segunda-feira, 8 de abril de 2013

Selva supletiva

Bonita e recém-solteira, Olívia queixa-se do pronto assédio recebido por vários. Estranha a poeira ainda ir alta e já os animais aparecerem para o festim. Um dia há de querer, estar receptiva, desejar uma mensagem, mas hoje ainda não. Por ora ainda lhe causa repulsa, sente-se sufocada por tamanho cerco. Ouço a sua história, esta história, contada por terceiro. Não consigo deixar de pensar nela como um ser alheado da realidade. A realidade é esta, a selva, o zoo, a bicheza cá em baixo. Com namorado durante anos, vivia no seu mundo, protegida do assédio daqueles que sabem que tem dono. Esqueceu-se que o zoo não se evapora, não deixa de existir. As mulheres como Olívia não sabem que o compromisso as eleva do mundo real, como um teleférico, mas que cá em baixo outros esperam as esporádicas quedas da carne que se transporta naqueles carrinhos pendurados por longos e altos fios. No teleférico há jantares românticos à sexta, sofás a dois ao domingo, almoços em família, longas horas ao telefone, autênticas temporadas na horizontal, discussões, reconciliações, mentiras e intrigas, desgaste, tempo e soluções, se vontade houver. Mas por vezes as soluções não vêm e a voltinha no teleférico acaba. Os outrora felizes utilizadores deste elevador são obrigados a descer e a voltar ao mundo que existe por defeito, o zoo cá em baixo. Bom, se lá em cima ninguém quer vir cá para baixo, rapidamente se imagina que cá em baixo todos querem subir. Mas a subida só é possível aos pares. E Olívia é cercada por este desejo da subida, cego e atropelador, existente naqueles que se encontram cá em baixo. Neste momento, enquanto recua assustada ao ver os leões babarem-se lentamente na sua direcção, Olívia não imagina o quão pouco durará para se juntar a eles e tornar-se, ela própria, um daqueles selvagens.

5 comentários:

Kiko Pedreira disse...

mta bom lourencinho, mta bom.

Morales disse...

Gostei da forma como transportaste a dualidade que existe no mundo das relações amorosas para o micro-cosmos de sete rios (lol) mas estaria a mentir se dissesse que não me fez confusão a forma como separas as coisas tão claramente. Como se fosse preto ou branco. Como se só existissem os do teleférico e os bixos, como se todos os de baixo quisessem subir (não querem).

Gostei muito da escrita, mas não me revi na mensagem confesso. Nem nos do teleférico (onde me deveria incluir) nem na selvajaria que supostamente existe lá em baixo. Mas eu sempre fui um bocado menino como sabes.

Xadão disse...

Pensei exactamente nesse aspecto de que nem todos querem subir, quando reli, agora, isto.

Mas isto não pretende ser um retrato fiel e pormenorizado da realidade.

Apenas achei piada, quando ouvi a história desta recém-solteira e pensei nela a ser atacada pelos selvagens (que existem). Nem todos são selvagens, nem todos querem subir, alguns até querem descer, etc. etc.

Foi apenas exagerar um dos vários aspectos subjacentes à dicotomia solteiros/casados.

Relativamente à tua confissão: "Mas eu sempre fui um bocado menino como sabes.", aceito-a expressamente, para os efeitos do artigo 567 do CPC, para não mais poder ser retirada.

Sucker!!

Kiko Pedreira disse...

quem é a recém-solteira, ja agora?!?!?
lol

Xadão disse...

lol, por acaso é do teu agrado..

mail!