segunda-feira, 30 de setembro de 2013

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A tosquia das girafas

Hoje um amigo meu falou-me de uma empresa nova. Esta empresa auto-proclama fazer tudo. Fazem tudo! É só mandar um e-mail com o que queremos que eles enviam de volta outro e-mail com orçamento e prazo.

O site deles (http://fazemostudo.com/) é simplesmente isto:


Depois de ver isto, mesmo mais atarefado que um anão no Natal, decidi mandar-lhes o seguinte e-mail, só a ver no que dava:






"Boa tarde,

Tenho uma girafa em casa e gostaria de saber qual o orçamento e prazo
para me raparem a bicha. Mais informo que tenho um casamento no dia 5
de Outubro lá em casa e queria ter a girafa pronta até essa data, pois
a mesma vai trabalhar no valet.

Fico a aguardar resposta.

Melhores cumprimentos,
  
Lourenço Sousa Machado"

Passado meia hora, obtenho a seguinte resposta:

"Caro Lourenço,

Anexamos o orçamento para o trabalho solicitado.

Melhores cumprimentos


--
fazemos tudotudo
"

E anexam-me o seguinte orçamento (carreguem na imagem para ver melhor):




Em seguida, um dos meus amigos, que estavam no e-mail em bcc, retorque simplesmente:

"Muito profissionais. Mas pelo preço compramos mais uma girafa."

Ao que eles respondem:

"Carissimos senhores,

Nós só apregoamos fazer tudo. Não dizemos que somos baratos.
De qualquer forma verifique se por esse preço consegue uma girafa já devidamente rapada.

Melhores cumprimentos

--
fazemos tudotudo
"

Acabo a rematar a edificante tertúlia com:

"Agradeço o envio do orçamento, mas está um pouco fora do que eu
pensava desembolsar. Provavelmente faço-lhe umas tranças e aquilo
disfarça.

Obrigado pela disponibilidade, no entanto.

Melhores cumprimentos,

Lourenço Sousa Machado
"

Fui buscar lã, mas também saí tosquiado. Ainda bem!


Assim se fazem histórias para contar.



quinta-feira, 19 de setembro de 2013

João Vítor vai ao Lux

João Vítor abre os olhos de uma vez. Sem norte, sente uma dor de cabeça, a boca seca e o cheiro a tabaco impregne na roupa com que dormiu. Leva as mãos à cabeça e jura nunca mais beber, quanto mais fumar. Chega a jurar mudar de vida. Ao seu lado, de costas para ele, uma pomba que não conhece. Vocifera mentalmente por mais um engate manhoso. Questiona-se como pôde tocar naquela ave, feia, fácil, flácida. Não a acorda. Por ele, dormia eternamente. Levanta-se da cama e arrasta as patas até à cozinha. Abre o friglu: nada! Uma lata de fanta, laranja, deitada e vazia. Na gaveta de baixo, uma cerveja e duas sardinhas. Comestíveis, mas a pedirem substituição. Não lhe apetece comida normal. Tira a cerveja, fecha o friglu e atrás da porta, um maço que lhe tinha escapado. Encolhe os ombros, saca de um cigarro e abre a cerveja. Faz uma pesquisa sem foco na net, lê uns jornais, fecha e abre sites, fuma, bebe. O seu vagueio mental é interrompido por um breve arrulho. A Cláud... , Susan... , a pomb... , ela!, acorda. João Vítor, decidido, e um pinguim de palavra e convicções fortes, acaba a cerveja, dá o último bafo, levanta-se, dirige-se ao quarto, pega nos lençóis e enfia-se na cama outra vez, para uma outra vez.