais em alguém que vive o Benfica como eu vivo. O que me deixou meio desorientado foi a sensação de estar perdido no meio de sentimentos que nunca pensei experimentar no momento da morte de Eusébio. O desnorte em que aqueles instantes iniciais do dia me fizeram mergulhar acompanhou-me o resto do dia. O espanto da notícia me ter afetado daquela maneira parece ter-me impedido de reagir como reagiria não fosse o inesperado da reação. Não me faço entender pois não? Pois. Welcome to my world.
A meio da manhã de ontem, estava já eu agarrado à televisão, recebi uma mensagem do meu pai – fanático caçador, mas não mais do que curioso do futebol – a dar a notícia de que o presente de natal que lhe tinha dado para a caça estava a servir na perfeição. “Boa Pai! Fico contente neste triste dia…”, disse eu, de olhos ainda e sempre postos na tv. “Muito triste. Até chorei…”, escreveu o meu velho de volta. É isto. O meu pai chorou com a morte do Eusébio. E o meu pai é como todos os pais. Não chora com merdinhas. Chora com a morte do Eusébio.
Eu não chorei. Confesso que andei lá perto hoje à hora de almoço quando o carro onde se encontrava Eusébio dava uma volta ao relvado da Luz, molhado de um chuvisco incessante e de uma neblina que pairava sobre o verde da relva. Nos ecrãs um vídeo com os melhores momentos do Pantera Negra era acompanhado do inevitável Andrea Bocelli. Não foi fácil segurar a lágrima confesso. À minha volta outros não fizeram esse esforço. Bem estiveram eles, digo eu.

A morte de Eusébio chora-se. E eu só percebi isso tarde demais.