terça-feira, 25 de junho de 2013

(Agora) o Morales escreve

Segunda jornada. Desci um lugar na tabela e ocupo agora o terceiro lugar. O próximo parto terá de ser uma cesariana a ferros, mas pode ser que saia. A ver vamos. (Fica o vencedor da semana).
Imagine o encontro entre um carro velho e o carro novo que o vai substituir.

Há muito que o Fusco se vinha queixando. Amuava por tudo e por nada e já não alinhava nas andanças de outros tempos. Idas noturnas à Vasco da Gama já não eram mais do que uma memória distante, ainda que saudosa, e só nas tardes de domingo é que se sentia verdadeiramente confortável.
Os semáforos da 24 de julho, onde ainda se permitia puxar pelo ponto morto, ainda que hoje isso não passasse de uma ameaça vazia de convicção. Os jardins em frente aos Jerónimos onde o sol no capot oferecia a temperatura perfeita para os quadrados encarnados e brancos que compunham o xadrez da toalha que sempre o cobria. E, para terminar em beleza, numa espécie de homenagem ao Fusco de outros tempos, a subida alucinante em direção ao Jamor, sempre a roçar os 90, com os plátanos da Pierre de Coubertin a fazerem as vezes do público que naquele passado longínquo, quando o ponteiro se atrevia a fazer o triplo da viagem, o aplaudia. Aqueles plátanos, milimetricamente espaçados, como que à espera do espetáculo que o Fusco dava todos os domingos, eram testemunhas de que a idade não o tinha quebrado. Apenas amolecido.

Mas mesmo o que amolece morre. Fá-lo de forma graciosa primeiro. Súbita quando se dá o baque.

Na chegada a casa percorreu, como sempre fez, os dois trilhos rasgados na relva pelo tempo e pela repetição. O ligeiro declive do terreno poucos centímetros antes da grande porta de metal, outrora verde tropa, agora numa mescla de cinzento escuro e verde teimoso marca a distância a respeitar para que se abrisse. Hoje o declive ficou para trás. O exato local onde Fusco sempre pôs os pés da frente antes de entrar em casa, qual cão amestrado, estava agora ultrapassado. Foi como se sentiu. Naquele momento mais do que em qualquer outro.

Está aí alguém?

Sim! Eu! Estou aqui dentro!! Quem és tu?

(Baque!)

O entusiasmo e a jovialidade próprios daquilo que é novo e moderno bateram com a força de uma bigorna em queda livre. Nesse momento o Fusco deixou de ser.

Sem comentários: