Há uma coisa que não percebo.
Todos os animais têm alguma coisa que os
ajude naquilo que precisam. Os leões precisam de caçar, o Senhor deu-lhes
dentes, garras e camuflagem. Deu menos tamanho às chitas, porém mais
velocidade. Deu visão às águias, veneno às cobras. Sem mais veneno na hora de
fazer as jibóias, encheu-as de músculo. E por aí em diante.
Mais abaixo na cadeia alimentar, os
caçados também têm com que se defender.
O elefante tem tamanho, tal como a girafa. E ao elefante ainda lhe deram
dentes, não vá um leão mais tarado querer atacá-lo. O gnu tem cornos, o
rinoceronte, chifres. Até a merda das springboks
têm uns corninhos amorosos que sempre podem ajudar para qualquer coisa.
Parece tudo fazer sentido num equilíbrio
que é necessário.
Sucede que chegamos a um animal em que
apenas podemos concluir que Ele fuma charros. Que bicho é esse? A zebra.
Sim. É suposto a Zebra fazer exactamente o
quê com aquilo que lhe deram?
Não é especialmente rápida, não é
especialmente grande, nem forte, nem ágil. Cornos não tem, veneno não tem,
dentes só mesmo para mastigar a relva. Um pobre cavalo coitado no
meio de uma selva infestada de leões, crocodilos, hienas, chitas, leopardos.
Mas o que me faz mais impressão nem é isso
tudo. O que me faz mais impressão é como a vestiram. Só dá para rir cada vez
que imagino a zebra vestida às riscas pretas e brancas (às riscas!!) a tentar confundir-se no
meio da bicharada. É o mesmo que a Paula Bobone tentar passar despercebida numa
loja da Coronel Tapioca.
Imagino a reacção da zebra quando fizeram
a distribuição dos outfits. Incrédula,
dois minutos de boca aberta, a olhar para o que lhe deram. E mais ainda quando
vê o resto do pessoal a equipar-se para a guerra. Olha para o lado, e um
elefante a entrar numa pele grossíssima, a tartaruga com um escudo nos
costados, o gnu a pôr os cornos e ela com um vestido da Mango.
Leio a Wikipedia na busca de um sentido
para aquelas riscas disruptivas duma paisagem seca. Ninguém sabe bem. Várias
teorias se perfilam. Pois bem, não me atirem areia para os olhos. Para mim, não
passa de um momento de relaxe do Senhor - em milhões de anos, coitado, também
tem direito. E provavelmente só não mandou a zebra vestida de Carmen Miranda cá
para baixo, porque Nossa Senhora Lhe entrou pelo quarto adentro e pôs travões
na brincadeira. Apeteceu-Lhe debochar na zebra. Só pode ser isso. É gozo, é
brincadeira, é reinação do Criador.
Sim, a mim não me enganam. A zebra é puro
escárnio divino.
* a sério, não brinquem comigo!
2 comentários:
Não estás, portanto, familiarizado com o Okapi! Reinação, distração, indecisão, não sei... A coisa não correu bem, excepto o nome.
"Although the okapi bears striped markings reminiscent of zebras, it is most closely related to the giraffe"
http://en.wikipedia.org/wiki/Okapi
A primeira vez que vi um Okapi, e atenção que eu já fui a África, foi em Sete-Rios, há uns bons dez anos. Fiquei, de facto, intrigado.
Parece que, nesse bicho, o Senhor estava a jogar aquele jogo que havia no Super Mario, tipo slot machine, em que as partes das peças passavam muito rápido e tinhas de tentar encaixar a parte de cima, com a do meio e com a de baixo, para não ficares com uma combinação tipo: estrela, cogumelo, flor.
Ora, o Senhor estava a jogar isso com animais. Calhou girafa, cavalo, zebra.
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O nome, como tu dizes, esse acertou em cheio.
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