Deixo aqui o texto que, até agora, tinha apenas no meu facebook. Transcrevo-o, para que fique arquivado.
Um queijo a todos.
"Caro Ladrão (que não tens outro nome),
Fica sabendo que hoje apresentei queixa pelo iPad Mini e pela pulseira
que roubaste de minha casa em Agosto, na festa que lá dei para amigos.
Podes estar descansado que a queixa apenas é feita porque me convém em
termos burocráticos, já que tenho perfeita noção de que cá em baixo não
te apanho, pois não sei quem és (a queixa vai contra incertos). Mas
torno isto público porque se cá em baixo não te apanho, sei que ao menos
na tua consciência, a qual é auditada por Ele mesmo, serás julgado. E
condenado. Devo-te lembrar que, para agravar, a festa era no jardim e eu
avisei que a casa estava fechada. Ainda assim entraste. Pela cozinha
entreaberta. Como os ratos fazem. E as tuas mãos farejaram para além do
que a vista via, manipulando manetas de portas fechadas e entrando no
quarto dos meus pais, para aí sim, furtares o iPad e a pulseira. Porque
há diferença entre levares uma coisa que está à vista e procurares
deliberadamente por alguma coisa que possas levar. Tu não tens a sede
dos oportunistas, mas a fome dos reles. A tua alma não é corrompível,
está corrompida. Como ousas, filho de puta, entrar no quarto dos meus
pais? Esse templo onde os Machadinhos são concebidos e onde não és digno
do ar que respiras, sequer. És lixo. Mas não julgues ser daqueles sacos
pretos bonitinhos com a fitinha amarela para dar o nó e que a empregada
deixa na escada para o porteiro recolher. És o lixo que fica quando os
rafeiros se fartam de o escavacar. És o que os cães despojam. És fraco,
és merdoso, és rasca, frouxo, chocho e coxo. Como diria o Almada, nem
cigano és, és meio cigano. És o último a ser escolhido no recreio, és o
bairro castanho do monopólio, és vodka rasca com cheiro a amêndoa, és a
fava do bolo rei, és feio e esse cheiro não sai. Desejo-te todos os
pequenos males e azares que a vida possa reservar para uma pessoa.
Quero-te com cieiro, aftas e pé de atleta até ao fim da vida. Quero que
te caia um piano em cima e que o coiote te apanhe e leve o seu tempo a
escalpar-te. Quero que o empregado se demore a trazer-te a manteiga, que
sejas o último na fila das Finanças e o primeiro na fila para a câmara
de gás. Quero que todos os sinais fiquem encarnados para ti, que caia
chuva quando pões um fato novo, que o elevador se avarie, que não saibas
duma meia, que te engasgues quando “ela” te vier falar e que a tua mãe
torre a herança no tratamento dos joanetes ao ponto de te deixar não
mais do que uma dívida de 10€ no café do Sr. Antunes. Desejo-te não o
inferno, mas o purgatório para sempre. Mereces uma eternidade na
angústia dos que esperam e não a certeza infeliz dos que reprovaram.
Esses, ao menos, podem pensar em redimir-se. Tu nunca vais saber a
diferença, meu merdoso. Faz bom proveito disso. E não te esqueças que eu
bem sei que entre roubar um iPad (que podes usar) e roubar uma pulseira
de senhora (que vais vender), vai um grande salto. És mesmo um ladrão
nojento, do mais baixo que existe. Pobre o teu espírito que se deixa
levar por uma coisa destas. Porque não é o iPad e a pulseira que me
chateiam. Mas o facto de ter tido um réptil em minha casa e, pior, no
quarto da minha mãe. O que me custou não foi ficar sem dois objectos,
mas antes saber pelo meu pai que a minha mãe mal dormiu nesse dia,
angustiada pelo facto de ter tido um servente do mal no sítio que é o
mais seu. Isso foi o que me roubaste merdoso. Por isso se quiseres levar
mais alguma coisa cá de casa, não entres. Pede, que eu levo-te lá fora
ao portão.
Nota: sei que já passou algum tempo, mas se alguém
souber quem o fez, cuspam-lhe com os olhos e digam-lhe que, a meu ver
claro, este gajo é um merdoso."