terça-feira, 7 de abril de 2015

Petição chumbada


Já passou algum tempo desde que Simba, o leão da Rodésia, emigrado para Idanha-a-Nova, comeu chumbo em quantidade suficiente para não ficar para contar. Gosto de animais, gosto de leões da Rodésia. Tenho um cão e adoro o meu cão. Mas não assinei a petição. E mais, condeno ligeiramente quem o fez. E tenho vários amigos que não se fizeram rogados na hora de emprestar o nome a esta “causa”.

Primeiro, não percebo a utilidade de uma petição neste caso. Relembro que a petição, que está muito mal feita e explicada, refere o seguinte: "Pressionar para: que se faça Justiça; Sensibilizar as entidades competentes; Mobilização Nacional; Apelar à indignação”. Por um lado querem que se faça justiça, mas ou há responsabilidade (seja civil ou criminal) ou não há. Se houver, que se aja, se não houver, não será uma petição que fará o que a lei não pune. Por outro lado não há, verdadeiramente, um caminho definido para atingir os vagos fins a que se propõem. Não há um princípio, um meio e um fim. Mas as pessoas assinam. E fazem-no em barda. Dá-me genuína vontade de rir quando leio “Apelar à indignação”. Basta apelarmos a que as pessoas se indignem, para termos mais de 70 mil macacos a subscrever um papel. Genial.

Ainda assim, o que mais me causa impressão, na facilidade com que milhares de pessoas assinam uma petição, prende-se com o facto de ninguém ter procurado saber o que realmente se passou. Um cão morto à chumbada é razão suficiente para assinar uma petição, mas um cão morto à chumbada não é razão suficiente para as pessoas se perguntarem simplesmente: Porque é que foi um cão morto à chumbada?.  As pessoas confundem o resultado com o fundamento. Esta petição não visa acabar com a mania instalada em Portugal de matar cães à chumbada. E não visa porque essa mania não existe. Felizmente, não há cães a provar desnecessariamente chumbo letal todos os dias. Matar cães à chumbada não é um hobby generalizado cujo fundamento, e consequente resultado, se repugnam. Isto não é como as touradas que podem e devem (para quem as quer erradicar – eu, pessoalmente, sou a favor das touradas) ser combatidas, entre outras armas, com petições.

Se este cão foi atingido mortalmente, por alguma razão o foi. É essa razão que cumpre apurar, pois só aí poderemos condenar ou desculpar a acção de quem matou. Essa razão ninguém a quis procurar. A ninguém interessou. É curioso ver que em notícia alguma, incluindo vídeo, se vê o dono a dizer que o cão não fez nada que merecesse a chumbada. Ouve-se o dono dizer que o cão era meigo e bem treinado, mas já não que aquela chumbada em concreto não foi precedida de nenhuma acção do seu cão que pudesse merecer uma chumbada.

Não esquecer que falamos de um leão da Rodésia, raça capaz de comer uma ovelha antes do jantar.

Eu não sei o que se passou. Mas algo se passou.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Michael Sam(ba)

Apenas uma nota para dar um update sobre este post. Quando o escrevi achei mesmo que poderíamos estar perante um momento importante. Afinal não. Michael Sam ocupa hoje os seus domingos a fazer de estrela (repare-se que o estatuto de "estrela" ele não perdeu, mesmo sendo um fracassado naquilo a que se propunha fazer) dançante e não de jogador de futebol americano. E, ao que parece, leva jeito.

 

segunda-feira, 9 de março de 2015

Drop Dead

Depois das peças icónicas da Sancha ou do tricot vaginal, hoje trago mais um exemplar da série "cenas verdadeiramente inúteis que espantam pela sua espantosa inutilidade". Ao que parece há por aí um movimento iniciado por um "media artist" (não sei o que é), chamado Aram Bartholl, que consiste em assentar pens em tijolo. Sim, este homem de ascendência irrelevante, depois de ler 790 livros de espionagem da década de 80 e ver outras tantas vezes a série The Americans (que recomendo, desde que vista apenas uma vez), lembrou-se de transportar para o século XXI o conceito da Dead Drop - termo utilizado por espiões para apelidar a partilha entre si de material sensível, através de um qualquer esconderijo na rua. A diferença é que, em vez de microfilmes com imagens do programa aeroespacial norte americano, ou gravações clandestinas do telefone de um qualquer governante, aqui partilham-se cenas. Apenas cenas. Aleatórias. Arbitrárias. Estúpidas ou inteligentes, que é que interessa. O que interessa é que se partilha (voltamos à "Ditadura da Partilha" mas não entremos por aí). "E como?", perguntam vosselências, enquanto se coçam de súbita curiosidade. Através de pens que inúteis deste mundo andam a colar nas paredes das suas cidades. Ora vejam este exemplar:


Ao que parece já foram assentes em tijolo 1.500 pens por esse mundo fora e é com incontido orgulho que informo que Portugal ainda só tem uma Dead Drop. Segundo o site, está espetada ali nas redondezas do Palácio de Queluz e aguarda que algum computador lhe abra as pernas, nesta estranha mistura de kinder surpresa com glory hole. O que está na pen do Palácio de Queluz não sei, assim como não sei o que está em qualquer uma das outras. Desconfio que os virus encontram nas Dead Drops locais muito acolhedores para se estar e, por isso (e só por isso) não vos desafio a irem lá espetar o vosso portátil na parede. Mas já agora, se alguém lá for, mijem-lhe para cima fds!

segunda-feira, 2 de março de 2015

Gone 4,5€

Este Domingo dormi. Dormi dez horas na cama e algumas dez sestas no sofá. Chegada a noite, não dormi. Eram 01:45h e alugo um filme: “Gone Girl”.

Tinha ouvido falar bem e tem 8.2 no IMDB - o que é uma nota muito alta, tendo em conta a escala de 1 a 10 e a quantidade de votos (mais de 330.000).

É um filme que tem tudo para ser bom, pois o argumento é bastante original, mas, no final de contas, não é bom.

Em primeiro lugar, não posso deixar de referir a sublime entrega de Ben Affleck para interpretar este papel, onde teve de retirar toda a rede nervosa do seu corpo, bem como de se submeter a um tratamento cerebral, à base de choques eléctricos, os quais interrompem todas as ligações do cérebro encarregues da manifestação de sensações, de maneira a que nem uma só emoção nos pudesse ser transmitida ao longo das mais de duas horas de filme. Vejamos:

Ben Affleck aparece na primeira cena, no bar da irmã, desanimado, porque o seu casamento está em crise.

Ben Affleck chega a casa e depara-se com um cenário de rapto da mulher, o que não lhe muda o semblante.

Dá-se um flashback para o momento em que Ben Affleck conhece a mulher pela primeira vez. Pela expressão de Ben Affleck, só podemos concluir que ele viaja no tempo, pois é o mesmo impávido Ben Affleck que aparece nos idos tempos do ardente início de uma paixão.

Volta-se ao presente, confirma-se o rapto e Ben Affleck continua a beber chá e a comer biscoitos.

Mais, Ben Affleck apercebe-se que a mulher o pode estar a tentar incriminar ao simular o seu próprio rapto/homicídio e a ataraxia mantém-se.

Ben Affleck aside, o que mais me intriga nem é o mesmo ser viciado em Ritalina, mas sim um punhado de pormenores inverosímeis que tornam a história, numa fraca história. Para além de uma estranha falta de pânico entre Ben Affleck, a irmã e os pais da raptada, há uma série de perguntas para as quais não tenho resposta.

Se o plano de Amy seria suicidar-se para que, com o surgimento de um cadáver, não houvesse dúvidas de que o marido a matou, porque não o fez logo? Porque ficou transtornada quando lhe roubaram todo o dinheiro naquele motel? Porque teve de ligar ao ex-namorado? Se o plano era matar-se, a falta de dinheiro não me parece um problema. E relativamente ao namorado, acho frágil a razão pela qual ele alinhou na história de não contar nada à polícia. Mas enfim, deixo passar essa.

Ela lá volta a casa, e Ben Affleck, a quem a anestesia geral ainda não passou, sabendo que estava casado com uma psicopata, aceita enfiar-se no banho com ela. Diz que vai sair de casa, ao que ela responde que não deixa porque se ele o fizer o destrói em praça pública. E é aqui que tudo desaba irremediavelmente. 

Pois claro, é mesmo o que me preocupa quando estou casado com o Chucky, que me tentou incriminar da própria morte, pelo caminho matou uma pessoa e, vim a saber, já tinha destruído a vida a um outro namorado. Claro que, neste caso, a minha maior preocupação é o que a opinião pública vai pensar de mim. Antes dormir na mesma casa que uma tarada maníaca homicida, do que ter o Cláudio Ramos a dar-me nota negativa nos “Assuntos da Semana” da revista Caras.

Passadas cinco semanas, ela fica grávida. O que seria a tal razão verosímil para Ben Affleck não se ir embora, acontece cinco semanas depois. Nessas cinco semanas, as quais fazem tanto sentido no filme como respeitar o zigue-zague duma fila de check-in do aeroporto quando somos os únicos no guichet, a interacção entre o casal é absurda.

Ela acorda de manhã a fazer-lhe panquecas, ao que ele, simplesmente, aceita. Ela apanha-o, noutra vez, acordado a meio da noite, a olhar pela porta da rua. Pede para ele ir para a sua cama e oferece-se para lhe aconchegar os lençóis. Ele acede. Já deitadinho na cama, o pequeno Ben diz que ainda não se sente à vontade para dormir com a mulher e esboça um esforçado sorriso. "I need more time!". I need more time? Para quê? Para restabelecer a confiança na mulher que o tentou incriminar, que matou outra pessoa e que destruíu uma terceira? 'O tempo cura tudo' não é uma expressão absoluta, Ben. Há merdas que o tempo não cura. Como por exemplo o Holocausto, a bomba atómica, o engano do Humberto Bernardo e a nossa própria mulher simular o seu rapto/homícido para nos incriminar. Ou disseste aquilo para despachar a patroa porque te deu o sono? Qualquer uma delas não faz sentido.

Vale-nos uma Emily Ratajkowski, que entra no filme não como actriz, mas como modelo. Serve, também, este filme, para confirmarmos que Emily Ratajkowski é podre de boa, mas não é bonita.

Nisto, gastei 4,5€. Acho caro. Especialmente para umas mamas que vejo todos os dias na internet.



terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

All rise!


Confrontado com algumas queixas de que os homens salpicam o chão quando fazem o n.º 1, viu-se um tribunal alemão obrigado a pronunciar-se sobre esta complexa questão. A sentença escreveu que mijar em pé (desculpem mas não tem outro nome) é um direito que assiste aos homens.


Agora reparem que a notícia diz que há casas de banho na Alemanha onde já é proibido despejar em pé. Mas o que é isto?! Onde é que esta malta quer chegar? Para onde caminhamos?

É isto obra dos movimentos feministas com inveja dos homens que passam pelas inevitavelmente intermináveis filas das mulheres para os WC nas discotecas e noutros eventos? É isso?

Falando sério, eu percebo que se queira, e se deva, pugnar por um paralelismo entre homens e mulheres, mas isto é caminhar para a convergência.

E desculpem-me, mas eu não quero estar cá quando os pontos convergirem.

A decisão do tribunal alemão é uma má decisão. Errada. 180 graus ao lado. Mijar em pé não é um direito dos homens, é um dever.




quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Tiger

Não deve haver uma pessoa no mundo desenvolvido que não conheça o nome Tiger Woods. Mesmo não acompanhando a sua carreira, todos sabemos que é um dos melhores de sempre e que, por onde anda a jogar, arrasta multidões. Além de ser um golfista excepcional tem o indiscutível mérito de ter transformado (nos EUA) um desporto considerado elitista num desporto de massas. É até curioso ver como um certo declínio que o golfe está a viver (são vários os relatórios que apontam para uma descida sustentada do número de participantes a nível global) coincide com o declínio de Tiger, despoletado há meia dúzia de anos com o escândalo de infidelidade (em massa) em que se viu envolvido. Quem, como eu, não acompanhava golfe, nem tão pouco se interessava pelo desporto (no meu caso é sempre uma questão de tempo) sabe quem é Tiger mas não viveu quem é Tiger. É por isso que o vídeo abaixo é impressionante. Porque mostra de forma escandalosamente clara o que foi o fenómeno Tiger. Um pouco de contexto apenas: este vídeo passa-se em 1997. Nele vemos um Tiger de 21 anos, no seu ano de estreia no PGA, em que contava com 3 vitórias em 10 torneios disputados. Não tinha ganho ainda nenhum major (hoje tem 14, menos 4 que o recordista Jack Nicklaus) e já gerava este ambiente por onde passava. No vídeo "só" vemos uma tacada, mas o que se passa à volta dele é assustador. Isto não era golfe. Isto era outra coisa qualquer.