quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Fiat 500 da Claudinha


O Aníbal tinha tido um dia difícil. Não que o trabalho no banco fosse mais exigente ou em maior quantidade nesse dia, mas, simplesmente, tinha menos tempo para o fazer. A sua única filha Cláudia fazia nesse dia 19 anos e ele queria fazer-lhe uma surpresa com o Fiat 500 que tinha comprado, e que ia buscar ao stand antes de ir para casa. Já sabia que o carro novo para a Claudinha - como ele gostava de a chamar, mesmo já tendo a Claudinha um par de bujardas mais rodado que uma mota da Telepizza - ia dar discussão da grossa com a mulher, Zefa. O carro que Aníbal e Zefa partilhavam já tinha mais de 10 anos e já estava apalavrado que o próximo investimento familiar seria num carro novo para a família. Mas o Aníbal, pela sua Claudinha, fazia tudo e não havia berraria da sua mulher que apagasse a felicidade que Aníbal sentia ao ver o brilho nos olhos do amor da sua vida, a sua Claudinha.

Assim, terminado o trabalho para esse dia, o Aníbal meteu-se num táxi e deu as indicações para o stand, sem conseguir esconder o entusiasmo que o invadia. O Fiat 500 era tal qual ele tinha idealizado. Igualzinho à sua Claudinha: barato e rasco pequenino e cor-de-rosa. Enfiou-se no carro de brinquedo e meteu prego a fundo em direcção a casa. O lote 5B da Rua dos Ciprestes, em Almada, tinha um lugar livre exactamente em frente da porta. "Nem de propósito", pensou Aníbal. Carro estacionado e depois do lenço que trazia sempre no bolso de dentro do casaco ter percorrido o carro todo uma última vez, Aníbal correu para o elevador. Entre o rés-do-chão e o 5º andar olhou pelo menos três vezes para a chave do carro que tinha na mão enquanto sorria, como que a tentar antecipar na sua cabeça a reacção da sua Claudinha. Estava em pulgas o pobre do Aníbal.

Ainda assim, no momento em que Aníbal se preparava para meter a chave à porta, a sua excitação nem rivalizava com a excitação que a Claudinha estava sentir enquanto era escavacada por trás pelo Dikembe no balcão da cozinha. O Dikembe - rapaz com saúde de ferro, natural do ex-Zaire - nem acreditava no que lhe estava a acontecer. Como um simples "tem lume?" se tinha tornado nesta cavalgada na cozinha desta gaja, era algo que ele nunca iria compreender.

A primeira coisa que Aníbal - hoje conhecido no bairro como Aníbal "O Louco", por passar os seus dias a limpar um Fiat 500 cor de rosa com 17 quilómetros no contador e em que mais ninguém pode tocar a não ser ele - viu naquele momento foi um individuo de raça africana, nu, de costas, em cima duma cadeira ao fundo do corredor. A segunda coisa de que ele se lembra daquele fatídico momento é a pulseira, que baloiçava num dos pés que estavam, juntinhos, entre as pernas do tal indivíduo. Aquela pulseira de ouro, tinha sido oferecida por si à sua querida filha no dia da sua primeira comunhão e, entretanto já tinha passado do pulso para o tornozelo (um "skank alert" clarinho como água). A partir daí Aníbal já não tem imagens gravadas na cabeça. Apenas dois sons, avulsos: o primeiro, o da chave do carro novo a bater no soalho de madeira do hall de entrada. O segundo, já Aníbal ia a meio das escadas, a descer aos três degraus de cada vez, era a voz da sua Claudinha que, entretanto, deixou de reconhecer:

"Pai!! Eu já tenho 19 anos!!! DURMO COM QUEM EU QUERO E FAÇO O QUE ME APETECE!!!"


Nós sabemos Claudinha. Nós sabemos... Até fizeste uma música com esse mantra.

3 comentários:

dom manuel de manucho y manelson disse...

tenho ideia que não se chama claudinha mas mel. não sabia que ela era de almada.

e, caso não saibas, um dos autores da letra deste barulho dá pelo nome de tiago bettencourt (esse PORCO) e ele não tem mantra nenhum, faz é parte de uma banda chamada mantha.

tens de confirmar estas merdas antes de nos bombardeares com "factos".

Morales disse...

Epa, se encontraste algum facto no post...juro que foi sem querer!!

Xadão disse...

Penso também que a pulseira de ouro não foi oferta de primeira comunhão mas de Crisma. Atenção a isso!

Não obstante, gostei da fábula, digo, notícia.