- Abel, Abel! Podes ir ali à porta? Está lá a minha irmã e ela pode ir contigo buscar isso.
Enquanto se dirige à porta, bate levemente na cabeça de Abel a curiosidade sobre aquela irmã que nunca vira. Habituado a que a resposta a esta curiosidade seja decepcionante, Abel não pensa mais nisso no resto do caminho. O carro chega, Abel entra. Lá dentro uma surpresa. Óculos escuros, cabelo apanhado num castanho muito loiro, bonita, suave, a frescura própria da juventude, uma segurança irreverente, uma simpatia sem timidez e ao mesmo tempo doce. Há anos que Abel ansiava por um momento destes, quando o encontro fortuito com uma rapariga lhe trouxesse algo melhor do que esperava. Finalmente, uma destas sortes! – pensou.
Não se querendo denunciar, Abel pede à tranquilidade e à calma que tomem o comando da cabeça, amordacem o entusiasmo e o levem dali. Atirado como um recém prisioneiro vadio e sem direitos, o entusiasmo cai dentro do estômago juntamente com o excitamento e as piadas fáceis. Com a fleuma dos indiferentes, Abel enceta conversações. A feminina voz tem uma pequena rouquidão final que ameaça romper naquele as trancas que prendem a malta do estômago.
O tempo passa e a conversa flui. Piadinhas, pequenas provocações, desculpas esfarrapadas para convergirem caminho são ditas com o ar mais natural, “Ajuda-me aqui!”, “Se quiseres ajuda, eu posso ir contigo!“. Peço-te ajuda a ti como podia pedir a qualquer pessoa, não vês a naturalidade com que te falo? O jogo já começou. Os toques, os risos, os olhares, o prolongar da retirada, o andar, o mexer, o falar, tudo é condicionado pela própria suposição hipotético-conjectural de que possivelmente existe a probabilidade de, se calhar, o outro poder estar a ver. O entusiasmo invade todo o estômago e o corpo de Abel transforma-se num tabuleiro de Risco. Entusiasmo é Hitler, cérebro é França. Vezes há em que os alemães não investem e a passagem por ela corre bem. Mas nem sempre. Abel tem o azar de passar por ela quando, precisamente, Vichy é tomada. Abel dispara uma bojarda, ela recebe de peito. Passo atrás. Abel mete a mão à cabeça:"És uma besta!"- pensa. Mas segue o jogo. Neste momento, Abel já recuperou e está de novo no bom caminho. Mas mal sabe ele. Passam os dias e a conversa mantém-se. Até quando? Mal sabe ele.
Perante aquela imagem que lhe aperta o coração, Abel tem de aceitar que as sortes não caem do céu, as sortes não estão ao virar da esquina, as sortes não existem. Trabalham-se e agarram-se, mas não aparecem do nada. Neste momento não sabe o que fazer. Custa-lhe a acreditar que ao fundo da fotografia que vê, junto ao altar, com um comprido véu, muito branco, a cair-lhe pelas costas e a vir embater no encarnado do tapete, esteja ela.
Enquanto se dirige à porta, bate levemente na cabeça de Abel a curiosidade sobre aquela irmã que nunca vira. Habituado a que a resposta a esta curiosidade seja decepcionante, Abel não pensa mais nisso no resto do caminho. O carro chega, Abel entra. Lá dentro uma surpresa. Óculos escuros, cabelo apanhado num castanho muito loiro, bonita, suave, a frescura própria da juventude, uma segurança irreverente, uma simpatia sem timidez e ao mesmo tempo doce. Há anos que Abel ansiava por um momento destes, quando o encontro fortuito com uma rapariga lhe trouxesse algo melhor do que esperava. Finalmente, uma destas sortes! – pensou.
Não se querendo denunciar, Abel pede à tranquilidade e à calma que tomem o comando da cabeça, amordacem o entusiasmo e o levem dali. Atirado como um recém prisioneiro vadio e sem direitos, o entusiasmo cai dentro do estômago juntamente com o excitamento e as piadas fáceis. Com a fleuma dos indiferentes, Abel enceta conversações. A feminina voz tem uma pequena rouquidão final que ameaça romper naquele as trancas que prendem a malta do estômago.
O tempo passa e a conversa flui. Piadinhas, pequenas provocações, desculpas esfarrapadas para convergirem caminho são ditas com o ar mais natural, “Ajuda-me aqui!”, “Se quiseres ajuda, eu posso ir contigo!“. Peço-te ajuda a ti como podia pedir a qualquer pessoa, não vês a naturalidade com que te falo? O jogo já começou. Os toques, os risos, os olhares, o prolongar da retirada, o andar, o mexer, o falar, tudo é condicionado pela própria suposição hipotético-conjectural de que possivelmente existe a probabilidade de, se calhar, o outro poder estar a ver. O entusiasmo invade todo o estômago e o corpo de Abel transforma-se num tabuleiro de Risco. Entusiasmo é Hitler, cérebro é França. Vezes há em que os alemães não investem e a passagem por ela corre bem. Mas nem sempre. Abel tem o azar de passar por ela quando, precisamente, Vichy é tomada. Abel dispara uma bojarda, ela recebe de peito. Passo atrás. Abel mete a mão à cabeça:"És uma besta!"- pensa. Mas segue o jogo. Neste momento, Abel já recuperou e está de novo no bom caminho. Mas mal sabe ele. Passam os dias e a conversa mantém-se. Até quando? Mal sabe ele.
Perante aquela imagem que lhe aperta o coração, Abel tem de aceitar que as sortes não caem do céu, as sortes não estão ao virar da esquina, as sortes não existem. Trabalham-se e agarram-se, mas não aparecem do nada. Neste momento não sabe o que fazer. Custa-lhe a acreditar que ao fundo da fotografia que vê, junto ao altar, com um comprido véu, muito branco, a cair-lhe pelas costas e a vir embater no encarnado do tapete, esteja ela.
1 comentário:
JASUS! Ò Abel já eras!
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