Eram uma vez quatro irmãos: o Fulano, o Cicrano, o Beltrano e o Catano. O Catano era o mais novo, e fazia uma grande diferença dos outros três que, entre si, tinham pouco mais de dois anos a separá-los. Tinha nascido fora de tempo, numa altura em que o pai, Propano, achava que já não tinha gás, e a mãe, Soprano, fôlego. Ainda assim, com pouco gás e quase nenhum fôlego, o Catano lá conseguiu chegar ao mundo, sem que este no entanto lhe viesse algum dia permitir ter uma vida saudável. Enfezado por natureza, passava grande parte do tempo enfermo, no quarto, onde tinha uma guitarra velha, que foi passando pelos irmãos até lhe chegar às mãos, "viva", mas presa por um fio. Aí, praticava sem cessar, ao som de um rádio a pilhas "roubado" da mesa de cabeceira do Fulano sempre que este saía de manhã com os irmãos e com o pai para a lavoura. Passava os dias a tocar no quarto, o que fazia as maravilhas de Soprano que não só tinha a companhia do seu filho mais novo nas tarefas da casa, como tinha o prazer de ouvir as cada vez mais elaboradas canções do seu "Cataninho". Assim foi durante quase duas décadas.
Certo dia, o Catano, farto de se sentir um inútil numa vida de trabalho no campo, pôs a guitarra às costas, deu um beijo na testa de Soprano enquanto esta dormia, e saiu, sem destino, para não voltar.
Anos mais tarde, enquanto todos jantavam, ao som dos talheres a bater nos pratos, Soprano levantou a cabeça do prato repentinamente e pôs os braços por cima das mãos de Fulano e Beltrano, impedindo-os de levar o garfo à boca.
- "Shiiiiuu meninos. Deixem ouvir!" - exigiu Soprano ao mesmo tempo que apontava para a porta que dava para a sala. Desde que Catano tinha partido, tinha lá um rádio ligado todo o dia que, mais do que música, lhe dava a ilusão de ter o seu filho por perto. Cicrano, apercebendo-se da direcção que levava o indicador da mãe, levantou-se e abriu a porta. Os acordes da guitarra invadiram a sala de jantar, seguidos de uma voz que todos reconheceram instantaneamente. Soprano, com o braço ainda em riste, e os olhos esbugalhados, soltou, num misto de alívio e orgulho:
- "Esta canção é do Catano!!!!"
E não é que é mesmo.
5 comentários:
Looool
Epah,
diz-me que escreveste isto agora!
lol
Não. Está quase a fazer 2 anos que escrevi isto. Numa noite em que o desemprego e uma insónia teimosa me deram para isto.
http://www.musicforthefeople.blogspot.pt/2011/01/tallest-man-on-earth-love-is-all.html
Mas é exactamente do mesmo espírito da minha história das dúvidas. E eu nunca tinha lido isto que escreveste.
'Tá boa!
Às tantas o Catano vivia uma vída de dúvidas quanto à sua sexualidade e acabou por se transformar na Inha.
Essa rameira duvidosa!
ta muito boa!
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