quinta-feira, 4 de julho de 2013

No other way

A dívida externa não se paga. Disse, talvez por outras palavras, o filho da puta - que é normalmente apelidado, porventura quando há senhoras de respeito em redor, por Sócrates.

Concordo, a dívida é impossível de pagar. Pensei, então, para mim, enquanto roçava meu amaciado turco por espalda acabada de banhar, “Se não vamos pagar, mais vale sair do euro, cagar nestes gajos e cá nos governamos entre nós, no mercado interno.”. Logo pensei que isto não é possível num país que não seja auto-suficiente (ou que seja dependente), como é o nosso caso. E não digo isto porque ache que nenhum país dependente possa ter as contas em dia. Isso é possível. Esquecendo a dívida e partindo do zero, se eu tenho milho e preciso de gasolina e azeite, basta-me, para ter as contas certinhas, produzir milho suficiente para que a exportação deste pague a importação daqueles. Puerilmente explicado, é isto que se passa.

No entanto, o nosso caso é diferente. Nós somos dependentes e não temos as contas em dia. Quer isto dizer que se um dia disséssemos simplesmente “Não pagamos!” (como certos rénios já o propuseram) e voltássemos ao nosso escudinho, basicamente estávamos fodidos. A palavra é esta: fodidos. Não porque a dívida aumentaria para níveis perto do dobro (porque a nossa moeda não valeria nada), pois a partir do momento em que a intenção é não pagar, tanto faz se a dívida é 10 ou 20. O que aconteceria, pensando em termos práticos, era muito simples:

“Ai os Tugas não pagam? Ai é?! Ok, muito me contam.” – diz a Dona Germânia.

E levantando-se da mesa, bate repetidamente com a colher no copo e diz o seguinte:

“- Malta fixe!! Peço atenção!! Oi, atenção!!! Gália foda-se, estou a tentar falar!!!!
- Peço desculpa chefe, é que a Romana e a Britânia estão a dizer que eu cheiro mal.
- Já te expliquei que perfume não é sabão, Gália. Depois admiras-te. Enfim, adiante!
- A partir de hoje ninguém faz turismo em Portugal! Ninguém lhes vende os nossos produtos, nem ninguém lhes presta qualquer tipo de serviço. Escusado será dizer que ninguém lhes compra nada. Quer dizer, até podem comprar, desde que não paguem.”

E cá ficaríamos nós, abandonados à cortiça e aos sapatos, acumulando stocks de rolhas e solas até o último fechar a porta. 

E isto numa versão bem soft, da história.

Ou seja, não há outra saída que não a de pagar o que devemos. Mesmo que não se pague o capital, pois todos sabemos que é impossível, pagam-se os juros. E com isto ainda há dinheiro e economia. No entanto, (i) se a única solução é pagarmos, porque precisamos dos credores, e (ii) se para nos endireitarmos, de maneira a poder pagar, precisamos de mais dinheiro emprestado, então (iii) resta-nos sujeitarmo-nos às regras de quem nos empresta dinheiro. E essas regras, como já vimos, vão no sentido da austeridade. Neste momento não temos autonomia. Temos directivas para cumprir e muito pouco poder discricionário para as atingir. O caminho que nos dão é muito estreito e não permite grandes passos para o lado.

As palavras de um amigo meu, no seguimento das demissões de Gaspar e Portas, resumem bem o que quero dizer:

“O mercado ontem disse que sem austeridade, com desgoverno e abandono do caminho que levamos, num só dia tornamo-nos infinanciáveis, os nossos bancos tornam-se ingeríveis e o Estado ingovernável.”.

Não é uma questão de ser de direita, de centro ou de esquerda, é uma questão de ser realista. Sem o que temos vindo a fazer é isto que acontece: o caos! Ponto final.


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