Este Domingo dormi. Dormi dez horas na
cama e algumas dez sestas no sofá. Chegada a noite, não dormi. Eram 01:45h e
alugo um filme: “Gone Girl”.
Tinha ouvido falar bem e tem 8.2 no IMDB - o
que é uma nota muito alta, tendo em conta a escala de 1 a 10 e a quantidade de
votos (mais de 330.000).
É um filme que tem tudo para ser bom, pois o argumento é bastante original, mas, no final de contas, não é bom.
Em primeiro lugar, não posso deixar de referir a sublime entrega de Ben Affleck para interpretar este papel, onde teve de retirar toda a rede nervosa do seu corpo, bem como de se submeter a um tratamento cerebral, à base de choques eléctricos, os quais interrompem todas as ligações do cérebro encarregues da manifestação de sensações, de maneira a que nem uma só emoção nos pudesse ser transmitida ao longo das mais de duas horas de filme. Vejamos:
Ben Affleck aparece na primeira cena, no
bar da irmã, desanimado, porque o seu casamento está em crise.
Ben Affleck chega a casa e depara-se com
um cenário de rapto da mulher, o que não lhe muda o semblante.
Dá-se um flashback para o momento em que Ben
Affleck conhece a mulher pela primeira vez. Pela expressão de Ben Affleck, só
podemos concluir que ele viaja no tempo, pois é o mesmo impávido Ben Affleck que
aparece nos idos tempos do ardente início de uma paixão.
Volta-se ao presente, confirma-se o rapto
e Ben Affleck continua a beber chá e a comer biscoitos.
Mais, Ben Affleck apercebe-se que a mulher
o pode estar a tentar incriminar ao simular o seu próprio rapto/homicídio e a
ataraxia mantém-se.
Ben Affleck aside, o que mais me intriga nem é o mesmo
ser viciado em Ritalina, mas sim um punhado de pormenores inverosímeis que tornam
a história, numa fraca história. Para além de uma estranha falta de pânico entre
Ben Affleck, a irmã e os pais da raptada, há uma série de perguntas para as
quais não tenho resposta.
Se o plano de Amy seria suicidar-se para
que, com o surgimento de um cadáver, não houvesse dúvidas de que o marido a
matou, porque não o fez logo? Porque ficou transtornada quando lhe roubaram todo o
dinheiro naquele motel? Porque teve de ligar ao ex-namorado? Se o plano era
matar-se, a falta de dinheiro não me parece um problema. E relativamente ao
namorado, acho frágil a razão pela qual ele alinhou na história de não contar
nada à polícia. Mas enfim, deixo passar essa.
Ela lá volta a casa, e Ben Affleck, a quem a
anestesia geral ainda não passou, sabendo que estava casado com uma psicopata,
aceita enfiar-se no banho com ela. Diz que vai sair de casa, ao que ela
responde que não deixa porque se ele o fizer o destrói em praça pública. E é aqui que tudo desaba irremediavelmente.
Pois claro, é mesmo o que me preocupa
quando estou casado com o Chucky, que me tentou incriminar da própria morte,
pelo caminho matou uma pessoa e, vim a saber, já tinha destruído a vida a um
outro namorado. Claro que, neste caso, a minha maior preocupação é o que a
opinião pública vai pensar de mim. Antes dormir na mesma casa que uma tarada
maníaca homicida, do que ter o Cláudio Ramos a dar-me nota negativa nos
“Assuntos da Semana” da revista Caras.
Passadas cinco semanas, ela fica grávida. O
que seria a tal razão verosímil para Ben Affleck não se ir embora, acontece cinco semanas
depois. Nessas cinco semanas, as quais fazem tanto sentido no filme como respeitar o
zigue-zague duma fila de check-in do aeroporto quando somos os únicos no
guichet, a interacção entre o casal é absurda.
Ela acorda de manhã a fazer-lhe panquecas,
ao que ele, simplesmente, aceita. Ela apanha-o, noutra vez, acordado a meio da noite, a olhar
pela porta da rua. Pede para ele ir para a sua cama e oferece-se para lhe
aconchegar os lençóis. Ele acede. Já deitadinho na cama, o pequeno Ben diz que
ainda não se sente à vontade para dormir com a mulher e esboça um esforçado
sorriso. "I need more time!". I need more time? Para quê? Para restabelecer a confiança na mulher que o tentou incriminar, que matou outra pessoa e que destruíu uma terceira? 'O tempo cura tudo' não é uma expressão absoluta, Ben. Há merdas que o tempo não cura. Como por exemplo o Holocausto, a bomba atómica, o engano do Humberto Bernardo e a nossa própria mulher simular o seu rapto/homícido para nos incriminar. Ou disseste aquilo para despachar a patroa porque te deu o sono? Qualquer uma delas não faz sentido.
Vale-nos uma Emily Ratajkowski, que entra
no filme não como actriz, mas como modelo. Serve, também, este filme, para
confirmarmos que Emily Ratajkowski é podre de boa, mas não é bonita.
Nisto, gastei 4,5€. Acho caro. Especialmente
para umas mamas que vejo todos os dias na internet.