segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Grandes questões da Humanidade


Uma palavra que a malta que conheço gosta de usar e que não tem o significado que toda a gente pensa é:

REFUNDIDO

"Puto, fui para uma praia bué refundida.". Aqui, o adjectivo 'refundida' é utilizado no sentido de escondida, guardada, desconhecida.

Ora bem, a menos que o significado da palavra 'refundido' tenha sido refundido no dicionário português no último minuto, o termo em causa não comporta nenhum desses sentidos. 

Vejamos.

refundir -
v. tr.
1. Fundir novamente, derreter de novo.
2. Transmudar de um vaso para outro.
3. Refazer; mudar a forma de.

Bom, os menos preocupados com estas grandes questões da humanidade provavelmente verão a sua levada avante, uma vez que existem casos de vocábulos que grassaram o seu caminho até à positivação no léxico português, como o 'bué', que se ostenta hoje, descarada e orgulhosamente, em qualquer dicionário, lado a lado com verdadeiros monstros da língua portuguesa como 'solilóquio', 'ósculo', ou mesmo um bom 'foda-se'.

Um termo como 'bué',  curto, fraco, de sonoridade pacóvia, deveria ter vergonha de aparecer no dicionário,  tal como o miúdo magricelas que tem vergonha de mostrar o tronco nu no balneário em frente aos outros rapazes.

A culpa é nossa, que assistimos impavidamente à marcha dos descarados.


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

By the way

Não consigo deixar de achar estúpida a frase 'Bom apetite', sempre que ma dizem. 

Por essa ordem de ideias, em vez de dizermos 'Bom jogo' ou 'Boa corrida' a quem vai jogar ou correr, deveríamos dizer antes 'Boa vontade de jogar' ou 'Boa vontade de correr'. Ou, para ir mais longe, podíamos mesmo proferir um 'Bom desejo de viver' em vez do tradicional 'Bom dia'.

É estúpido!


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

"Conoce a Paulo Ferreira?"

Um pouco de bola só para desenjoar das agruras da vida sabe sempre bem. Então quando à bola juntamos uma coisa tão rara como um jogador a encadear duas ou três frases com tino e substância, melhor ainda. Dei de caras com esta entrevista de Fernando Torres ao El País e fiquei a gostar dele, apesar de gostar cada vez menos do jogador Fernando Torres. A entrevista tem o mérito adicional de ajudar a compreender o porquê de o jogador Fernando Torres de agora ser diferente do jogador Fernando Torres de há uns anos. Fica um excerto e o respectivo link para quem o excerto tenha cumprido o propósito de aguçar a curiosidade.

"Cuando vas creciendo como jugador y siendo más importante, hay muchas cosas que se te olvidan, las dejas atrás, y él te las recordaba toda la vida. A mí ese es el vestuario que me gusta, el mantener el respeto y el grupo por encima de todo, pero trabajando. ¿Conoce a Paulo Ferreira?
P. Sí, ¿su compañero en el Chelsea?
R. Ha ganado Champions, Ligas en Portugal, en Inglaterra, ha ganado todos los títulos que se pueden ganar, y lleva allí dos años que no juega ni un minuto, y es un diez. Puedes estar acomodado, o puedes estar asumiendo tu papel, y él me enseñó eso, a decir ‘es lo que me toca ahora’. Se entrena como el que más, va a los partidos siempre con una sonrisa, siempre cerca de los jóvenes… me enseñó mucho."

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Um mamão de coisas que não gosto

Tentando não parecer muito “girly”, ou simplesmente ignorando o facto de não o conseguir deixar de  parecer ao apresentar uma rubrica destas, venho deixar-vos 5 coisas que me arreliam - sem estarem, necessariamente, por ordem de importância:

1. Malta a quem dou boleia no carro e que se põe a falar ao telefone.

Uma coisa é atender uma chamada curta. Outra coisa é atender, fazer conversa, pedir para pôr a música mais baixo porque não consegue ouvir o outro lado do telefone (esta mata-me), rir e impedir os outros ocupantes de falarem entre si ou de simplesmente aproveitarem o silêncio reinante no ambiente do carro. Apesar de não ser uma regra básica de educação, como comer de boca fechada, ou agradecer um favor, e de a minha mãe nunca me ter dito expressamente que não devia atender chamadas quando estou no carro dos outros, penso que resulta do bom senso ter cuidado com este pormenor. E isso agradeço à senhora minha mãe. Uma boa educação não deve pretender alertar os petizes para uma lista taxativa de coisas a fazer e a não fazer, mais do que isso deve tentar incutir-se no educando um sentido de bom senso, de maneira a que se adapte a cada situação. Ora, infelizmente, neste caso que falo, muitos são os meus amigos que não se apercebem do desagradável que é fazer uma viagem em que os mesmos vão a falar ao telefone, monopolizando o ambiente. Cheguei ao cúmulo, certa vez, de dar boleia a um puto, no fim do meu treino - com prejuízo do meu tempo de chegada a casa -, e qual não é o meu espanto quando o indivíduo vai ao telefone o tempo inteiro. O tempo inteiro! Já ia contrariado por levar o puto e ainda tive de ir calado e sem som o caminho inteiro. Não percebo. A história é ainda pior, tendo em conta que tomava as rédeas de um Smart.

2. Os pequenos poderes.

Falo dos poderes atribuídos a certos empregos da sociedade, nomeada e mormente, de cariz público-administrativo - mas não só - que são exercidos de forma arrogante e provocadores de alguma revolta. É a mulherzinha das Finanças, o funcionário do Consulado, o porteiro da discoteca, o segurança da cancela, o polícia, etc.

A arrogância que daí provém apenas prova a frequência com que os mesmos são sodomizados. Prevê-se, ou espera-se, que a frequência seja diária.

3. Taxistas

Na verdade é uma relação de amor/ódio. Não posso com eles, mas não passo sem eles. Estes seres altamente desprezíveis alimentam o seu ego com as pequenas vitórias do trânsito. Estes gajos farejam um pisca! Se pressentem que vamos mudar para a faixa deles, põem uma abaixo como se a vida dependesse disso e não nos deixam passar. Tomei-lhes o gosto por lhes fazer o desgosto. Mudo rapidamente, não ponho pisca, entro no jogo deles. Se perco não fico chateado. Se ganho, eles ficam. Dá-me um certo gozo, confesso. Por outro lado, não me custa deixar passar ninguém para a minha faixa.

Do outro lado da moeda, algum taxista blogger, que faça uma rubrica semelhante, há de escrever que uma das coisas que odeia são “Xadões”. O Xadão, quando vai do lado de dentro do táxi, espreme o condutor até que o mesmo não possa mais com ele.

Às vezes o espremer é apenas psicológico.

4. ABBA

Ódio visceral e ligeiramente inexplicável (e exagerado).

Prefiro comer feno o resto da vida a ver uma vez o Mamma Mia.

5. Esperar.

No trânsito. Na bilheteira do cinema. Nas Finanças. No médico, cá em baixo pela namorada, no metro, por uma nota, por receber um presente, por dar um presente, pela comida num restaurante, por uma resposta, por uma pergunta, pela hora, pelo microondas, pelo programa que vai começar, pelo site que não abre, pelo zapping que é lento, para ir à casa de banho, para sair de casa, pela minha cadela que chamo e não vem, pelos números do euro milhões, pelo começo e pelo fim do jogo, por uma oportunidade, por uma mensagem, pelo sono, pelo tempo que não chega nem se anuncia e de repente já lá vai.

Não gosto de esperar.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Bate-boca

Parlamento:

Passos Coelho ataca a bancada do PS. O Secretário-Geral do PS responde dizendo que o PM falhou as metas propostas e mais umas quantas inutilidades. Passos Coelho ri-se. António José Seguro, de forma demagógica, diz-lhe para ele não se rir dos portugueses. Passos Coelho levanta-se para intervir novamente e profere, simplesmente, o seguinte:

Sr. Deputado, eu não me rio da situação a que o país está exposto. Rio-me, evidentemente, da sua intervenção.

E senta-se.

Matem-me, mas eu gosto deste gajo.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

"é apenas uma questão de tempo"

Ponto prévio: não sou daqueles maluquinhos da publicidade que julgam que mudam o curso da história da humanidade com spots publicitários de meia dúzia de segundos e duas dúzias de caracteres, ou vice-versa. Aprecio um bom anúncio de televisão como qualquer um de vocês mas irritam-me solenemente os anúncios que, sob o manto fornecido por uma boa música e algumas imagens icónicas, dizem barbaridades inimagináveis como se de revelações inspiradoras se tratassem.

Vem isto a propósito de um escarro publicitário da Renault que o zapping lá de casa me tem cuspido na tromba diariamente a um ritmo de 3 a 4 vezes por hora. A receita é a tal que todos conhecemos e que - sejamos sinceros - aprendemos a apreciar: uma boa malha - de preferência já com alguns anos, para dar aquele sentimento nostálgico do tipo "eu já ouvi isto! Isto é um grande som!! Quem é que cantará?"; as tais imagens que carregam consigo aquela carga icónica, seja por retratarem momentos marcantes da história, seja por retratarem personagens também elas marcantes. Neste caso eles até foram mais longe - crédito para eles! - e foram bsuscar imagens dessas mesmas personagens antes de elas se tornarem naquilo que agora justifica que apareçam no anúncio. "Bem jogado foda-se!", pensei eu quando vi pela pimeira vez. E é então que chegamos à mesagem. Esse "algodão que nunca engana" em qualquer anúncio de televisão. E nesse momento decisivo deparamo-nos com um insultuoso:

Quando se nasce com certas qualidades
Ser o melhor é apenas uma questão de tempo

Cum caralho! A sério? Era isto??! Se nasceste com capacidades inatas para o que quer que seja, senta-te no sofá e espera?! É uma questão de tempo até seres o melhor?! Digam isso ao Agassi por exemplo que é casado com uma das caras desta idiotice. Ou ao Lance Armstrong, ou ao Mohamed Ali, ou ao Senna, ou ao Einstein, ou ao Cláudio Ramos, ou ao Saramago, ou ao Siza, ou a quem quer que seja.

E pronto. Era isto. Foi a minha versão do "what grinds my gears" do filósofo Griffin.