segunda-feira, 17 de setembro de 2012

"You fucking black cunt!"


É a discussão do momento em Inglaterra. O aperto de mão que não aconteceu entre John Terry e Anton Ferdinand (e, já agora, entre este e Ashley Cole que disfarçou de forma brilhante escarrando para o lado um bocado do seu amor próprio). O não-acontecimento - em que JT, de resto, é especialista -, ainda assim, não parece ter despoletado a discussão que se exigia, mas antes uma discussão paralela e completamente aberrante. Repare-se que o que se dicute agora não é se Anton fez bem, ou se Terry é um urso (aqui percebo que já não haja grande coisa a discutir) ou se as manifestações de racismo dentro de campo deveriam ou não ser banidas e como (sobre isto teria muito a dizer mas fica para uma outra altura). Aquilo que se dicute é - pasme-se! - se se devia acabar com este momento de cortesia e desportivismo pré-jogo que é o aperto de mão entre as três equipas que estão envolvidas. "Why are we shaking hands with people we are about to go to battle with?", pergunta Alan Shearer do alto da sua imbecilidade ao mesmo tempo que apresenta provas assustadoramente convincentes de que o excesso de cabeceamentos numa bola pode ter efeitos nefastos a longo prazo no que diz respeito à capacidade de raciocínio. Sem entrar sequer no facto de se chamar a um jogo de futebol uma "batalha" acho que a resposta não é dificil de alcançar. Porque não somos bichos Alan! Pela mesma razão por que tu não podes chegar à redacção do Sun e mijar na secretária do gajo do lado - já chega o que mijas para as páginas do jornal! Porque um jogo de futebol é isso mesmo: um jogo! A não ser quando durante o jogo alguém perde as estribeiras e trata aquilo como se fosse uma batalha. Nesses casos, se o jogador que for visado por uma atitude que ele considere ofensiva optar por daí em diante não dirigir mais a palvra ao agressor é com ele! Não é com a federação inglesa de futebol com certeza! Se Anton Ferdinand levou a peito o "you fucking black cunt!" que JT inocentemente disparou é com ele. Chega-se ao cúmulo de um insulto racista ser a causa para se abolir um gesto de desportivismo como é o aperto de mão antes dos jogos. Sou só eu que vejo a inversão de valores que está presente nesta discussão? Isto é como eliminar o primeiro ciclo de escolaridade porque um dia uma criança no caminho de escola para casa foi violada por um velho. Mas faz algum sentido as crianças irem à escola quando este mundo anda cheio de velhos depravados?

5 comentários:

Xadão disse...

É uma discussão um bocado estúpida, realmente. E, a meu ver, é pegar mal no problema (se é que existe). Para evitar que haja gajos que não se cumprimentam, o melhor é ninguém se cumprimentar de todo. É estúpido! Também há gajos que não cantam o hino ou que não respeitam os minutos de silêncio e essa discussão não se põe.


Estou muito interessado em ver o que escreverás sobre o racismo. É que aí também tenho muito a dizer. A começar pelo facto de achar que dão demasiada importância à coisa. Se eu chamar filho da puta a um jogador é tudo tranquilo, se o chamar de preto, a casa vai abaixo, o árbitro acaba com o jogo e o clube tem de jogar à porta fechada.


Isto é relevar aquilo que não o devia ser. Ainda perdura nas pessoas o peso que a palavra "preto" em tempos acarretou.


Felizes as putas, cujo estigma social - para Platini and friends - é irrelevante ao pé do de um negro.

Morales disse...

Epa se houver gajos que não se querem cumprimentar que não se cumprimentem fds. Porque raio é que a Premier League há-de ter uma palavra a dizer nisso? É que o que me faz confusão é que, a concretizar-se a abolição, é a federação a dizer que o racismo se sobrepõe ao civismo. "Estes gajos são uns porcos racistas, mas como nós não podemos evitar que eles sejam uns porcos racistas, mais vale evitar que os porcos racistas se cruzem." Isto faz algum sentido?

Quanto ao racismo, estamos mais ou menos alinhados. Mas eu não estou muito seguro da minha posição. Aliás até tenho uma história louca sobre isso que um dia destes ponho aqui. A minha questão é que as palavras têm um significado quer queiramos quer não. E os insultos racistas têm-no mais ainda que as outras, diria eu. É como dizer que o Queiroz não fez nada de mal quando insultou o Luis Horta do controlo anti-doping antes do mundial da Africa do Sul. Que insultos sempre houve e que o outro gajo é que foi um xoninhas. Dps vai-se a ouvir o que ele disse: "Vai mas é fazer controlos anti-doping para a cona da tua mãe!". WOW!?!?!! That escalated fast...lol

Basicamente, e como se pode ver, teria muito a dizer mas não sei bem se chegava a alguma conclusão.

Xadão disse...

A questão do Queiroz é diferente. Não se espera que um treinador insulte quem quer que seja, muitos menos em declarações a frio em horário extra-competição.

Quanto aos insultos racistas, a minha questão está em que os mesmos são feitos no âmbito de um jogo que decorre. E aí tens de separar adeptos de jogadores. Quanto aos adeptos, não há nada a fazer e por muito desejável que fosse que ninguém chamasse nomes a ninguém, aquilo é futebol e é um descarregar de emoções que é feito daquela maneira há já muitos anos e desde que não haja violência física, acho que não há nada a fazer. Cada um diz o que quiser e como quiser. Isto é, não há que distinguir se andou a chamar de preto, branco, paneleiro ou fdp. Quando se mandaram melões ao calado, não vi a FIFA mandar vir por segregarem os paneleiros. A meu ver é tão grave (ou tão irrelevante) chamarem paneleiro ou preto (ou branco).

Se os insultos forem entre jogadores, acho que aí já é mais lamentável, uma vez que se trata de ética profissional, etc. Mas ainda assim, tanto faz chamar preto como paneleiro. Seria punido na mesma.

Enfim, entendo-te quando dizes que é difícil chegar a uma conclusão segura e bem definida. Mas eu penso que é um erro defenderem a luta contra o racismo desta maneira. Dão importância a insultos de adeptos. Toda a gente sabe que insultos de adeptos são isso mesmo, insultos de gente irracional, cega pelo facciocismo. Não há que os valorar.

Xadão disse...

ps: chamo irracionais aos adeptos, não como crítica negativa, mas apenas como uma descrição natural da figura do adepto. Também eu, enquanto adepto, sou irracional.

Morales disse...

Nem me refiro a adeptos. Há e haverá sempre ursos em grande quantidades nos estadios de futebol e quanto a isso acho que só o progresso civilizacional é que trata de chutar pa canto essa gente. Referia-me apenas a insultos entre jogadores e, nesses casos, acho que, no calor do momento se faz muita coisa de que os próprios se arrependem. Os insultos racistas têm de facto um "tratamento especial" mas scalhar justifica-se que tenha, precisamente para haver alguma pedagogia para fora. Mas agora, não me venham dizer que o problema é o aperto de mão fds.

Enfim, um assunto a revisitar...lol