O alarme berrava e já ninguém ouvia o alarme a berrar. A campainha, estridente e incansável, já fazia parte do som ambiente a que os ouvidos, viciados, se habituaram. O ar ondulante, que fazia a linha do horizonte oscilar de cima para baixo e de baixo para cima, desfocava a visão e invadia os pulmões de quem o permitia, devolvendo uma tosse desesperada. O desespero estava na tosse, nos olhos, no ar, no alarme que berrava mas já não se ouvia. Cada inspiração trazia uma força avassaladora que empurrava as têmporas, como se quisesse juntá-las. O som do crânio a estalar não se ouvia. Já nada se ouvia. Antes, já os joelhos tinham atingido o chão e as mãos a cabeça, puxando os cabelos com toda a força que restava para aliviar a dor. Mesmo não cedendo à força compressora que sobre si era exercida, o cérebro apagava-se em lenta agonia. A tosse trazia agora consigo restos de um organismo que capitulava sem dar luta para além daquela que só o tempo consegue dar. Quatro minutos de luta. Perdida. Sempre.
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
hoje foi ao som disto, que me levou a isto
Escrevi o texto em baixo há dois anos, quando descobri este som. Hoje alguém me enviou o som em jeito de "lembras-te disto?". Não me lembrava. Às vezes é bom um gajo esquecer-se das merdas. Há merdas que merecem ser esquecidas, só para que possam ser descobertas outra vez.
O alarme berrava e já ninguém ouvia o alarme a berrar. A campainha, estridente e incansável, já fazia parte do som ambiente a que os ouvidos, viciados, se habituaram. O ar ondulante, que fazia a linha do horizonte oscilar de cima para baixo e de baixo para cima, desfocava a visão e invadia os pulmões de quem o permitia, devolvendo uma tosse desesperada. O desespero estava na tosse, nos olhos, no ar, no alarme que berrava mas já não se ouvia. Cada inspiração trazia uma força avassaladora que empurrava as têmporas, como se quisesse juntá-las. O som do crânio a estalar não se ouvia. Já nada se ouvia. Antes, já os joelhos tinham atingido o chão e as mãos a cabeça, puxando os cabelos com toda a força que restava para aliviar a dor. Mesmo não cedendo à força compressora que sobre si era exercida, o cérebro apagava-se em lenta agonia. A tosse trazia agora consigo restos de um organismo que capitulava sem dar luta para além daquela que só o tempo consegue dar. Quatro minutos de luta. Perdida. Sempre.
O alarme berrava e já ninguém ouvia o alarme a berrar. A campainha, estridente e incansável, já fazia parte do som ambiente a que os ouvidos, viciados, se habituaram. O ar ondulante, que fazia a linha do horizonte oscilar de cima para baixo e de baixo para cima, desfocava a visão e invadia os pulmões de quem o permitia, devolvendo uma tosse desesperada. O desespero estava na tosse, nos olhos, no ar, no alarme que berrava mas já não se ouvia. Cada inspiração trazia uma força avassaladora que empurrava as têmporas, como se quisesse juntá-las. O som do crânio a estalar não se ouvia. Já nada se ouvia. Antes, já os joelhos tinham atingido o chão e as mãos a cabeça, puxando os cabelos com toda a força que restava para aliviar a dor. Mesmo não cedendo à força compressora que sobre si era exercida, o cérebro apagava-se em lenta agonia. A tosse trazia agora consigo restos de um organismo que capitulava sem dar luta para além daquela que só o tempo consegue dar. Quatro minutos de luta. Perdida. Sempre.
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