segunda-feira, 2 de março de 2015

Gone 4,5€

Este Domingo dormi. Dormi dez horas na cama e algumas dez sestas no sofá. Chegada a noite, não dormi. Eram 01:45h e alugo um filme: “Gone Girl”.

Tinha ouvido falar bem e tem 8.2 no IMDB - o que é uma nota muito alta, tendo em conta a escala de 1 a 10 e a quantidade de votos (mais de 330.000).

É um filme que tem tudo para ser bom, pois o argumento é bastante original, mas, no final de contas, não é bom.

Em primeiro lugar, não posso deixar de referir a sublime entrega de Ben Affleck para interpretar este papel, onde teve de retirar toda a rede nervosa do seu corpo, bem como de se submeter a um tratamento cerebral, à base de choques eléctricos, os quais interrompem todas as ligações do cérebro encarregues da manifestação de sensações, de maneira a que nem uma só emoção nos pudesse ser transmitida ao longo das mais de duas horas de filme. Vejamos:

Ben Affleck aparece na primeira cena, no bar da irmã, desanimado, porque o seu casamento está em crise.

Ben Affleck chega a casa e depara-se com um cenário de rapto da mulher, o que não lhe muda o semblante.

Dá-se um flashback para o momento em que Ben Affleck conhece a mulher pela primeira vez. Pela expressão de Ben Affleck, só podemos concluir que ele viaja no tempo, pois é o mesmo impávido Ben Affleck que aparece nos idos tempos do ardente início de uma paixão.

Volta-se ao presente, confirma-se o rapto e Ben Affleck continua a beber chá e a comer biscoitos.

Mais, Ben Affleck apercebe-se que a mulher o pode estar a tentar incriminar ao simular o seu próprio rapto/homicídio e a ataraxia mantém-se.

Ben Affleck aside, o que mais me intriga nem é o mesmo ser viciado em Ritalina, mas sim um punhado de pormenores inverosímeis que tornam a história, numa fraca história. Para além de uma estranha falta de pânico entre Ben Affleck, a irmã e os pais da raptada, há uma série de perguntas para as quais não tenho resposta.

Se o plano de Amy seria suicidar-se para que, com o surgimento de um cadáver, não houvesse dúvidas de que o marido a matou, porque não o fez logo? Porque ficou transtornada quando lhe roubaram todo o dinheiro naquele motel? Porque teve de ligar ao ex-namorado? Se o plano era matar-se, a falta de dinheiro não me parece um problema. E relativamente ao namorado, acho frágil a razão pela qual ele alinhou na história de não contar nada à polícia. Mas enfim, deixo passar essa.

Ela lá volta a casa, e Ben Affleck, a quem a anestesia geral ainda não passou, sabendo que estava casado com uma psicopata, aceita enfiar-se no banho com ela. Diz que vai sair de casa, ao que ela responde que não deixa porque se ele o fizer o destrói em praça pública. E é aqui que tudo desaba irremediavelmente. 

Pois claro, é mesmo o que me preocupa quando estou casado com o Chucky, que me tentou incriminar da própria morte, pelo caminho matou uma pessoa e, vim a saber, já tinha destruído a vida a um outro namorado. Claro que, neste caso, a minha maior preocupação é o que a opinião pública vai pensar de mim. Antes dormir na mesma casa que uma tarada maníaca homicida, do que ter o Cláudio Ramos a dar-me nota negativa nos “Assuntos da Semana” da revista Caras.

Passadas cinco semanas, ela fica grávida. O que seria a tal razão verosímil para Ben Affleck não se ir embora, acontece cinco semanas depois. Nessas cinco semanas, as quais fazem tanto sentido no filme como respeitar o zigue-zague duma fila de check-in do aeroporto quando somos os únicos no guichet, a interacção entre o casal é absurda.

Ela acorda de manhã a fazer-lhe panquecas, ao que ele, simplesmente, aceita. Ela apanha-o, noutra vez, acordado a meio da noite, a olhar pela porta da rua. Pede para ele ir para a sua cama e oferece-se para lhe aconchegar os lençóis. Ele acede. Já deitadinho na cama, o pequeno Ben diz que ainda não se sente à vontade para dormir com a mulher e esboça um esforçado sorriso. "I need more time!". I need more time? Para quê? Para restabelecer a confiança na mulher que o tentou incriminar, que matou outra pessoa e que destruíu uma terceira? 'O tempo cura tudo' não é uma expressão absoluta, Ben. Há merdas que o tempo não cura. Como por exemplo o Holocausto, a bomba atómica, o engano do Humberto Bernardo e a nossa própria mulher simular o seu rapto/homícido para nos incriminar. Ou disseste aquilo para despachar a patroa porque te deu o sono? Qualquer uma delas não faz sentido.

Vale-nos uma Emily Ratajkowski, que entra no filme não como actriz, mas como modelo. Serve, também, este filme, para confirmarmos que Emily Ratajkowski é podre de boa, mas não é bonita.

Nisto, gastei 4,5€. Acho caro. Especialmente para umas mamas que vejo todos os dias na internet.



4 comentários:

Morales disse...

Ontem vi isto, finalmente.

Percebo a maioria do que dizes. O Ben continua a ser um mau ator, sim. A razão por que ela não se mata logo tb me escapa, embora acredito que no fundo ela simplesmente não quisesse morrer. Parece-me natural, embora no filme isso nunca tenha transparecido.

Quanto a ele ficar com ela, acho que a unica razao plausivel era porque ele era completamente dependente dela. Sem ela o gajo era um merdas, sem guito, sem nada, só com uma gaja boa mas que, concordo, afinal nem é assim tão gira.

O filme deixa muitas dúvidas de facto. Ainda assim acho que vale a pena ver, pq numa coisa o Fincher é inigualável. As cenas de suspense tão muita bem feitas. Há ali duas ou três cenas em que um gajo tá agarrado à cadeira e (trent reznor ajuda muito com a banda sonora). A minha mulher por exemplo, cedeu à pressão e a certa altura nao aguentou mais. Depois voltou passado uma hora e chegou mesmo na hora em que o pescoço de Neil Patrick Harris é apresentado ao xizato...lol

O grande mérito do filme é apresentar-nos a personagem Tanner Bolt na minha opinião. Fds o gajo comanda todas as cenas em que aparece! Um Boss com B grande que me deixa ávido por uma sequela disto só para o poder rever. Muito bom!!

Xadão disse...


Concordo contigo que o filme tem várias coisas boas. Mas o problema é precisamente esse. Eu achei genial o argumento e as minhas expectativas cresceram de tal maneira que quando me vem a cena do banho eu não queria acreditar. Fiquei desiludido na mesma proporção.

Não acho razoável fundamentar a reacção de Ben Affleck na dependência que o mesmo teria da mulher. É que é o próprio quem começa por dizer que se vai embora.

Basicamente, estragaram um filme que podia ser genial. E é aí, meu caro, é aí que a porca torce o rabo.

Nunca me ouviste criticar o fim do Sharknado, por exemplo. Antes pelo contrário, a única coisa boa desse filme é que tem fim.

Morales disse...

Estamos de acordo. Podia ser melhor feito aquilo.

Outra que me escapou: se a lake house estava cheia de cameras que gravavam tudo, porque raio é que o alibi dela de que tinha sido feita refem e violada havia de pegar?? Se é verdade que as cameras filmaram a cena em que ela rega a birilha de vinho e faz aquela atuação junto ao vidro como quem está em profundo sofrimento, por que raio é que não filmaram tudo o resto? Desde eles a verem o programa na tv, a ela matar o gajo? Devemos assumir que ela editou os vídeos de 50 câmeras que estao a filmar 24/7 durante 5/6 dias? E se ela fez desaparecer toda essa "fita" isso não é suspeito??

Xadão disse...

Hmmm, verdade, verdade. O filme tem muito ainda por esmiuçar.

Quanto a essa parte das câmaras, confesso que também achei que ela se safou facilmente. Ou seja, com pouco planeamento, conseguiu que ninguém duvidasse da alegada legítima defesa.

Mas pegando exactamente no que disseste, no teu argumento em concreto, não sei se é por aí. É que eu acho que as câmaras eram apenas de exterior. Daí ela ter ido a rastejar para uma janela, para poder ser vista pela câmara.

De qualquer maneira, acho que ela se safou muito facilmente.