quarta-feira, 6 de março de 2013

Redknapp e Ronaldo

O Jamie Redknapp jogador assemelha-se muito ao Jamie Redknapp comentador de futebol. Em ambas as condições Jamie mostra pormenores que o levaram a ser elevado a "jovem promessa", fosse de jogador de futebol, fosse de comentador da mesma modalidade. A questão é que, se no futebol as lesões foram as principais responsáveis por Redknapp não ter feito a carreira que as suas qualidades antecipavam, no comentário desportivo parecem ser os neurónios os principais obstáculos a Jamie Redknapp se tornar num Jon Champion dos tempos modernos. Jamie Redknapp gosta de ser polémico, gosta de ir contra a maré e de mostrar que pensa pela prórpia cabeça mesmo quando isso, manifestamente, o prejudica.

Diz Jamie Redknapp, a propósito do gesto de ontem de Ronaldo em Old Trafford, que não celebrar um golo contra a antiga equipa é "rubbish" com laivos de "nonsense". Diz também que, se Ronaldo queria mostrar o seu amor pelo Manchester United, então não devia ter saído do clube. Ora Jamie, caso não te lembres, o Real Madrid pagou qualquer coisa como 96 milhões de euros pelo Ronaldo. Nos seis anos que esteve em Inglaterra, Ronaldo ganhou 3 campeonatos, 57 taças de inglaterra, 45 taças da liga inglesa, uma champions e sabe-se lá quantos prémios individuais. Ganhou! E quando se diz "ganhou" é isso mesmo que se quer dizer. Foi ele que os ganhou em primeiro lugar, uma vez que eram dele aquelas pernas que durante esse período se viam a acartar com a equipa toda às costas. Depois de ter ganho tudo, Ronaldo quis fazer o mesmo noutro lado. Porque é que ele fez isso não sei, mas desconfio que o dinheiro e a ambição de fazer o mesmo noutro lado estarão entre as principais razões. Será ele condenável por isso depois de ter feito o que fez no clube? Não me parece. Deu tudo o que tinha (que, além do mais, era muito mais do que qualquer outro conseguiria dar), ganhou tudo o que havia a ganhar e deu uma pequena fortuna ao clube quando saiu, mantendo amigos em todos quantos o eram enquanto ele lá esteve. Chegamos então ao gesto de ontem...


Ronaldo chegou ao Manchester United com 18 anos. Chegou lá um puto madeirense enfezado e desdentado e saiu, seis anos depois, com um título de melhor jogador do mundo e uma dentadura digna de ostentar em qualquer consultório de renome internacional. Durante esse tempo ele foi sempre acarinhado e encorajado pelas pessoas que se sentam naquelas bancadas, inclusivé quando em todos os outros estádios de Inglaterra o recebiam com insultos. Hoje, Ronaldo olha para aquelas bancadas e, seguramente, vê caras familiares. Caras que já festejaram dezenas de golos com ele. Que já perderam a paciência com a sua irreverência. Que já cantaram o seu nome e lhe chamaram o "Unico Ronaldo" que conheciam. Caras que ocupam aqueles mesmos lugares há muitos anos e que vêem em Ronaldo um dos grandes que já passou por aquele histórico relvado. Ronaldo vê essas caras e reconhece-as. São amigos. São aliados. Não perceber isso, e querer fazer do gesto de Ronaldo um gesto hipócrita é fácil, porque é capitalizar no descontentamento de grande parte de uma nação e dirigi-la ao alvo mais fácil: o português que marcou o(s) golo(s) da desgraça e que, dpois de marcar ainda teve o descaramento de pedir desculpa. Porque se é verdade que, em muitos casos, este não-festejo assume contornos de alguma hipocrisia e de falso protagonismo de quem não tem protagonismo nenhum, neste caso, condenar Ronaldo é condenar um gesto simples de quem genuinamente, não queria desrespeitar aqueles que fizeram dele quem ele é hoje. Não se trata de esconder a felicidade de marcar um golo. Essa existe e Ronaldo não a nega. Trata-se de não esfregar na cara daqueles que durante anos caminharam a seu lado, que agora ele caminha no sentido contrário e fá-lo às custas de quem gosta. Trata-se de respeito. Trata-se de reverência. E ver respeito e reverência em alguém tantas vezes acusada de narcisismo devia fazer com que os Jamie Redknapps da vida pensassem duas vezes antes de pegar no alvo mais fácil (a seguir ao árbitro claro).

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