quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Long live the hooligans

Digam o que quiserem. Que são selvagens e facciosos. Que são selvaticamente facciosos. Que são racistas. Que só lá estão para armar confusão. Que bebem demais. Que comem demais. Que são malcriados, rudes e ruins. Chamem-lhes hooligans, chamem-lhes fanáticos, chamem-lhes o que quiserem. Mas experimentem tirá-los do futebol e gostava de ver o que sobra.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Casa comigo Alfonso e, de caminho, co-adoptamos o Ed Harris



Que obra de arte foda-se! Falta-me ver em 3D. Diz-se por aí que é melhor ainda. Bullshit, digo eu.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Eusébio da Silva Ferreira (1942 - 2014)

“Foda-se. O Eusébio morreu”. Foram as primeiras sílabas que saíram da minha boca no domingo de manhã. Que eu tenha dado por isso, durante umas horas foram as únicas sílabas que disse. O estado de semi-consciência que caracteriza o recém-acordado e a escuridão que ainda se abatia pelo quarto tornavam a guerra contra a claridade do ecrã do telemóvel mais difícil do que em outros dias. Aos poucos a consciência acabou por levar a melhor sobre a sonolência. A luz eventualmente entrou no quarto. A escuridão, essa, já não me largou. “O Eusébio morreu. Foda-se.”
É esquisita esta sensação. A sensação de tristeza pela perda de alguém que não conhecemos. Não conheço Eusébio. Infelizmente nunca privei com ele, nem tão pouco tive o privilégio de assistir aos seus feitos no relvado. A minha vida nunca registou qualquer episódio de maior ou menor felicidade causado por Eusébio da Silva Ferreira. Não me orgulho disso, mas também não tenho grande culpa. Invejei sinceramente o homem que a certa altura, de olhos molhados de orgulho e saudade, dizia para o microfone que foi “a todos os jogos que o Eusébio jogou pelo Benfica”.
O Eusébio que eu conheço – aquele que a coincidência das nossas vidas me permitiu conhecer – é um senhor simpático, símbolo maior do meu clube do coração, mas é pouco mais do que isso: um senhor simpático. Não sei o número exato de senhores simpáticos que já conheci ao longo da minha vida. Desconfio que tenham sido muitos. No entanto, não me vejo a ser invadido pela tristeza como ontem fui logo pela manhã, se o senhor Gonçalves do café em frente da minha antiga casa - que faz uns panados daqui! – bater a bota um dia destes. Ficarei triste com certeza porque tenho o senhor Gonçalves em muito boa conta, mas pronto. Ficará por aí.
É esquisito. É desconfortável. O luto deve ser isto.

Quem me conhece sabe que sou uma espécie de fanático soft do Benfica – o “soft” é porque mesmo sendo um tarado que organiza sempre os fins de semana em função do calendário do Glorioso, nunca alguém me avistou empoleirado nas redes de uma qualquer bancada de um qualquer estádio europeu em tronco nu a gritar profanidades. Não sou esse tipo de fanático. E sendo um fanático do Benfica, é natural que a morte de Eusébio suscite reações em mim. O respeito pela memória, pela história. A curiosidade em saber mais da pessoa, do jogador. A vontade de ir prestar homenagem. São tudo reações normais em alguém que vive o Benfica como eu vivo. O que me deixou meio desorientado foi a sensação de estar perdido no meio de sentimentos que nunca pensei experimentar no momento da morte de Eusébio. O desnorte em que aqueles instantes iniciais do dia me fizeram mergulhar acompanhou-me o resto do dia. O espanto da notícia me ter afetado daquela maneira parece ter-me impedido de reagir como reagiria não fosse o inesperado da reação. Não me faço entender pois não? Pois. Welcome to my world.
A meio da manhã de ontem, estava já eu agarrado à televisão, recebi uma mensagem do meu pai – fanático caçador, mas não mais do que curioso do futebol – a dar a notícia de que o presente de natal que lhe tinha dado para a caça estava a servir na perfeição. “Boa Pai! Fico contente neste triste dia…”, disse eu, de olhos ainda e sempre postos na tv. “Muito triste. Até chorei…”, escreveu o meu velho de volta. É isto. O meu pai chorou com a morte do Eusébio. E o meu pai é como todos os pais. Não chora com merdinhas. Chora com a morte do Eusébio.
Eu não chorei. Confesso que andei lá perto hoje à hora de almoço quando o carro onde se encontrava Eusébio dava uma volta ao relvado da Luz, molhado de um chuvisco incessante e de uma neblina que pairava sobre o verde da relva. Nos ecrãs um vídeo com os melhores momentos do Pantera Negra era acompanhado do inevitável Andrea Bocelli. Não foi fácil segurar a lágrima confesso. À minha volta outros não fizeram esse esforço. Bem estiveram eles, digo eu.

A morte de Eusébio chora-se. E eu só percebi isso tarde demais.