sexta-feira, 31 de maio de 2013

Acontece aos melhores. Espero...

Acabei de abrir uma pastilha, deitar a dita no lixo e pôr o papel à boca.

Isto na Idade Média não deveria dar menos do que banho de petróleo e penas.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Quem está fora de jogo não se devia fazer aos lances.

 - Abel, Abel! Podes ir ali à porta? Está lá a minha irmã e ela pode ir contigo buscar isso.

Enquanto se dirige à porta, bate levemente na cabeça de Abel a curiosidade sobre aquela irmã que nunca vira. Habituado a que a resposta a esta curiosidade seja decepcionante, Abel não pensa mais nisso no resto do caminho. O carro chega, Abel entra. Lá dentro uma surpresa. Óculos escuros, cabelo apanhado num castanho muito loiro, bonita, suave, a frescura própria da juventude, uma segurança irreverente, uma simpatia sem timidez e ao mesmo tempo doce. Há anos que Abel ansiava por um momento destes, quando o encontro fortuito com uma rapariga lhe trouxesse algo melhor do que esperava. Finalmente, uma destas sortes! – pensou.

Não se querendo denunciar, Abel pede à tranquilidade e à calma que tomem o comando da cabeça, amordacem o entusiasmo e o levem dali. Atirado como um recém prisioneiro vadio e sem direitos, o entusiasmo cai dentro do estômago juntamente com o excitamento e as piadas fáceis. Com a fleuma dos indiferentes, Abel enceta conversações. A feminina voz tem uma pequena rouquidão final que ameaça romper naquele as trancas que prendem a malta do estômago.

O tempo passa e a conversa flui. Piadinhas, pequenas provocações, desculpas esfarrapadas para convergirem caminho são ditas com o ar mais natural, “Ajuda-me aqui!”, “Se quiseres ajuda, eu posso ir contigo!“. Peço-te ajuda a ti como podia pedir a qualquer pessoa, não vês a naturalidade com que te falo? O jogo já começou. Os toques, os risos, os olhares, o prolongar da retirada, o andar, o mexer, o falar, tudo é condicionado pela  própria suposição hipotético-conjectural de que possivelmente existe a probabilidade de, se calhar, o outro poder estar a ver. O entusiasmo invade todo o estômago e o corpo de Abel transforma-se num tabuleiro de Risco. Entusiasmo é Hitler, cérebro é França. Vezes há em que os alemães não investem e a passagem por ela corre bem. Mas nem sempre. Abel tem o azar de passar por ela quando, precisamente, Vichy é tomada. Abel dispara uma bojarda, ela recebe de peito. Passo atrás. Abel mete a mão à cabeça:"És uma besta!"- pensa. Mas segue o jogo. Neste momento, Abel já recuperou e está de novo no bom caminho. Mas mal sabe ele.  Passam os dias e a conversa mantém-se. Até quando? Mal sabe ele.

Perante aquela imagem que lhe aperta o coração, Abel tem de aceitar que as sortes não caem do céu, as sortes não estão ao virar da esquina, as sortes não existem. Trabalham-se e agarram-se, mas não aparecem do nada. Neste momento não sabe o que fazer. Custa-lhe a acreditar que ao fundo da fotografia que vê, junto ao altar, com um comprido véu, muito branco, a cair-lhe pelas costas e a vir embater no encarnado do tapete, esteja ela.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Num qualquer dia

Hoje vi um pinguim. Ia o mesmo atarefado a correr até ao jardim. "Perlimpim!", diz-me ele. E olhando-me com os olhos impregnes de magnetismo como só uma ave de smoking tem, passa-me a asa atrás da orelha e finge daí retirar uma pequena moeda, como que por magia. Estende a asa e oferece-me, com benevolência, a moeda, que, vim a ver, era de chocolate. Abri a boca de espanto e olhei-o com um ar incrédulo antes de lhe espetar uma biqueirada nos tomates.

Odeio pinguins que me querem fazer passar por parvo.

terça-feira, 14 de maio de 2013

o horror

Aposto que não estavas a par disto quando escreveste o último post, Xadão. Toda essa felicidade que tão ostensivamente fizeste questão de mostrar a quem quisesse ouvir ignorava com certeza o facto de estarmos hoje inquestionavelmente num mundo mais pobre. Um mundo a quem retiraram uma duas das suas razões de existir. Outras há, seguramente. Felizmente. Mas da próxima vez que achares por bem vir para aqui dizer "ah e tal, estou muita feliz e não sei mais o quê, porque o verão isto, e a praia aquilo", pensa bem, concentra-te na imagem que vês no espelho e, acima de tudo, respeita quem sofre. Ouviste Xadão? Respeita quem sofre foda-se! Ficam as palavras malvadas:

I made a decision to have a preventive double mastectomy.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Summertime

Sexta-feira de bom tempo, seis e vinte e seis da tarde e a excitação de uma criança de dez anos emerge pouco a pouco no meu estômago. Daqui a meia hora estou à janela de um carro, com os meus amigos de sempre, o vento na cara, um bom som e a eterna cerveja. Vou para onde fui mais feliz. Esse sítio, onde fui mais feliz, é precisamente o mesmo sítio onde sei já não poder encontrar essa felicidade que já vai. Mas não a encontro lá e em lado nenhum. É próprio de algumas coisas boas o facto de já não voltarem, de já não poderem voltar. Por isso não estou triste pela felicidade que já não posso ter, mas antes feliz por a ter tido. A felicidade sobre essa felicidade reside agora nas reminiscências desse tempo. E como foi bom esse tempo. E como é parecido, agora, revivê-lo. É por isso que vou, é por isso que continuo a voltar, é por isso que não corto o cordão. É ali, onde fui mais feliz, que sou mais feliz.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Casos em que uma frase vale mais do que mil imagens

           Gosto de frases feitas. Piadas de algibeira, pequenos conselhos, lemas, máximas, larachas, chavões, pregões, ditados e citações. Gosto especialmente dos pequenos conselhos, onde incluo lemas e máximas. Acho nobre - e, na mesma medida, impossível - a tentativa de encaixar numas poucas palavras todos os valores sobre os quais queremos reger a nossa existência ou abranger todas as situações possíveis num único conselho de vida. Embora saiba que mesmo a mais bem resumida sentença é sempre falível ou que todos os ditados e dizeres populares têm antídoto, gosto sempre de ler esses pequenos trechos com uma mensagem maior que as próprias palavras. Pode parecer ingénuo, mas gosto de ler essas frases nos momentos de menor esperança, pois é próprio do ser humano encontrar um sopro de alívio no encontro de experiências repetidas pelos outros. A malta, mais do que não querer estar na merda, não quer é estar nela sozinho. Apenas a unicidade do meu caso torna a merda verdadeira. 
           Enfim, mas sendo, agora, altura de bonança, queria transmitir ao apanascado leitor que costuma ocupar parte do meu pensamento a procura da verdadeira máxima, do único conselho. 
           Se no leito da morte, o leitor (vulgo Nordeste) apenas pudesse deixar uma frase orientadora ao seu descendente que, com as mãozinhas muito pequenas se empoleirava na beira da moribunda cama, e, com os seus pequenos olhos muito abertos o fitava, com amor e reverência, entregando no pai a esperança do mundo, quais seriam as palavras escolhidas para direccionar este petiz na difícil estrada da vida?


Ainda não descobri, nem aqui vou tentar fazê-lo. Mas deixo uma frase que, mais do que orientadora, será, pelo menos, apaziguadora.




True story

NÃO VÃO ACREDITAR!! ONTEM VI O IMPOSSÍVEL!!!!!

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Nada de extraordinário o filme.

ps: ainda está para vir um filme com a Naomi Watts em que não lhe vejo as mamas.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Fenerbucho

São cinco da tarde há pelo menos 4 horas foda-se. Não aguento mais isto. Preciso de coisas para fazer. Coisas que me mantenham ocupado, mas não ao ponto de estar efetivamente a trabalhar, porque isso também é contra-producente. Trabalhar com esta ansiedade não faz mal a ninguém. É destes níveis de ansiedade que os AVC's se alimentam. Já sei! Vou escrever qualquer coisa no vlogue. Qualquer coisa sobre... qualquer coisa. Vou chamar nomes ao Xando. Boa ideia!! Xando, és um boi! 17:05. Quando é que os googles da vida inventam uma cena na linha do que já há para a medição de audiências de sites mas neste caso para medir ansiedades. O critério, em vez das page views, seriam os clock views. Quantas miradas por minuto dá o sujeito nos números do canto inferior direito do ecrã? Tudo o que seja a partir de 0,8 vezes por minuto, estamos obrigatoriamente a falar de um gajo ansioso. Desconfio estar nas 1,4/1,5 miradas por minuto. Não estou ansioso. Estou desesperado. Desesperado para que as 17:10 passem a 17:11. Vá lá....

Se eu ganhasse o Euromilhões


Se eu ganhasse o euromilhões, andaria trajado com uma longa veste vermelho aveludado, daquelas que o forro do capuz é branco com pintas pretas. Seria transportado numa liteira por quatro anões em esteróides e quem me quisesse falar teria que me beijar o cachucho. Andaria com um gato persa, gordo e branco, ao colo, o qual estaria constantemente a ser afagado. Teria, também, dois gatos siameses, frios e de olhar intenso. Compraria a casa que sempre quis comprar, ali, ao lado dos bolos, em Campo de Ourique. Arranjava um título porreiro. Nada de muito pretensioso. Qualquer coisa como “Vice-Rei da Estrela” ou “Barão da Bota-Velha”. E à passagem da minha liteira jogaria pela janela moedas de ouro cunhadas com o meu perfil, e riria, riria dos plebeus que rapidamente se amontoavam, quais pombos ao milho, na tentativa desesperada de ficar com parte do meu tesouro. Na minha casa teria uma massagista daquelas holandesas grandes e gordas que seguram cinco canecas numa só mão, pois a minha lombar precisa de uma tareia e não de um simples esfregão. No entanto, teria também, para quando me apetecesse apenas relaxar, outra massagista, daquelas asiáticas bonitas que vemos nos anúncios com uma flor na orelha e um grande sorriso na cara. Um chef privado seria obrigatório e várias, várias empregadas, brasileiras ou de leste, que me serviriam daiquiris a tarde toda de biquini. Teria o Cláudio Ramos a limpar-me as latrinas, o pisso do Nilton a polir-me os carros e a Júlia Pinheiro como ascensorista. O Professor Marcelo iria todos os sábados a minha casa ler-me o Expresso e o meu despertador seria o Coro Infantil de Viena. Teria dois guardas à porta de casa e outros dois à porta do meu quarto. Só pelo pagode. E vestiria os ditos com vestes ainda mais ridículas que os guardas suíços do Vaticano. Em casa, vestiria apenas calças de fato de treino, do mais fino algodão egípcio, colhido por crianças virgens do Sudoeste do Nepal nas noites de lua cheia. Todas as escadas de minha casa, aliás, qualquer ínfimo degrau, seria rolante, a música, o frigorífico, os estores, tudo seria activado por voz e qualquer esforço físico que precisasse de fazer, seria feito por um dos meus empregados que me responderiam ao toque de uma sineta. Sineta essa que seria tocada por outro criado. Por fim, teria a casa sempre cheia dos meus amigos e teria um acordo vitalício com o Burger King para me produzirem as coroas deles, pois em minha casa seria rei e não vejo, sinceramente, coroa melhor que a do BK.