sexta-feira, 27 de julho de 2012

Oi






Olhar para esta imagem traz-me reminiscências de uma boa infância. Onde mais me lembro de comer gelados é na Praia de S. João aos Domingos quando lá ia com os meus pais. Nesse dia a minha mãe deixava-me comer um gelado. Mas nunca o Magnum. O Magnum era muito grande para uma criança de cinco anos, dizia-me a minha mãe. Por isso, sempre olhei para o Magnum como o gelados dos adultos. No topo da tabela, grande, caro, idóneo e proibido. Os Magnuns eram pais de família, empresários trabalhadores, com uma boa casa, um bom carro e um bom fato. O Magnum Cone, esse, creio que nunca o comi. Nunca lhe liguei muito, nunca o quis. É um estrangeiro, um gajo que nunca viveu em Portugal. O Rol, por seu lado, era um gelado - não me lixem - que nenhum puto gostava. A Olá decidiu-se então pelo velho truque de o retirar da carta por uns aninhos. "Aía o Rol, meu puto! O Rol era óptimo. Lembras-te?". Ok, Rol outra vez na carta e, suddenly, todos gostam de Rol. Não digo que seja mau, mas é um gelado banal e não dá jeito nenhum para comer, não me venham com merdas. Depois vêm os Cornetos, aquele gelado que não falha. Um trinco trabalhador, que sem ser mágico, nunca joga mal. E joga todos os jogos, isto é, nunca nos fartamos, podemos pedi-lo sempre. Do Corneto passamos para o Calippo. Bom gelado para putos e em dia de muito calor. Admirava as pessoas que conseguiam trincar os Calippos. Porém, deixei de o comer quando me apercebi as figuras que uma pessoa faz a comer aquilo. Hoje, deixo os Calippos para as senhoras. Quanto ao Sky e o Kick, não me vou pronunciar mais sobre eles do que a própria menção do nome no início desta mesma sentença, dado que são gelados que não conheço e cuja aparência Menorquiniana me faz duvidar da inclusão dos mesmos na prestigiada carta da Olá. São dois dinamarqueses que fizeram interrail e saíram na estação errada, com certeza. Mesmo assim já conseguiram que me pronunciasse mais do que queria sobre eles. Filhos daí! Os Fresh merecem-me pouco comentário também. Lembro-me de comer alguns e de facto parecem-me frescos (bom marketing, realmente nenhum gelado se chama "flame", ou "hot spice" ou "soup", o que, vendo bem, faz algum sentido). O Super Maxi é um gelado que me merece pouca consideração. É um gelado chato, pouco criativo, choné, mole, sem sal, chocho, frouxo, paneleiro, merdoso. É aquele gajo que leva caldos na escola, vítima de bullying, que passa a vida a encher a maleta mas não faz nada. Resultado: no outro dia saiu uma notícia de um Super Maxi na Finlândia que entrou por uma convenção de gelados e, munido de um lança-chamas, chacinou tudo o que viu à sua volta, sorvetes incluídos. Uma tragédia. Infelizmente o Super Mário chegou a tempo e salvou o dia. Enfim, o Super Mário é, até, um gelado agradável. Mas pueril, pouco consistente. Ao contrário da personagem que lhe dá nome, o gelado é pouco ambicioso, contenta-se com a aprovação de uma infantil papila gustativa, sabendo que nunca chegará à glote de um adulto que se preze. O Feast é um gelado do qual gosto muito. São três camadas de chocolate, repito, três! É uma coisa como deve ser. O Feast não anda aqui a brincar. A brincar anda o Epá, que, enfim, nem é mau de todo e até tem uma pastilha. O Palhaço nem vou comentar, pois o nome diz tudo. O Fizz... (para considerações sobre o Fizz, ver parte da descrição do Rol em que a Olá o tira e repõe). O laranja e o ananás, são tão amadores que a Olá nem se dignou a dar-lhes um nome. Sumo de laranja, sumo de ananás, copo, pau, congelador e ‘tá feita a coisa. O Mini Milk é uma instituição, (é possível lembrar-me dele a dez escudos?). Era o gelado mais barato, o bebé, coisa simpática e em conta, sendo até bastante agradável.

E eis que chegamos ao Perna de Pau. Esse senhor da indústria geladeira. Dono do melhor morango alguma vez produzido. Nem o chocolate que o circunda se atreve a ser muito denso, para que não percamos tempo a atingir o morango. Simbiose perfeita, portanto, entre chocolate, morango e nata. Infelizmente a Olá teve mais olhos que barriga e fez o Mega Perna de Pau. Esqueceram-se que mega já ele era. Estragaram tudo com a versão maior. Não tem nada a ver e, infelizmente, muitos estabelecimentos, agora, têm apenas o Mega, o que me causa desagrado.

Uma breve nota para finalizar. Tenho pena que o Maxibom (Camy) não esteja nesta carta. É, de longe, o meu gelado preferido. Infelizmente joga sozinho numa equipa de merda, como um Weah na Libéria, um Giggs em Gales, ou um Rui Pedro no Massarelos. Por isso não ganha nada.

Enfim, é isto que eu tenho a dizer sobre gelados por hoje. Por hoje!, apanascado leitor. Por hoje...

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Fiat 500 da Claudinha


O Aníbal tinha tido um dia difícil. Não que o trabalho no banco fosse mais exigente ou em maior quantidade nesse dia, mas, simplesmente, tinha menos tempo para o fazer. A sua única filha Cláudia fazia nesse dia 19 anos e ele queria fazer-lhe uma surpresa com o Fiat 500 que tinha comprado, e que ia buscar ao stand antes de ir para casa. Já sabia que o carro novo para a Claudinha - como ele gostava de a chamar, mesmo já tendo a Claudinha um par de bujardas mais rodado que uma mota da Telepizza - ia dar discussão da grossa com a mulher, Zefa. O carro que Aníbal e Zefa partilhavam já tinha mais de 10 anos e já estava apalavrado que o próximo investimento familiar seria num carro novo para a família. Mas o Aníbal, pela sua Claudinha, fazia tudo e não havia berraria da sua mulher que apagasse a felicidade que Aníbal sentia ao ver o brilho nos olhos do amor da sua vida, a sua Claudinha.

Assim, terminado o trabalho para esse dia, o Aníbal meteu-se num táxi e deu as indicações para o stand, sem conseguir esconder o entusiasmo que o invadia. O Fiat 500 era tal qual ele tinha idealizado. Igualzinho à sua Claudinha: barato e rasco pequenino e cor-de-rosa. Enfiou-se no carro de brinquedo e meteu prego a fundo em direcção a casa. O lote 5B da Rua dos Ciprestes, em Almada, tinha um lugar livre exactamente em frente da porta. "Nem de propósito", pensou Aníbal. Carro estacionado e depois do lenço que trazia sempre no bolso de dentro do casaco ter percorrido o carro todo uma última vez, Aníbal correu para o elevador. Entre o rés-do-chão e o 5º andar olhou pelo menos três vezes para a chave do carro que tinha na mão enquanto sorria, como que a tentar antecipar na sua cabeça a reacção da sua Claudinha. Estava em pulgas o pobre do Aníbal.

Ainda assim, no momento em que Aníbal se preparava para meter a chave à porta, a sua excitação nem rivalizava com a excitação que a Claudinha estava sentir enquanto era escavacada por trás pelo Dikembe no balcão da cozinha. O Dikembe - rapaz com saúde de ferro, natural do ex-Zaire - nem acreditava no que lhe estava a acontecer. Como um simples "tem lume?" se tinha tornado nesta cavalgada na cozinha desta gaja, era algo que ele nunca iria compreender.

A primeira coisa que Aníbal - hoje conhecido no bairro como Aníbal "O Louco", por passar os seus dias a limpar um Fiat 500 cor de rosa com 17 quilómetros no contador e em que mais ninguém pode tocar a não ser ele - viu naquele momento foi um individuo de raça africana, nu, de costas, em cima duma cadeira ao fundo do corredor. A segunda coisa de que ele se lembra daquele fatídico momento é a pulseira, que baloiçava num dos pés que estavam, juntinhos, entre as pernas do tal indivíduo. Aquela pulseira de ouro, tinha sido oferecida por si à sua querida filha no dia da sua primeira comunhão e, entretanto já tinha passado do pulso para o tornozelo (um "skank alert" clarinho como água). A partir daí Aníbal já não tem imagens gravadas na cabeça. Apenas dois sons, avulsos: o primeiro, o da chave do carro novo a bater no soalho de madeira do hall de entrada. O segundo, já Aníbal ia a meio das escadas, a descer aos três degraus de cada vez, era a voz da sua Claudinha que, entretanto, deixou de reconhecer:

"Pai!! Eu já tenho 19 anos!!! DURMO COM QUEM EU QUERO E FAÇO O QUE ME APETECE!!!"


Nós sabemos Claudinha. Nós sabemos... Até fizeste uma música com esse mantra.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Outro dia...


...estava à entrada do meu prédio e vi uma pessoa. Sexo masculino, óculo preto de massa, cabelo curto e propositadamente mal cortado, alargador na orelha, uma ou outra tatoo e t-shirt às riscas horizontais, estreitas, pretas e encarnadas. Típico gajo bloquista - (assunção que fiz não apenas quando o vi assim vestido, mas também quando este ser abriu a boca - discurso e indumentária apontavam ambos para uma, e só uma, solução ideológica).


Fulano tal estava acompanhado do seu cão, um pit-bull. Eu estava acompanhado da minha cadela, uma não-pitbull. Perguntei a esta mente iluminada se o bicho mordia pois tencionava fazer uma festa ao mais recente amigo da minha Pipa. Ouço a seguinte resposta: "É um cão. Isto é só um cão. Como os outros.". E depois começou a enveredar pelo caminho de que quem faz o cão não é a raça, mas o dono, etc. Penso que o apanascado leitor perceberá onde quero chegar. Enfim, o tom não era zangado ou de reprimenda. Denotei intenções pacíficas e democráticas no discurso, ao mesmo tempo que senti aquela arrogância destes bloquistas pseudo-paladinos da "liberdade de cada um desde que a mesma não interfira com a liberdade dos outros", que pensam que quem não pensa da mesma maneira que eles deve ouvir o que eles têm para dizer porque eles, que sabem a verdade das coisas, não se importam de nos ensinar como devemos pensar. Confesso que não fiquei para o cruzar de espadas argumentativas que se seguiria se eu me dignasse a responder a esta personagem. Para mim parece-me óbvio que quem veja um pit-bull tome mais precauções do que quem vê um labrador. Um é conhecido por ter uma mordidela forte, ter visto a sua raça desenvolvida e apurada para a luta e pelos estragos que consegue fazer. O outro é conhecido por ter feito um anúncio de papel higiénico com o slogan "a Vida é boa!" (este, por seu lado é tema para falarmos mais tarde: A razão porque os artigos de limpeza do lar insistem em fazer anúncios com famílias no campo a saltitar e a sorrir muito felizes. Pessoalmente, uma líxivia não me aquece nem me arrefece.).

Enfim, gostaria de cronometrar o tempo que este gajo demorava a percorrer a distância que intermediasse entre si e o seu hipotético filho pequeno que, solto, se dirigisse a um rotweiller desconhecido para lhe fazer uma festa. Não seria certamente o mesmo se o bicho fosse um labrador.

Irritam-me estes pseudo-intelectuais que acham que sabem mais do que os outros. Anos e anos de percentagens de votação rídiculas nas legislativas significam alguma coisa e deviam dar direito "aos outros" de aplicar uns calduços nesta malta.


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Este post é interessante

Não é nada. Estava a gozar.

Este post assinala o meu "momento Luis Campos" na blogosfera e serve para vos informar, seus panascas, aquilo que me traz aqui. Ora, o que me traz aqui, para além do Xadão - the biggest panasca of them all! -, é a busca pelo interessante. Mas como aquilo que é interessante para uns pode ser enjoativo para uns ou letal para outros, não tenho qualquer pretensão de que vocês, panascas deste mundo, se interessem por aquilo que eu acho interessante. O interesse não é esse. "Qual é então?", perguntam vocês enquanto baixam o volume da música. Sei lá!!! O que é que isso interessa também foda-se?! Por exemplo: acho interessante o tamanho do nabo que o Milton Friedman enfia no cu de um imberbe e ainda desconhecedor de Donuts de chocolate Michael Moore neste vídeo. Além disso dá-me um ar erudito que gosto de cultivar sempre que o Benfica não está a jogar. Win win portanto.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Estava-se a ver


O Manel pediu aos pais para aprender ballet. Os pais não deixaram porque isso era coisa de maricas. Então o Manel pediu aos pais para aprender a costurar porque queria ser estilista. Mais uma vez os pais disseram-lhe que não porque isso era coisa de maricas. O Manel ainda pediu para o deixarem ser cabeleireiro, mas os pais proibiram porque isso era coisa de maricas. 

Hoje, o Manel cresceu, é paneleiro e não sabe fazer nada.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Turuluu!!

Decidi voltar. Não sei se vos interessa, mas decidi-o. Quando fechei o velogue, fechei-o porque tenho noção que o apanascado leitor (figura abstracta e aplicada aos leitores de qualquer blogue) quando lê um blogue procura, entre outras coisas, assiduidade na escrita. Essa não a tinha. E nem tenho, nem vou ter. Só que deixei de me preocupar com esse factor. Simplesmente apetece-me escrever. E como me apetece escrever, o blogger é público e gratuito e não obrigo ninguém a lê-lo (embora goste que o façam, pois se não houver leitores, mais vale escrever um diário), decidi voltar. Assim, vejam isto antes como um espaço para vir de vez em quando e não como um espaço de visita diária para entreter os meus amigos que ocupam o seu tempo de expediente na internet. São os chamados funcionários públicos do sector privado. Tenho vários. Eles sabem quem são.

Assim, deixo-vos com um bombom que descobri ontem a meio do meu estudo (ver post anterior).

http://img.poptower.com/pic-61254/janet-montgomery.jpg?d=600

(Janet Montgomery. Adoro.)

Estudo em Ordem

Em noite de estudos, quando a vontade não vem, é difícil esquecer que não a temos. Tudo se torna razão para me levantar da mesa. Vou à casa de banho, vou buscar água, vou só fechar a porta, o afia, mais papel, o telemóvel que ficou ao lado do frigorífico quando fui buscar a água, etc. E uma vez levantado, passo pela televisão e não posso deixar de ouvir o que a mesma está a dar. Sento-me. Primeiro nem penso no tempo que vou ficar ali, sei que estou a meio do estudo por isso não vou ver televisão. Faço um zapping automático, quase mecânico. Não estou verdadeiramente interessado em ver televisão, o que não consigo é resistir à tentação de não estudar. Cedo à tentação. Mas só por um bocado. Encosto-me e penso em ficar apenas cinco, dez minutos, vá. Já que faltam dezassete para a hora certa, talvez fique os dezassete e, já agora, começo a estudar a uma hora certa. Faz sentido, estudar a uma hora certa. Entretanto começa um documentário sobre formigas. Não vou perder isto. O documentário só demora uma hora. Posso bem estudar daqui a bocado e fico a estudar até mais tarde à noite. Acaba o documentário e tenho fome. Necessidade básica do homem e sem ela nem consigo estudar. Vou lanchar. Aí sinto legitimidade no tempo que gasto. Estico esse tempo, obviamente, afinal o mesmo é legítimo. Sento-me finalmente a estudar um bocado. Combino comigo mesmo ficar pelo menos uma hora ininterrupta. Nunca chega a essa hora. É sempre menos. No dia do exame penso porque não estudei e digo, invariavelmente, para mim mesmo: "Que estúpido, precisava de mais um dia só e tinha tempo para estudar tudo como queria. Para a próxima começo a estudar mais cedo.". Esta foi a próxima.